O futuro do turismo na Suíça está na sustentabilidade
No ano passado, a pandemia deixou de joelhos a indústria global do turismo. Na Suíça, o setor também não foi poupado. As restrições de viagens geraram uma queda de 85 a 95% nos números de visitantes estrangeiros, incluindo os chineses e suas viagens curtas - turistas dos quais a indústria do turismo se tornou cada vez mais dependente. No artigo a seguir, Martin Nydegger, diretor da agência nacional de turismo, diz que o setor aprendeu a lição e agora está colocando ênfase na sustentabilidade.
Se quisermos fazer da Suíça o destino turístico mais sustentável do mundo – uma meta para a qual já temos muitos ativos – precisamos de uma estratégia de longo prazo, metas comuns e uma abordagem holística considerando os três pilares do desenvolvimento sustentável.
Desde a chegada dos primeiros turistas que começaram a viajar em grupos – o que descreveríamos como o início do turismo de “massa” na segunda metade do século XIX – a natureza, as nossas imensas montanhas e as paisagens muito diversas em uma pequena área foram os principais atrativos para uma viagem à Suíça. De onde quer que venham, os viajantes de hoje ainda esperam ficar fascinados, energizados e apaziguados pela natureza de nosso país.
E comigo não é diferente. Como um jovem profissional de turismo da região da Baixa Engadina (Engadin Scuol) no início dos anos 2000, eu estava perfeitamente ciente de que, quando se trata de turismo, a natureza é nosso ativo mais importante. A região, que não é conhecida por seus locais espetaculares ou por campanhas de marketing arrojadas, sempre foi uma inspiração para um modelo de turismo sustentável que equilibra os três pilares do desenvolvimento sustentável: pessoas, planeta, prosperidade. O turismo na Baixa Engadina é baseado em experiências autênticas: explorar as maravilhas do Parque Nacional da Suíça, desfrutar das propriedades terapêuticas de suas nascentes de água mineral e descobrir as muitas facetas da cultura romana. A região sempre focou em objetivos de longo prazo para um desenvolvimento equilibrado do turismo, garantindo prosperidade, equidade social e protegendo o meio ambiente. Isso moldou minha compreensão de um “turismo saudável” e se tornou uma aspiração duradoura.
Tem sido uma caminhada longa, de mais de 15 anos, procurando elevar a conscientização sobre o quanto as preocupações com a natureza – principalmente as mudanças climáticas – poderiam perturbar completamente a indústria do turismo na Suíça. Em 2008, em nome da Suíça TurismoLink externo, como chefe de desenvolvimento de negócios, iniciei em co-autoria um estudo com a Universidade de Berna sobre os possíveis impactos das mudanças climáticas para a indústria do turismo até 2030. Este foi um despertar para explicar claramente como os modelos de negócios de turismo – em particular os destinos de esportes de inverno de baixa altitude – teriam que ser reconsiderados e remodelados nos próximos anos.
No entanto, o combate às mudanças climáticas não deve ser a nossa única preocupação. Hoje em dia, todos os aspectos do turismo precisam ser examinados para descobrir onde e como melhorias em termos de um desenvolvimento mais sustentável podem ser feitas. E isso não significa que devemos privilegiar um aspecto do desenvolvimento sustentável em detrimento de outros. Deixe-me dar um exemplo em escala nacional. Em 2015, a Suíça Turismo lançou o Grand Tour of Switzerland, um itinerário de 1.600 km pela Suíça, a nossa própria “Rota 66”. Isso realmente faz sentido, quando os combustíveis fósseis são conhecidos por impactar as mudanças climáticas? Bom, a visão por trás do Grand Tour era dar aos hóspedes que viajam pela Suíça de carro – eles ainda representam cerca de 60% dos viajantes – inspiração para descobrir lugares novos e menos conhecidos. Ou seja, direcionar o tráfego automotivo para “novas estradas” e abrir novas perspectivas econômicas para as regiões periféricas. Além disso, apenas dois anos depois – em parceria com um grande fornecedor de eletricidade suíço – lançamos a primeira viagem rodoviária do mundo para veículos elétricos – toda a rota estava equipada com mais de 300 estações de recarga para veículos elétricos – isto, em um país onde esses veículos ainda não são comuns. No mesmo ano, para impulsionar as viagens de trem pela Suíça, foi lançado o Grand Train Tour of Switzerland.
Assim, para a Suíça Turismo, turismo sustentável significa encontrar soluções em escala nacional para melhorar o equilíbrio entre os três pilares do desenvolvimento sustentável. Mas os desafios que podem levar a um desequilíbrio são múltiplos. O que ficou explicitado, há pelo menos uma década, quando os turistas chineses começaram a explorar o mundo e a visitar a Suíça em grande número. Eles estavam ansiosos para descobrir lugares que nunca tinham visto antes e os destinos na Europa tiveram que se adaptar rapidamente a uma nova demanda de grandes proporções. Encontrar o equilíbrio certo para o turismo exige um pouco de tempo e muita flexibilidade.
