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Números mostram que o racismo também é um problema na Suíça

Manifestação Black Lives Matter
Manifestação "Black Lives Matter" em Zurique, 1° de junho, 2020. Keystone / Alexandra Wey

As manifestações anti-racistas atualmente observadas nos EUA e no mundo encontraram eco na Suíça, onde milhares de pessoas protestaram nas ruas e milhares mais nas mídias sociais. Embora a Suíça não tenha testemunhado tais níveis de tensão racial, a nação alpina, no entanto, abriga uma xenofobia generalizada em relação aos estrangeiros, como mostram as estatísticas.

Perfil racial

Segundo Kanyana Mutombo, secretário-geral da CRAN, uma organização que luta contra o racismo negro, o perfil racial é uma realidade na Suíça: os residentes negros são mais frequentemente alvo de buscas e pedidos de identidade por parte da polícia.

“Cada um de nós teve uma má experiência com a polícia”, disse recentemente Mutombo à rádio pública suíça, RTS. Vários outros jovens disseram à RTS que ” devemos mostrar sempre que temos as mãos limpas em tudo o que fazemos”.

No cantão francófono de Vaud, houve vários casos recentes de suspeitos negros morrendo durante ou após um encontro com a polícia, incluindo um nigeriano que morreu em fevereiro de 2018, em Lausanne, depois de ter sido imobilizado com a face voltada para baixo em uma posição de contenção.

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Racismo na Suíça: a perspectiva de uma expatriada

Este conteúdo foi publicado em Eu pessoalmente tive experiências com suíços educados, alegres, prestativos e dispostos, sempre que possível, a falar comigo em Inglês quando o meu alemão suíço básico falhou. Sinto mais o fardo de ser uma estrangeira que não fala a língua nativa do que o fardo do racismo. Mas, a maioria dos suíços com os quais interajo…

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Contatados pela swissinfo.ch, Alma Wiecken, da Comissão Federal Suíça contra o Racismo (EKR), e Dominic Pugatsch, da Fundação contra o Racismo e o Antissemitismo (GRA) concordaram que a situação não é comparável à dos EUA. Mas “isso não significa que não devamos trabalhar para enfrentar o problema”, diz Wiecken. Mesmo que muitos casos sejam puramente interpessoais, a Suíça não está imune ao racismo estrutural e institucional.

Aumento no registro de casos

Relatórios anuais da EKR coletam incidentes racistas de todos os tipos que foram relatados a cerca de 20 centros de aconselhamento na Suíça. E embora seus números sejam provavelmente muito menores que a realidade, eles permitem uma visão geral do tipo de incidentes que estão ocorrendo.

No ano passado, foram relatados 352 casos no país, um aumento de 30% em apenas um ano. Da mesma forma, a proporção da população que relatou ser alvo de discriminação racial aumentou nos últimos anos, de 10% em 2014 para quase 17% em 2018, de acordo com o Departamento Federal de Estatística. E mais do que provas de aumento de casos, essas estatísticas mostram que as vítimas estão dando queixa com mais freqüência.

Cerca de 20 incidentes (quase 7%) do total reportado no ano passado foram ligados ao perfil racial. Quase 100 aconteceram no âmbito de um órgão público, incluindo mais de um terço na administração pública. Quase um terço foi vinculado a incidentes policiais.

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Habitação e emprego

Considerando todos os casos, no entanto, a maioria acontece em ambientes privados e em áreas públicas. Os especialistas entrevistados pela swissinfo.ch dizem que é também aqui que podem ser encontrados sinais de racismo sistêmico: quando as pessoas estão sujeitas a tratamentos diferentes, tanto social quanto no mercado de trabalho, quando têm dificuldade de garantir um lugar para viver, ou quando estão sub-representadas em órgãos como a administração pública e o sistema judiciário.

“Na Suíça, um negro ou alguém com um nome estrangeiro pode ter mais dificuldades para encontrar um lugar para morar ou um emprego”, diz Alma Wieken. Por exemplo, um estudo do Departamento Federal de Habitação, publicado no ano passado, mostrou que a taxa de resposta para a visita de apartamentos [para alugar] era inferior a 5% para pessoas com nome kosovar ou turco.

Um estudo da Universidade de Neuchâtel, publicado no início deste ano, também mostrou que os suíços de origem estrangeira têm de enviar 30% a mais de candidaturas a empregos para serem convidados para uma entrevista; os sobrenomes de origem balcânica e africana são os mais afetados.

No relatório da EKR, também as pessoas de origem africana enfrentam a maior discriminação, representando um terço do total das vítimas. Elas são seguidas por pessoas originárias do Kosovo, Turquia ou Sérvia (31%).

Entretanto, a discriminação não está diretamente ligada à nacionalidade, nem ao status de cidadania: ela se baseia nas origens estrangeiras da pessoa, reais ou imaginárias. Em 2019, mais de um quarto das vítimas de discriminação possuíam a nacionalidade suíça.

A xenofobia latente

A maior parte dos casos relatados em 2019 foi sobre tratamento desigual, ou linguagem insultuosa ou agressiva. Para Dominic Pugatsch da GRA, entretanto, esses casos relatados são apenas a ponta do iceberg. Ele diz que existe uma xenofobia mais latente que pode impactar todas as comunidades e ser vista em pequenas interações diárias.

Uma jovem negra, também entrevistada pela RTS, disse algo semelhante – para ela, o racismo era “indireto”, disse ela. “Eu tive a experiência de sentar no trem, e a pessoa à minha frente se levantou e saiu”, disse ela. Muitos desses incidentes não aparecem nas estatísticas.

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O relatório do EKR, por sua vez, diz que a xenofobia geral em relação às minorias estava na raiz da maioria desses incidentes, em vez de racismo mais específico em relação a pessoas negras ou muçulmanas. Pugatsch considera que esta é uma característica típica do racismo na Suíça. “Infelizmente, há um racismo diário e uma ‘alteridade’ das minorias, diz ele. Nesses casos, é um pouco como ‘nós contra o resto'”.

No entanto, ele ressalta um forte desejo político de não permitir que a xenofobia floresça. “A questão é levada muito a sério aqui. Temos uma comissão federal contra o racismo, temos estatísticas, treinamento contínuo dos policiais para combater o perfil racial… Não queremos uma situação como nos EUA”.

Wiecken, da EKR, diz que o aumento das discussões e debates sobre o racismo conta como um avanço. “Isso significa que estamos começando a entender que não é apenas um problema de minorias, mas um problema da sociedade como um todo”.

swissinfo.ch/ets

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