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Ciganos na Suíça: um estilo de vida que não agrada a todos

Une caravane avec des chaussures devant
Aproximadamente três mil ieniches vivem na Suíça. Eles se deslocam geralmente em família e agrupando entre 10 e 15 caravanas. Keystone/ennio Leanza

A Suíça reconhece os grupos nômades como uma minoria nacional. Mas essa população tem cada vez menos espaço para viver, o que coloca em risco uma tradição centenária.

Instalações sanitárias, ligação à rede de água e esgoto, eletricidade e uma área capaz de receber quinze caravanas e alguns veículos: isso é que os ieniches e sintis, dois dos principais grupos do povo genericamente chamado de “ciganos”, necessitam para sobreviver. 

Porém essas áreas reservadas aos grupos nômades estão desaparecendo na Suíça: se no ano 2000 existiam 46 terrenos registrados, quinze anos depois eles caíram para 31. A maioria dos locais são temporários e muitos estão abertos apenas algumas semanas do ano. Um espaço que hoje não permite que os nômades suíços pratiquem o seu modo de vida com tranquilidade. 

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Para as associaçõesLink externo de ieniches, pelos menos 80 terrenos seriam necessários e eles deveriam estar bem distribuídos por todo o país. As áreas de inverno também deveriam passar de 15 para 40. E os governos locais necessitam também disponibilizar espaços para os inúmeros gruposLink externo nômades de outros países europeus, que vêm à Suíça em busca trabalho durante os meses de verão. Eles dispõem hoje de apenas sete terrenos, enquanto as necessidades são avaliadas em pelo menos dez grandes áreas.

Essa falta de espaço obriga as populações nômades a gastar muita energia na procura de lugares para instalar suas caravanas. “Estamos sempre preocupados”, revela Albert Barras, porta-voz da Associação de Ieniches e Sintis da parte francófona da Suíça. “A solução seria os governos nos oferecerem mais espaços. Então ninguém mais ouviria falar de nós.”

Barras lamenta a falta de terrenos disponíveis a longo prazo. “Tudo é temporário! Não há mais dos que quinze lugares disponíveis em toda a Suíça”. Ele ressalta a escassez de espaço na parte francófona do país, lembrando que as únicas possibilidades são áreas de uso temporário nos cantões do Jura e Neuchâtel. “Idealmente deveria haver dois locais de passagem e um de residência por cantão”, afirma. Especialmente agora que há a geração mais jovem, também interessada em manter esse estilo de vida, viajando sempre pelo país.”

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Minoria reconhecida

Os grupos ieniches e sintis foram reconhecidos como minorias nacionais em 1999. Foi quando a Suíça assinou a ConvençãoLink externo do Conselho da Europa para a Proteção das Minorias, o que obriga os signatários a preservar a identidade e o modo de vida das populações nômades que vivem no continente.

A Lei federal de Promoção da CulturaLink externo apoia ativamente as minorias no país. Também a Lei federal de Planejamento UrbanoLink externo determina que as autoridades ofereçam espaço disponível de acordo com as necessidades das populações, inclusive os grupos nômades. O Tribunal FederalLink externo confirmou os cantões estão obrigados a considerar áreas para os grupos ieniches e sintis ao fazer o planejamento urbanos do seu território.

No entanto, apesar das leis, da criação da Fundação Garantir o Futuro dos Grupos NômadesLink externo (1997), da mobilização crescente dos grupos de interesse dos ieniches e sintis, assim como da adoção de um plano oficial de açãoLink externo em 2016, a situação continua complicada. 

Oposição nos municípios

Albert Barras não compreende plenamente a relutância dos políticos em oferecer mais áreas ao seu povo. “Alguns governos locais tiveram más experiencias com ciganos e já não aceitam mais ninguém”, diz. “Provavelmente fomos esquecidos ao se esconder da Pro Juventute.” 

Os grupos ieniches foram vítimas de um programaLink externo lançado em 1926 pela Pro Juventute,Link externo uma fundação caritativa de utilidade pública, com fins de combater a “vagabundagem”. Com o apoio das autoridades suíças, a fundação retirou mais de 600 crianças ienichesLink externo das suas famílias até os anos 1970 e as colocou em famílias de acolho. 

