Mais solidariedade com a Faixa de Gaza
Maja Hess, presidente da Médico Internacional Suíça, ONG suíça atuante na Faixa de Gaza há mais de uma década, lança um apelo de solidariedade à comunidade internacional.
Segundo a médica, esta não deixe se deixar intimidar pelo ataque de Israel à flotilha que transportava ajuda humanitária.
A médica se prepara para empreender uma nova viagem à Gaza, onde colocou em funcionamento um programa de apoio psicológico à população junto com sua colega Úrsula Haus.
“O governo e o exército israelenses tentaram prejudicar as atividades de solidariedade internacional com a população de Gaza”, destaca Maja Hess em entrevista à swissinfo.
“Esse ataque à flotilha e o assassinato de várias pessoas – oficialmente dizem que foram nove, mas não sabemos se esse número é real – é uma mensagem de terror à solidariedade e para que as pessoas não continuem a executar ações como essas”, declara.
Cabe recordar que em 31 de maio, comandos navais israelenses interceptaram uma flotilha que levava ajuda humanitária aos habitantes da Faixa de Gaza, submetida a um bloqueio há três anos por parte de Israel. Nesse assalto foram mortos nove ativistas pró-palestinos e detidos ao redor de 700 pessoas procedentes de mais de 35 países. Algumas delas dos quais já foram deportadas a seus países de origem.
Para Maja Hess, a mensagem de Israel também está dirigida à população de Gaza. “Eles disseram: não iremos terminar com o cerco”. De fato, em um discurso transmitido por televisão, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu anunciou que manteria o bloqueio apesar das pressões vindas de todo o mundo.
Com efeito, a ação israelense provocou uma onda generalizada de repúdio. O Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu uma investigação imparcial das mortes e também o fim do bloqueio “desumano” da Faixa de Gaza.
“Tantas coisas aconteceram…”
Maja Hess manifesta também sua preocupação com o esclarecimento dos fatos. Ao final, “me preocupa em acabar tendo uma versão israelense que não corresponda à verdade.”
Além disso, a chefe da Médico Internacional manifesta seu apreço às reações em todo o mundo logo após o ataque, em particular na Turquia, mas também na Europa, Estados Unidos e nos países árabes.
“Mas ressalta que, se por um lado ocorreram essas reações, por outro a União Europeia continua suas transações comerciais com Israel. E os Estados Unidos não tomam uma posição muito clara. Se esses dois grandes poderes não definem um passo concreto, então tenho muitas dúvidas de que alguma coisa possa mudar.”
“Para mim é muito importante que haja uma resposta em massa de solidariedade das populações, dos governos, uma investigação clara sobre o que ocorreu…Isso poderia mudar alguma coisa”. No entanto, ela confessa seu ceticismo.
“Tantas coisas aconteceram, tantas violações dos direitos humanos, dos direitos internacionais…E o que aconteceu até agora desapareceu da memória coletiva. Essa é a minha preocupação: que se fale um dia do que ocorreu e logo isso caia no esquecimento.”
Com ajuda de psicodrama
Maja Hess e Ursula Hauser trabalham com a população de Gaza. Mediante terapias de psicodrama, elas ajudam os habitantes locais a se liberar da tristeza e a angústia provocada pela dramática situação em que vivem. Esta se tornou mais penosa desde 2007, quando Israel impôs um bloqueio ao seu território.
As especialistas viajam duas vezes por ano à região para formar grupos de profissionais nesse método de tratamento psicológico no âmbito do Programa de Saúde Mental da Comunidade de Gaza (GCMPH, na sigla em inglês).
Agora mesmo, e apesar das circunstâncias, as médicas se preparam para publicar, em meados de junho, os cursos da última etapa do ciclo de instrução. Porém seus alunos já trabalham com a população local, incluindo jovens, crianças, professores e pessoas com graves problemas psicossociais através de intervenções de crise.
Tudo isso, reforça nossa interlocutora, é “uma conquista muito importante”, que custou muitos esforços e quase dez anos de trabalho. Agora que chega ao fim, as especialistas precisam definir como o trabalho deve prosseguir no futuro. Elas também se mantêm informadas sobre a evolução dos fatos por trás do ataque à flotilha.
Mas uma coisa é cerca: “Se não for nesse mês, vai ser mais tarde. Mas não vamos deixar de ir, porque somos apenas dois e vamos duas vezes ao ano. É muito importante ir para lá, do ponto de vista simbólico, abrir uma brecha nesse muro que existe ao redor de Gaza.”
Dramático castigo coletivo
A situação dos habitantes da Faixa de Gaza é muito difícil. “As pessoas sofrem muito com essa punição coletiva. Há uma crescente pobreza, um baixo nível de desenvolvimento e que piora cada vez mais. Não há empregos. O que eles podem fazer?”
“Não podem produzir nada, pois não há possibilidade de comercializar seus produtos. As fronteiras estão fechadas. A única possibilidade de fazer entrar e sair coisas é através dos túneis”, revela Hess.
Ela salienta que é Israel que decide o que pode ser enviado ou não aos palestinos. “Para as pessoas, a situação é muito pesada. Há uma perda de autonomia, de poder social, pessoal e político.”
A médica lembra que após o ataque de 2008/2009, muitas pessoas perderam suas casas. No entanto, os habitantes de Gaza não estão autorizados a trazer material de construção. Por isso eles vivem em barracas ou casas improvisadas com papelão.
“Eles não tem chance de agir. São criativos, mas não têm nenhum material. Estão esperando que algo aconteça, sem saber o que irá se passar.”
Hess explica que o que os palestinos pedem liberdade e dignidade. “As pessoas não apenas estão impedidas de poder receber coisas, mas também de viajar. Elas estão no cárcere coletivo que representa a Faixa de Gaza.”
“É importante que termine o bloqueio”, confirma a presidente da Médico Internacional Suíça. “Isso é crucial para as pessoas e espero que a solidariedade internacional não se sinta intimidada por esse ataque cruel à flotilha de Gaza.”
Marcela Águila Rubín, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)
Programa de saúde
O Programa de Saúde Mental da Comunidade de Gaza (GCMPH, na sigla em inglês) começou com o Centro Sanitário Suíça, uma organização que se formou durante a guerra civil na Espanha ao lado das forças republicanas.
A ONG Médico Internacional Suíça existe há dez anos. Seu programa de atendimento psicológico na Faixa de Gaza iniciou em 2002.
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