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Pequenas religiões na Suíça na sombra do Islã

Celebração no templo sikh em Langenthal, no cantão de Berna. Ex-press

O debate político e mediático sobre as religiões na Suíça concentra-se nos muçulmanos e na prática do Islã. Na Confederação, existem também pessoas de fé ortodoxa, hinduísta, hebraica ou sikh. Como vivem com toda esta atenção dedicada ao Islã e quais são as suas exigências?

O Islã monopoliza os debates sobre as religiões e a integração dos estrangeiros, em geral. Temas como a escola, os locais públicos ou de ambiente de trabalho estão na ordem do dia e giram em torno dos muçulmanos. O uso do véu (hijab), os lugares de oração, a prática do Ramadã e as áreas para os islamistas nos cemitérios fazem parte das agendas públicas. Isso ocorre tanto na política como na opinião pública.

E não é uma surpresa. Toda esta atenção justifica-se pelo contexto internacional e pelo número de muçulmanos na Suíça – eles representam 5% da população-. Mas não se pode menosprezar o mosaico da paisagem religiosa helvética. Ao lado da maioria católica e protestante estão os judeus, os budistas, os ortodoxos, os hinduístas e os sikhs, somente para citar alguns.

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As escolas devem ser neutras com a religião?

Este conteúdo foi publicado em A decisão de criar salas de oração para os muçulmanos em duas escolas públicas suíças é vista por alguns como uma solução pragmática. Outros acreditam que salas de oração não têm lugar numa Suíça secularizada.

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“Na mídia, são quase sempre ignorados. Se fala apenas quando ocorre alguma coisa», revela Martin Baumann, professor de ciência das religiões, na Universidade de Lucerna. O especialista cita o exemplo da comunidade de hindus, na sua cidade. «Chamou a atenção para si quando conseguiu, pela primeira vez na Suíça, a autorização para espalhar as cinzas de seus defuntos no rio Reuss.”

Para Alexandre Sadkowski, padre da paróquia ortodoxa Santa Catarina de Genebra, é normal que as mídias enalteçam a atualidade e, como consequência, se interessem mais pelos muçulmanos. “Já tinham estado sob os holofotes com a questão dos minaretes, algum tempo atrás. E voltaram agora, por causa dos refugiados. Se não ouvimos falar das outras confissões é porque não existem problemas de integração ou porque não são um tema interessante.”

Religiões em busca de reconhecimento

Martin Baumann observa um outro aspecto: “Muitas religiões ligadas à imigração possuem um problema a nível de organização. Não têm representantes que falem bem o idioma nacional. Isso facilitaria o diálogo com as mídias. Falta uma forma de profissionalização nas relações com o mundo exterior.”

Verdade seja dita: algumas religiões, por exemplo, o conjunto das Igrejas livres, preferem ficar longe das luzes da ribalta e da mídia. “Talvez, elas sejam um pouco críticas com os jornalistas porque se acham incompreendidas. Acho até que algumas estejam felizes, assim por dizer, porque foram “ deixadas em paz”, afirma Martin Baumann.

A falta de atenção para as “pequenas” religiões não ocorre apenas na mídia mas também na política e administração, ressalta o especialista. “Algumas comunidades religiosas torcem por uma colaboração mais forte com os organismos predispostos para a integração. A grande discussão, em torno do reconhecimento oficial da própria religião na Suíça, é uma bandeira levada adiante, não apenas pelos muçulmanos mas também por integrantes de outras religiões.”

Este reconhecimento, de competência dos cantões, é muito importante, explica Alexandre Sadkowski. “Daria a possibilidade de ter voz em capítulo e de participação nas decisões. Nós, ortodoxos, não temos muitas reivindicações mas quando apresentamos uma, como por exemplo, a construção de uma igreja, não somos muito ouvidos.”

Escola aperta o cerco

Esta sensação não ocorre na comunidade hebraica. A igualdade dos direitos é reconhecida há 150 anos, na Suíça. E não se tem a sensação de receber menos atenção por causa da questão muçulmana, revela Jonathan Kreutner, secretário geral da Federação suíça das comunidades israelianas (FSCI). “Entretanto, notamos um certo ceticismo crescente no confronto das religiões como tais.”

Ele lembra que, no passado, era mais fácil encontrar soluções como, por exemplo, a dispensa escolar de um aluno por causa das festas hebraicas, do tipo Yom Kippur. “Hoje é mais difícil. As propostas por regras mais severas na escola são endereçadas aos muçulmanos. Realmente, existem mais muçulmanos e, claro, mais pais que pedem a dispensa dos filhos das aulas. Isso tornou a escola mais restritiva”, constata Jonathan Kreutner.

O seu temor é que o discurso sobre os muçulmanos possa provocar efeitos colaterais também na comunidade hebraica.«Quem pede uma proibição do véu islâmico, quase sempre não se dá conta que, fazendo assim, poderia instigar à proibição do Kippah [ solidéu, símbolo da religião hebraica, ndr]», observa o secretário geral da FSCI.

A preocupação tem fundamento. No Vallese, a seção cantonal da União democrática de centro (direita conservadora) depositou, em fevereiro, uma iniciativa denominada “Por estudantes com a cabeça descoberta nas escolas públicas valesanas”. O veto era contra o véu islâmico, a princípio, como foi confirmado pelo comitê da iniciativa. Mas, ao final, a medida abrange todos os tipos de cobertura na cabeça.

Cortar os cabelos para trabalhar

Ao mencionar a cobertura da cabeça, é impossível não pensar aos sikhs. Os crentes desta religião, de origem indiana, se destacam pelo visível turbante, sob o qual protegem os cabelos, que não podem ser cortados. Na Suíça, os sikhs são poucos, cerca de mil, no máximo. E o turbante usado pelos homens não parece causar problemas particulares, até porque muitos trabalham de forma independente, segundo Martin Baumann, da Universidade de Lucerna.

A conciliação entre a vida cotidiana e a prática do sikhismo nem sempre é evidente, explicou à publicação dominical Schweiz am Sonntag, Jorawar Singh, representante da Comunidade Sikh, na Suíça. As famílias que crescem os filhos sem cortar os cabelos enfrentam problemas de aceitação na escola ou no trabalho. Muitos sikhs, disse Jorawar Singh, encontram dificuldades para conseguir um lugar de estágio.

Em nome da liberdade religiosa

Cada religião tem as suas próprias reivindicações, as próprias aspirações, observa Martin Baumann. “Para a diáspora, o maior desejo é de poder erguer um templo ou um pagode para as reuniões da comunidade.”

Sasikumar Tharmalinguam, padre hindu da Casa das Religiões de Berna, espera, por exemplo, que os templos hinduístas sejam mais acessíveis e visíveis. “A maior parte dos 22 templos dos hindus, na Suíça, está em estacionamentos subterrâneos, na vizinhança de uma zona industrial ou de um incinerador de lixo. Gostaríamos de anexar uma torre aos templos, um símbolo muito importante para os hindus.”

Em geral, revela Martin Baumann, os imigrantes – e, em particular, os hindus e os budistas – adaptaram as suas práticas religiosas, parcialmente, às condições de vida, na Suíça. O professor recomenda às autoridades, todavia, de levar a sério as necessidades das minorias, em nome da liberdade religiosa.

Adaptação: Guilherme Aquino

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