Para Simon Röthlisberger, secretário-geral da Fundação Garantir o Futuro dos Grupos Nômades, a diminuição no número de áreas para as comunidades nômades deve-se principalmente a conflitos territoriais. “Por um lado, a área de construção de imóveis na Suíça é cada vez mais escassa. Por outro, as áreas de acolho para os nômades também competem com projetos de desenvolvimento urbanos dos municípios ou grupos privados.”

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Preconceitos

Para Angela Mattli, coordenadora de campanha da Sociedade dos Povos AmeaçadosLink externo (SPA), a questão da falta de espaço para os ciganos é parte de um problema mais amplo. “Na Suíça existe um preconceito estrutural contra ciganos, uma espécie de amnésia coletiva. Algumas discriminações já foram reconhecidas pelas autoridades. Existem estudos sobre o assunto, mas os resultados não são comunicados ao público.”

O “anticiganismo”, como definem os especialistas, está presente na Suíça há muito tempo, mas nunca foi realmente combatido, diz a SPA. Essa forma de discriminação é reconhecida pela União Europeia, que toma medidas concretasLink externo. Na França, por exemplo, há muito mais áreas disponíveis para ciganos e os municípios são responsáveis pela sua administração. “Já na Suíça, a maioria dos espaços é controlada e gerida diretamente pela polícia, o que significa afinal que temos aqui um anticiganismo estrutural”, critica Mattli.

Conscientizar e convencer

A Fundação Garantir o Futuro dos Grupos Nômades e a EspaceSuisseLink externo (Associação Suíça para Ordenamento do Território e Questões Ambientais) publicaram no início do ano uma revistaLink externo dedicada à questão das áreas utilizadas pelas populações nômades. Ao descrever a situação jurídica e as melhorias, as duas instituições esperam ajudar os cantões e municípios a desenvolver projetos concretos. “Estamos no caminho certo, mas ainda há um longo caminho a percorrer para atingir o objetivo. Importante é ter vontade política, que torna as coisas mais rápidas e simples.”, declara Simon Röthlisberger. 

Des caravanes sur un champ
Os ieniches trabalhavam geralmente como afiadores, comerciantes de ferro-velho, vendedores ambulantes ou mercados de pulgas. Muitos também eram artesão e reputados pela cestaria. Hoje muitos trabalham na construção civil, especialmente reformas e manutenção de casas. Keystone / Jean-christophe Bott

“Uma possibilidade seria o governo federal disponibilizar novos espaços. Um exemplo foi quando as autoridades criaram centros federais para receber refugiados”, cita Mattli. Porém as autoridades retrucam que planejamento urbano é de competência dos governos cantonais. Por outro lado, o governo federal pode dar apoio financeiro a associações e na execução de projetos. 

A SPA defende que as autoridades federais se concentrem mais nas medidas de combate ao anticiganismo. A Secretaria Federal de Combate ao Racismo (SLR, na sigla em francês) realizou vários estudosLink externo sobre o assunto e apoia regularmente projetos para apoiar os grupos ieniches, sintis e romas. 

Albert Barras, por outro lado, não esconde o cansaço dos anos de luta pelo espaço de vida para o seu povo. No entanto, observa uma evolução positiva no país: “A população nos compreende melhor e há também uma mudança de mentalidade”. O porta-voz dos ieniches espera que a população se mobilize para exigir ações concretas das autoridades.

Un bloc sanitaire sur une place
A prefeitura de Thun, cidade vizinha à Berna, oferece um terreno para os nômades suíços estacionarem suas caravanas. Keystone / Peter Schneider

Os diferentes grupos

IenichesLink externo: vivem principalmente na Áustria e Alemanha. Na Suíça, seu número é estimado em cerca de 30 mil, dos quais três mil mantêm um estilo de vida nômade. Têm a nacionalidade suíça e constituem um grupo étnico autóctone.

SintiLink externo: vivem na Alemanha, França e Itália e são descendentes dos ciganos que emigraram para a Europa Central no século 15. Na Suíça vivem 400 sintis, de nacionalidade suíça e muitas vezes em coabitação com o ieniches.

Adaptação: Alexander Thoele

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