Portanto, precisamos pensar a longo prazo e como queremos que nossa indústria se desenvolva nos próximos 10 anos, considerando eventos que podem impactar o turismo como a atual pandemia. Há vários anos, focamos totalmente nossas atividades promocionais na China em viajantes individuais: hóspedes que desejam ficar mais tempo e visitar lugares relativamente desconhecidos, em oposição aos pontos turísticos badalados. Isso significa que muitos outros destinos podem lucrar com esse tipo de turismo. Viajar de avião por uma distância tão longa não é bom para o meio ambiente, mas ficar mais tempo e, uma vez na Suíça, viajar principalmente de transporte público torna toda a viagem mais sustentável.
Antes da pandemia, os chineses (incluindo Hong Kong e Taiwan) representavam um em cada dez turistas que entravam na Suíça, o que os colocava atrás apenas de alemães e americanos entre os turistas estrangeiros. No entanto, enquanto alemães e americanos passaram em média mais de duas noites em hospedagens Suíças em 2019, os chineses permaneceram pouco mais de um dia. No entanto, o forte crescimento no número de turistas que chegam da China (representando um acréscimo de quase 400% nas diárias entre 2009 e 2019), juntamente com o declínio constante de diárias de turistas europeus (alemães –35% no mesmo período), manteve a China no foco das atividades de marketing turístico como um dos oito “mercados prioritários”.
Encontrar a combinação certa de hóspedes é de extrema importância para garantir que as economias locais ainda possam prosperar e que os fornecedores de turismo possam investir em ofertas e infraestrutura sustentáveis. Antes da pandemia, havia uma mistura equilibrada de visitantes composta por 45% da Suíça, 35% de países vizinhos e 20% do exterior. Isso mostra o quanto o turismo na Suíça depende de seus hóspedes suíços e europeus, um fato que não mudará quando as viagens internacionais recuperarem o ímpeto.
Tive o privilégio de trabalhar em vários países (Índia, África, Holanda e, claro, Suíça) e de viajar em muitos outros, coletando experiências no desenvolvimento do turismo ao longo do caminho. Estou convencido de que o turismo sustentável só pode resultar de uma abordagem holística, que leva em conta o equilíbrio tênue entre as três dimensões do desenvolvimento sustentável.
Às vezes, grandes realizações são feitas para proteger a natureza, mas outros aspectos essenciais para a sustentabilidade muitas vezes não são levados em consideração. Fiquei, por exemplo, profundamente impressionado com a importância estratégica dada à proteção da natureza na Costa Rica. Em 1948, o país aboliu o exército, mas concentrou seu orçamento em educação, turismo e proteção ambiental. Isto teve um enorme impacto na preservação do habitat natural de plantas e animais, mas também no envolvimento da população no cuidado deste habitat através da educação. A educação, por sua vez, atende ao turismo, uma vez que os provedores na Costa Rica são extremamente versados em conservação da natureza. Porém, a mobilidade naquela época não era tão bem sucedida no país. O transporte público era escasso e o tráfego de caminhões pesados para o transporte de produtos agrícolas congestionava a malha rodoviária. Ainda assim, o empoderamento da população em termos de proteção ambiental é um aspecto que considero extremamente inspirador.
Na verdade, acredito que a mudança deve vir de dentro. Aprender, compartilhar experiências – sucessos e também fracassos – fazendo com que toda uma comunidade se beneficie do conhecimento disponível, é a única maneira de inspirar e gerar mudanças. Essa também é a filosofia da estratégia para o turismo sustentável que lançamos em fevereiro deste ano junto com a indústria do turismo suíça e com o apoio da SECO (Secretaria de Estado para Assuntos Econômicos). Esta estratégia – prefiro descrevê-la como um movimento – denominada “Swisstainable”, visa ajudar a indústria do turismo do nosso país na implementação de soluções sustentáveis e, ao mesmo tempo, mostrar aos nossos hóspedes o que os fornecedores colocaram em prática em termos de sustentabilidade. Este é um programa ambicioso – esperamos ter 4.000 empreendedores de turismo suíços a bordo até o final de 2023 – uma vez que todas as empresas participantes se comprometem a tomar medidas específicas em termos de sustentabilidade. Com o movimento Swisstainable, compartilhamos conhecimento, criamos uma competição sadia entre os fornecedores de turismo e oferecemos aos nossos hóspedes orientação sobre maneiras de viajar com mais responsabilidade na Suíça.
As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente do autor e não refletem necessariamente as opiniões da SWI swissinfo.ch.
Adaptação: Clarissa Levy
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