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Mundo árabe se prepara para possível efeito dominó

Protestos no Iêmen contra o regime de Ali Abdullah Saleh Keystone

Preocupados líderes árabes se esforçam em oferecer concessões para evitar que o chamado "efeito dominó" da insatisfação se espalhe ainda mais no continente, diz o especialista no Oriente Médio, Hasni Abidi.

Cairo continua a viver confrontos violentos entre manifestantes pró e contra o presidente do Egito, Hosni Mubarak, que recusa apelos internacionais para que abandone o cargo após trinta anos no poder.


































O Exército não interveio, além de disparar alguns tiros no ar, e nenhum policial uniformizado podia ser visto. No entanto, os opositores afirma que os grupos pró-Mubarak eram formados em grande parte por policiais sem uniforme ou pessoas que haviam sido pagas para demonstrar em defesa do atual presidente. 

Quatro manifestantes morreram baleados na manhã desta quinta-feira (03/02) na Praça Tahrir (Praça da Libertação) do Cairo, onde uma batalha campal entre adversários e partidários de Hosni Mubarak já havia deixado pelo menos três mortos e centenas de feridos ontem.

Mubarak, 82 anos, no poder desde 1981, prometeu na terça-feira que não disputaria um novo mandato, mas garantiu que ficará no poder até as eleições de setembro. Os protestos já estão no seu décimo dia e iniciaram após eclodir a frustração pública com a corrupção, a opressão e a crise econômica que assola o país.

swissinfo.ch: As sublevações e tumultos na Tunísia e no Egito seriam o início de um efeito dominó na região?

Hasni Abidi: O contágio já está ocorrendo. Há um fenômeno de imitação. Na manhã da quarta-feira (02/02) o presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, declarou que não irá tentar um novo mandato após o fim do atual em 2013 e que seu filho também não será candidato. Na Jordânia, o rei Abdullah nomeou um novo primeiro-ministro na terça-feira enquanto o anterior tinha ficado apenas um mês no cargo. E na Argélia, Marrocos e Líbia, as autoridades reduziram os preços dos produtos essenciais do cotidiano.

Ainda não é um efeito dominó, mas os líderes árabes estão começando a ser tomados pelo pânico. Eles estão fazendo certas concessões e preparando a sua partido. O que eles não querem essencialmente é sair como o ex-presidente tunisiano, Zine el-Abidine Ben Ali (que foi derrubado pelos protestos populares e depois fugiu à Arábia Saudita).

swissinfo.ch: Quais são as consequências desses eventos no Oriente Médio para os Estados Unidos e os governos europeus?

H.A.: Eu acho que os americanos e europeus terão de rever as suas políticas externas e procurar novos aliados e isso não apenas entre as autoridades políticas lá existentes, já que eles mostraram não serem confiáveis ou permanentes.

Mas é um exercício importante e que eles não estão acostumados de fazê-lo. Desde a II Guerra Mundial, os EUA e a Europa sempre lidaram com os regimes em vigor.

swissinfo.ch: Qual a sua opinião sobre os acontecimentos na Tunísia após a queda de Ben Ali? Podemos falar de uma transição democrática bem sucedida?

H.A.: É muito difícil imaginar uma transição democrática bem sucedida na Tunísia já agora. Nós podemos falar sobre transição política, mas uma democrática irá depender de uma nova constituição, eleições legislativas acompanhadas por eleições presidenciais. Apenas então nós poderemos julgar o sucesso da transição democrática.

Mas hoje podemos falar definitivamente sobre a mudança de um regime autocrático, ditatorial, para um muito mais aberto e que permite todos os grupos políticos de se expressar. Ele já anunciou novas leis eleitorais, que são um sinal positivo para a Tunísia.

swissinfo.ch: Quais paralelos você pode desenhar entre os eventos na Tunísia e no Egito?

H.A.: Nos dois países o mesmo sistema político estava no poder por mais de vinte e cinco anos e os dois regimes estavam procurando renovação dentro dos laços familiares. Eles foram acometidos por maus governos, que resultaram em condições econômicas e sociais muito difíceis, levando ao alto desemprego, elevados índices de corrupção e falta de perspectiva e esperança. Isso tudo levou ao descontentamento e tumultos. Só faltava uma faísca para levar as pessoas às ruas.

O governo tunisiano não poderia resistir por muito tempo enquanto o Exército não apoiava o regime e os protestos eram extremamente populares entre a população. Não havia líderes políticos e, por tanto, não havia riscos de divisões entre os manifestantes.

Mas no Egito a situação é diferente. O sistema é muito mais forte e estável, mesmo se Mubarak é contestado. E o Exército egípcio não está irá simplesmente derrubar Mubarak já que isso não será positivo para a transição política. Ele tentará mantê-lo por mais tempo, sobretudo pelo fato do Exército egípcio ter laços tão estreitos com o poder político e econômico.

swissinfo.ch: Qual sua visão da situação atual no Egito?

H.A.: Vemos que existem dois lados: manifestantes anti-governo estão determinados e querem uma saída imediata de Mubarak, especialmente pelo encorajamento em relação ao que já foi alcançado. Em dez dias eles “espremeram” concessões que seriam impossíveis há trinta anos.

O Exército quer mostrar que irá decidir quando e como Mubarak sairá do poder. Mas nós já podemos falar sobre o fim da era Mubarak. Desde a nomeação de (chefe dos serviços de inteligência egípcios) Omar Suleiman como vice-presidente e o ministro da Aeronáutica, Ahmad Shafiq como novo primeiro-ministro tem havido um movimento das Forças Armadas em direção às esferas políticas.

O Ministério suíço das Relações Exteriores (DFAE, na sigla em francês) declarou estar profundamente preocupado pelos atos de violência perpetrados contra a população egípcia. Ele clama às autoridades egípcias para respeitar os direitos fundamentais do povo egípcio, em particular no que concerne a liberdade de expressão, o direito à reunião e de manifestações pacíficas.

Segundo o porta-voz, “o DFAE condena os atos de violência e apela à contenção. Ele considera que medidas concretas devem ser tomadas sem tardar para responder às reivindicações legítimas dos egípcios, que pedem mais democracia e por mais liberdade.”

Em dezembro de 2008, o parlamento suíço declarou o Egito como um país-chave na cooperação para o desenvolvimento econômico.

A Suíça exporta produtos farmacêuticos, máquinas, produtos químicos primários, bem como os instrumentos ópticos e médicos para o Egito. Em 2009 as exportações foram 656 milhões de francos

(US$ 696 milhões) e as importações em torno 109 milhões de francos.

As exportações mais importantes do Egito são: produtos de petróleo e gás, petróleo bruto, algodão, têxteis, ferro, alumínio e aço e turismo.

Cerca de 1.600 egípcios vivem na Suíça e 1.400 suíços no Egito.

Hasni Abidi é um cientista político e especialista do mundo de língua árabe.

Ele é diretor do Centro de Estudo e Pesquisa para o Mundo Árabe e do Mediterrâneo, criado em setembro de 2000.

O seu trabalho está focalizado nos desenvolvimentos políticos no Oriente Médio e Norte da África. Ele já publicou inúmeras obras e artigos sobre o tema.

Adaptaçao: Alexander Thoele

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