No Brasil, governo ainda luta para vencer a malária
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país que apresenta o maior número de notificações de casos de malária nas Américas. Com forte incidência na Amazônia e também presente em algumas regiões de Mata Atlântica, a doença é um risco concreto em praticamente todo o país e atingiu, segundo o balanço epidemiológico elaborado pelo Ministério da Saúde, cerca de 265 mil pessoas em 2011.
O número de casos registrados em 2011 é elevado, mas foi comemorado pelo governo brasileiro, pois representou uma redução de 23% em relação ao ano anterior, quando aconteceram 334 mil casos, com 72 mortes: “Estamos animados com a diminuição, mas precisamos agir para intensificar o trabalho de prevenção nas áreas endêmicas. Um país que quer acabar com a pobreza precisa reduzir significativamente a malária”, afirma o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Noventa e nove por cento das notificações da doença no Brasil ocorrem nos nove estados amazônicos (Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Roraima, Rondônia, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso). O mosquito transmissor da malária (Anopheles darlingi) tem sua incidência aumentada em sintonia com o deslocamento da fronteira do desmatamento florestal, fato que demonstra que o combate à doença no país passa não somente por iniciativas de saúde pública, mas também por ações sociais e ambientais.
Antes do novo aumento nos registros de malária no Brasil em 2010, foram quatro anos de queda consecutivos após o índice alarmante (606 mil casos notificados) registrado em 2005. Em 2011, a redução dos casos da doença aconteceu em todos os estados amazônicos, com exceção do Amapá, que registrou aumento de 19,8% em relação ao ano anterior. O estado campeão na redução das notificações foi o Acre, com 38,8% de casos a menos do que em 2010, seguido por Roraima (-35,9%), Mato Grosso (-31,1%), Rondônia (-30,3%), Tocantins (-26,9%), Amazonas (-20%), Pará (-16,1%) e Maranhão (-10,3%).
Com o objetivo de integrar e potencializar as ações de combate à malária no Brasil, o governo lançou em 2010 o Projeto de Expansão do Acesso às Medidas de Prevenção e Controle da Malária para Populações Vulneráveis da Amazônia Brasileira. A meta do projeto é reduzir em 50% o número de casos de malária nos 47 municípios com maior vulnerabilidade à doença.
Mosquiteiros
Segundo o Ministério da Saúde, a execução do projeto já permite um fortalecimento da vigilância epidemiológica e do apoio aos municípios no controle da malária, o que teve reflexos na queda registrada em 2011. Entre as medidas tomadas, estão o aumento dos pontos para diagnóstico da doença, a prática do atendimento em até 72 horas, a distribuição de mosquiteiros e a intensificação do envolvimento das comunidades em regiões de risco.
Por intermédio do Fundo Global de Luta contra Aids, Tuberculose e Malária, os municípios brasileiros beneficiados pelo projeto receberam no ano passado R$ 15 milhões. A maior parte dos recursos foi destinada à aquisição de um mi lhão de mosquiteiros com inseticida de longa duração, mas serviram também para a compra de novos veículos e equipamentos, como caminhonetes e microscópios.
O projeto, executado pela Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado e pela Fundação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FFM/USP), busca ainda, segundo o governo, estimular o trabalho conjunto com os países vizinhos no combate à malária.
Principal instituição de pesquisa sobre doenças endêmicas no Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou no início de julho um termo de parceria com a agência Cooperação Andina de Fomento (CAF) para apoiar as ações da Rede Pan-Amazônica de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde visando o combate à malária na região: “Esse acordo reforça o processo de integração regional em um eixo que consideramos prioritário”, afirma o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.
Américas
Segundo o relatório global divulgado pela OMS em outubro do ano passado, apenas quatro países americanos (Brasil, Peru, Colômbia e Haiti) foram responsáveis por 90% dos casos de malária registrados em todo o continente entre 2000 e 2009. O estudo da OMS afirma que 20% da população americana está exposta ao risco de contrair a doença, que atinge 23 países.
O estudo revela outra face da situação no Brasil, já que o país, ao lado da Colômbia e da Guiana, é apontado como um dos três onde a redução no número de casos de malária se deu com menor intensidade. O relatório da OMS, no entanto, cita os esforços realizados pelo governo brasileiro e “o aumento das possibilidades de diagnóstico e tratamento através de uma rede de mais de 40 mil agentes de saúde”.
A OMS destaca ainda os onze países das Américas onde a incidência da malária foi reduzida em mais de 50% entre 2000 e 2009 (Argentina, Belize, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai, Bolívia e Suriname). Quatro destes países (Argentina, El Salvador, México e Paraguai) já entraram, segundo a OMS, na fase de pré-eliminação da doença.
No Brasil, a malária é provocada por três espécies de protozoários do gênero Plasmódio (Plasmodium Falciparum, Plasmodium Vivax e Plasmodium Malariae). O país é um dos campeões globais na incidência da doença porque a Amazônia oferece um imenso criadouro natural ao mosquito transmissor, que deposita seus ovos nas águas límpidas, paradas e sombreadas dos milhares de igarapés existentes na região.
Para completar o quadro favorável à disseminação da malária no Brasil, existe ainda a dificuldade do poder público em oferecer pronto atendimento médico às populações amazônicas mais afastadas de grandes centros como as cidades de Belém (PA), Manaus (AM) e Santarém (PA).
Em algumas comunidades ribeirinhas, o acesso só pode ser feito por barco e a viagem dura vários dias.
Rio de Janeiro
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