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Marinheiro suíço é missionário na Amazônia

Vista aérea da região de Rondônia (AC), onde Daniel trabalha com indígenas.

Durante décadas, o marinheiro suíço Daniel Wild navegou por rios e mares dos quatro cantos do mundo.

Formado na Escola de Navegação Suíça na Basiléia, ele acabou parando nas águas do Amazonas, onde constituiu família e iniciou uma carreira de missionário evangélico. swissinfo encontrou-o no Brasil.

Os caminhos percorridos por Daniel são bastante incomuns para um suíço, visto que o país não possui costa marítima, mas mesmo assim forma marinheiros.

As rotas fluviais ligadas ao rio Reno transportam anualmente 200 milhões de toneladas de mercadoria como petróleo, seus derivados e adubo. A parcela representa 11% do transporte total de mercadorias suíço e liga o país a países como a Holanda, Bélgica, Alemanha, França, Áustria, Hungria, Eslováquia e República Checa.

A saída para o mar acontece através de Roterdã, na Holanda, mas foi pela fé que o missionário se transportou para a Itália e mais tarde Estados Unidos, de onde navegou pelo Caribe para chegar ao Amazonas.

“Me tornei evangélico”

“Nasci na cidade de Aarau, região suíça tradicionalmente católica, mas fui educado como protestante da linha do reformador suíço Zwingli. Era um fiel comum, sem grandes ambições religiosas”, revela Daniel.

Sua escolha profissional caiu, porém, em uma outra área. “Entre os 16 e os 19 anos freqüentei a escola de formação de marinheiros na Basiléia, período onde vivi mais dentro do navio navegando através dos rios da Europa do que na própria Suíça. Logo quando terminei o curso fui para a Itália, através de um projeto da ACM (Associação Cristã de Moços) para a reconstrução de casas de desabrigados de um terremoto em Nápoles. Nesta época eu me tornei evangélico.”, declara Daniel, sorridente, em uma casa da missão evangélica da Jocum (Jovens Com Uma Missão) em Porto Velho, Rondônia, oeste da Amazônia.

Encontro na Amazônia

A experiência religiosa em Nápoles aproximou Daniel de igrejas evangélicas com influência religiosa americana. Foi então que ele ouviu falar da Jocum, missão internacional com origem americana, de caráter filantrópico, empenhada na mobilização de jovens de todas as nações para a obra missionária.

O seu interesse em participar da missão foi despertado pelo fato da organização possuir um navio hospital que saía dos Estados Unidos e navegava pela República Dominicana e Haiti com destino a Belém e Manaus. Durante o trajeto de volta o navio recebeu missionários brasileiros com destino aos Estados Unidos (EUA).

Nessa viagem conheceu sua futura esposa, a missionária Maria do Carmo. Casaram-se em 1987 nos EUA e depois planejaram morar durante um ano na Suíça com uma rotina normal, sem caráter missionário, para depois mudaram-se definitivamente para o Brasil.

Preparação missionária

Maria do Carmo já havia trabalhado como missionária com povos indígenas na Amazônia. Antes de se casarem fizeram um acordo de trabalhar como missionários na região amazônica.

Em 1989 permaneceram por cinco meses em Belém, onde Daniel aprendeu português e freqüentou um curso transcultural oferecido pela Jocum para obtenção de noções básicas em enfermagem, linguística, antropologia e para se tornar missionário.

Após o curso o jovem casal visitou diversos povos indígenas no oeste da Amazônia durante uma temporada de seis meses a fim de conhecer melhor a realidade amazônica. Nessa época aconteceu a gravidez do primeiro filho do casal, Martin; seis meses após o nascimento foram ser missionários junto aos índios Jaminawa. Dois anos mais tarde nasceu o segundo filho, Marcus.

“A missão regional da Jocum, local onde tínhamos residência fixa, ficava em Porto Velho. A viagem de barco até os Jaminawa demorava duas semanas. Às vezes íamos em um pequeno avião, a viagem demorava umas quatro horas”, afirma Daniel.

Homeschooling

Devido aos prolongados períodos de estadia entre os indígenas os filhos do casal obtiveram educação escolar através do sistema de educação escolar doméstica, também conhecido como “Homeschooling”. Estão registrados em uma escola americana, de onde obtêm o material didático e realizam as provas.

“Esta foi a única alternativa que encontramos para educar nossos filhos e continuar com nosso trabalho missionário”, declara o suíço. Devido à convivência na aldeia com os indígenas toda a família domina o idioma dos Jaminawa, o pano. As crianças também aprenderam inglês e português.

Hoje com 16 e 18 anos Marcus e Martin continuam a conviver entre o mundo indígena e o da sociedade ocidental. “Há pouco Marcus manifestou o desejo de freqüentar uma escola convencional em Porto Velho, que iniciará em breve. Martin está terminando o ensino médio da Homeschooling e poderá estudar nos EUA ou ir para a Alemanha fazer um curso básico sobre vida cristã.”, explica o missionário.

Atividades missionárias

A família de missionários vive de doações vindas dos EUA, Suíça e Brasil. Muitas vezes Daniel complementa a renda familiar com fretes que faz em sua camionete na região de Porto Velho. Em suas atividades como missionário auxilia os indígenas na resolução de seus problemas cotidianos como consertos de motores de barco, único meio terrestre de transporte para acesso à região.

Também pesquisa e documenta o idioma pano, dá aulas no ensino fundamental de matemática, português e escrita pano para os indígenas adultos. Também faz tradução de textos bíblicos para a língua pano. Apesar da influência cristã, Daniel não interfere nos rituais religiosos realizados pelos pajés, que vêm se tornando menos frequentes nas novas gerações. Em Porto Velho, dá aula de linguística, computação e curso bíblico para indígenas que passam algumas semanas na missão.

Gleice Mere, Rondônia, swissinfo.ch

Diz-se um missionário alguém que tem por função a pregação religiosa em locais onde sua religião ainda não foi difundida, realiza trabalho de promoção social ou em local que necessite de reavivamento do Evangelho. É uma figura comum dentro de diversas crenças. Na verdade dentro da concepção cristã, missionário é a figura do plantador de igrejas; muitos confundem missões com atividades em regiões internacionais, porém, as missões podem ser locais, regionais, estaduais, nacionais, internacionais, mundiais, enfim, tudo vai do despreendimento do missionário. (Texto: Wikipédia em português)

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