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Será o ensino remoto um modelo para o futuro?

Elsbeth Stern

De que forma a educação transmitida pela tecnologia afetará o aprendizado? Ainda é muito cedo para se chegar a uma conclusão, mas as implicações para os exames são claras, diz a professora Elsbeth Stern, da ETH Zurique.

Desde meados de março, escolas e universidades de todo o mundo têm enfrentado o desafio de converter a instrução de aprendizado em TIC (tecnologia da informação e comunicação) quase da noite para o dia. Os professores que até recentemente utilizavam o Moodle apenas para armazenar slides e textos estão agora se comunicando com os alunos através do Zoom e WhatsApp. 

Espero que no futuro os exames baseados em computador sejam mais utilizados nas escolas e universidades

Em muitas instituições, incluindo a ETH, esse esquema está funcionando surpreendentemente bem. A maioria dos professores, seja na universidade ou na escola, reconhece que alguns desses métodos digitais serão adotados a longo prazo. Certamente, depois de apresentar minhas palestras – esperançosamente para alunos “reais” num futuro próximo – eu estarei oferecendo sessões de Zoom para pequenos grupos em horários fora de pico e fins de semana, quando pudermos rever quaisquer questões pendentes.

Exames justos são quase inviáveis

Mas durante a experiência que nos impeliu nos últimos dois meses, percebemos também exatamente onde a presença pessoal é insubstituível.

Uma dessas áreas é como garantir exames justos e viáveis. 

Nesta primavera, aqueles que fazem um exame que pode ser decisivo para seu futuro profissional e acadêmico têm tido muitas vezes uma sorte imerecida. As disposições foram generosas, uma vez que qualquer falha na aprovação seria legalmente contestável sob as novas condições de emergência, e não resistiria ao recurso. 

O Departamento de Educação de Zurique, por exemplo, renunciou ao exame de admissão oral para a escola secundária de curta duração. Os exames de diploma foram cancelados em muitas escolas secundárias, e as universidades não podem excluir ninguém do curso por reprovação em um exame.

Quando os exames online feitos em casa resultaram em aprovação, há sempre a pergunta irritante: como podemos ter certeza de que não houve “cola” (“batota”)? E tivemos que prescindir dos formatos de exames testados para grandes grupos, tais como tarefas de múltipla escolha. Mas exames confiáveis são indispensáveis para garantir a qualidade de nossas instituições de ensino.

Dando de cara com os erros

Decisões baseadas em situações de exames não confiáveis podem levar a dois erros em nosso sistema educacional: ou alguém impróprio é selecionado, ou alguém que é realmente adequado acaba reprovado. Os procedimentos de exame em vigor nesta primavera e verão descartam a segunda possibilidade, mas significa que a primeira é muito mais provável de acontecer. 

Alunos e alunas receberão um certificado declarando que alcançaram um objetivo de aprendizado, embora na verdade não tenham adquirido as habilidades ou conhecimentos necessários. Devemos estar atentos aos grandes problemas que isso causa. Espero que no futuro os exames baseados em computador sejam mais utilizados nas escolas e universidades – mas estes devem ser feitos sob supervisão, e não na beira da cama ou em um canto da mesa de jantar.

Muito cedo para julgar

Assim, embora os professores tenham feito todos os esforços para realizar exames justos e confiáveis, sabemos que os resultados obtidos no início do verão de 2020 devem ser avaliados de forma diferente do habitual. 

E quanto aos resultados educacionais da aprendizagem à distância? 

Ainda não temos dados confiáveis sobre isso, mas as experiências variam consideravelmente. Na universidade, a impressão é positiva em geral, e os relatórios iniciais provisórios sugerem que as oportunidades de aprendizagem oferecidas pelo ensino à distância foram pelo menos tão bem recebidas quanto as do modelo de ensino presencial. 

Entretanto, é preciso ter cuidado para não tirar conclusões precipitadas. Afinal, houve muito mais mudanças para os alunos do que apenas a passagem do ensino presencial para o ensino à distância: o fechamento da vida pública descartou uma série de alternativas aos estudos, de modo que a maioria dos jovens terá passado mais tempo nos estudos do que de costume.

Esperamos uma grande disparidade nos resultados, tanto nas escolas secundárias superiores (Gymnasium, collège) como em todas as formas de ensino médio. Alunos que não tiveram problemas com o aprendizado em horários normais também irão prosperar com o ensino à distância. Aqueles que requerem uma supervisão mais intensiva ficarão para trás – e até que ponto depende do comprometimento dos professores e dos pais. 

Elsbeth Stern é professora titular de Pesquisa em Educação e Aprendizado no Instituto Politécnico de Zurique (ETH Zürich) e reitora do Instituto de Ciências Comportamentais

Podemos estar nos aproximando de uma nova normalidade, mas eu acredito firmemente que o aprendizado escolar não pode ser realizado sem interação presencial. 

Este blog foi originalmente publicado no ZukunftsblogLink externo (Blog do Futuro) da ETH Zurich.

As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente do autor, e não refletem necessariamente as opiniões da swissinfo.ch. 


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