Perspectivas suíças em 10 idiomas

Ele traduz “ficar em casa” para os imigrantes na Suíça *

Homem olhando para câmera
Mark Bamidele no estúdio da Diáspora TV em Koniz, um município próximo à Berna. African Mirrortv

Um imigrante nigeriano criou seu próprio canal de televisão e transmite em 11 idiomas para todo a Suíça através das redes sociais. Frente à crise do coronavírus e dúvidas de muitos estrangeiros, os programas se tornaram um sucesso. 

Mark Bamidele (45) é atualmente um dos mais importantes produtores de televisão no Suíça. Porém quase ninguém no mercado o conhece. A razão: o canal do empresário suíço-nigeriano transmite através do FacebookLink externo e YouTubeLink externo. Seu público-alvo: as comunidades de imigrantes que vivem na Suíça.

Quando o ministro suíço do Interior, Alain Berset, conclamou há duas semanas a população do país a manter distância entre si, Bamidele reuniu imediatamente sua equipe da TV DiásporaLink externo. No pequeno estúdio na periferia de Köniz, um município vizinho à capital Berna, os produtores, todos voluntários, começaram o trabalho. 

Em 48 horas sua equipe produziu videoclipes em onze idiomas para explicar as recomendações feitas pelo governo federal. “Fique em casa” em tigríniaLink externo (o idioma falado na Etiópia e Eritréia). “Coloque o braço na frente da boca ao espirrar”, em árabeLink externo. “Mantenha a distância do outro”, em romeno, russo, espanhol e assim por diante. O material de vídeo é retirado da campanha oficial “Como se proteger” do Departamento Federal de Saúde (BAG, na sigla em alemão).

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Os vídeos publicados no Facebook já alcançaram mais de 350 mil visualizaçõesLink externo. Um dos clipes mais clicados está em persa e foi apresentado pelo jornalista afegão Saboor Nadem. O vídeo viralizou nas redes. Foi compartilhado 64 mil vezes e recebeu mais de mil comentários. Dessa forma os vídeos da TV Diáspora ajudam a garantir que habitantes da Suíça, que não dominam os idiomas nacionais, saibam como se comportar em tempos da epidemia de coronavírus.

Só agora governo traduz informações sobre o coronavírus

Para frear a disseminação do vírus é importante a participação de toda a sociedade. E cada indivíduo deve cumprir as suas obrigações. Inúmeras vezes, os especialistas do BAG repetiram essa mensagem. Porém, apesar de muitos dos 2,1 milhões de estrangeiros residentes na Suíça não entenderem nenhum dos idiomas nacionais, o governo federal dificilmente se comunica diretamente com essas comunidades. Apenas um simples folheto informativoLink externo em alguns idiomas estrangeiros começou a ser distribuído na semana passada. 

O nível de informação dos imigrantes é também precário no que diz respeito às decisões políticas tomadas nos últimos dias. Que comércios não estão mais abertos? Que linhas de trem ainda estão circulando? Existe auxílio-doença ou outra forma de ajuda em caso de doença? Quem ajuda os trabalhadores autônomos que perderam suas rendas? Onde é possível fazer o teste na Corona? Qual é o momento certo para fazer o teste? Mesmo cidadãos suíços têm dificuldade de encontrar respostas a todas essas perguntas. E para muitas, isso é até impossível, especialmente para aqueles que ainda têm de superar uma barreira linguística e educacional, como é frequentemente o caso de muitos migrantes residentes na Suíça.

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A crise da Corona revela atualmente redes inesperadas de autoajuda. Como as autoridades são incapazes de informar rapidamente as comunidades de língua estrangeira, empreendedores privados ocupam essa brecha. Um deles é o produtor e editor-chefe da Diáspora TV, Mark Bamidele. “Me disseram que atualmente não há dinheiro para uma campanha dirigida à população estrangeira”, afirma.

Mark Bamidele cresceu na Nigéria e chegou na Suíça em 1999 como refugiado. No país formou sua família e se naturalizou em 2011. Já na metade da década de 2000 fundou a African Mirror TVLink externo, um pequeno canal voltado para a comunidade africana na Suíça e que produzia notícias nacionais e internacionais. Hoje, como editor-chefe da Diáspora TV, mantém uma extensa rede de contatos em muitas comunidades de imigrantes. Mark Bamidele sabe como alcançá-los, mas está desapontado com a indiferença do governo federal em relação a esses grupos.

Já no final de fevereiro, Bamidele procurou contato com as autoridades. “Ofereci nossa ajuda, nosso know-how, nossos canais estabelecidos nas comunidades para que o governo federal pudesse realmente alcançar os imigrantes”, explica Bamidele. O BAG reagiu de forma fria. “Me disseram que não havia dinheiro disponível no momento para uma campanha dirigida especificamente à população de língua estrangeira.”

O BAG refuta a crítica de ter ignorado as necessidades dos imigrantes. “Obviamente as autoridades tentaram traduzir o mais rápido possível as informações”, justifica Daniel Koch, chefe do departamento de Doenças Infeciosas do BAG. “Estamos em contato com os grupos da diáspora”, mas o objetivo era primeiro tentar informar à população do país. 

“Rumores e notícias falsas”

Bamidele considera incorreta essa priorização. Por um lado, pois os estrangeiros também podem adoecer e transmitir o coronavírus. Por outro, pois há muita insegurança dentro dessas comunidades. “Como muitos migrantes não recebem a informação correta, ou não a entendem corretamente, boatos e notícias falsas se espalham. Isso é perigoso”, considera Bamidele.

Esse é o tema do seu próximo projeto. Bamidele pretende produzir com seus ativistas uma série de shows ao vivo. A ideia: os telespectadores fazem perguntas sobre o coronavírus e a política das autoridades em seu próprio idioma. Uma equipe de especialistas dá as respostas durante o programa.

Quando a TV Diáspora pode começar com os shows? “O tempo passa com rapidez”, diz Mark Bamidele. “Vamos começar em breve.”

* Artigo publicado originalmente no jornal TagesanzeigerLink externo em 20.03.2020

Adaptação: Alexander Thoele

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