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Os desafios de um planeta com sete bilhões de habitantes

Embora as cidades indianas estejam lutando contra o peso demográfico, algumas regiões do mundo estão perdendo sua população. Keystone

Nosso planeta está super lotado? Quantas pessoas ele ainda é capaz de suportar? Podemos realmente falar da população mundial? Algumas respostas com o demógrafo suíço Philippe Wanner.

Durante o século XX, a população mundial explodiu de 1,6 bilhões em 1900 para 6,1 bilhões em 2000. O crescimento deverá continuar durante todo o século XXI.

O fenômeno da transição demográfica não deve acontecer tão rapidamente como o esperado em algumas partes do globo. Segundo as projeções da ONU, em 2011, oficialmente no dia 31 de outubro, seremos 7 bilhões a morar no planeta.

Na primeira parte da entrevista concedida à swissinfo.ch, o demógrafo suíço Philippe Wanner, professor da Universidade de Genebra, destaca a dificuldade em prever a evolução da população mundial.

swissinfo.ch: No dia 31 de outubro de 2011, a Terra irá cruzar o limiar simbólico dos 7 bilhões de habitantes, de acordo com as projeções feitas pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Devemos comemorar ou ficar preocupados com esta data?

Philippe Wanner: É uma boa notícia, porque esse cabo é o resultado de uma série de conjunções favoráveis: a diminuição da mortalidade infantil, por um lado, e o aumento da esperança de vida, do outro. Em todas as idades, o número de sobreviventes cresce, eu considero isso um acontecimento positivo.

swissinfo.ch: Em um relatório datado de 2008, a ONU previu que a população mundial atingirá um pico de 9 bilhões em 2050, antes de se estabilizar. Em maio deste ano ela lançou um novo relatório prevendo um pico da população para 10,1 bilhões em 2100. O que explica esta mudança súbita?

PW: É muito difícil prever as mudanças demográficas, particularmente no contexto de fertilidade muito elevada. Um ou dois nascimentos a mais por mulher é suficiente para causar um efeito multiplicador em três ou quatro gerações. As Nações Unidas têm levado em conta as novas tendências, que incluem um lento declínio da fecundidade em alguns países como o Níger. Isso explica a diferença na projeção em apenas três anos de intervalo.

swissinfo.ch: Prever o futuro do número de pessoas na Terra é, então, semelhante à ficção científica.

PW: Absolutamente. Especialmente porque não conhecemos em detalhe a população mundial atual. Falamos de cerca de 7 bilhões de pessoas, mas será que não somos mais de 6,5 ou 7,5 bilhões? É impossível dizer. Alguns países como o Afeganistão e o Kosovo não realizam o censo desde 1980. Na África subsaariana, não só o número de nascimentos futuro é um mistério, mas não sabemos a tendência da mortalidade dessas crianças. Quantos sobreviventes restarão e quantos terão filhos? Esta pergunta permanece sem resposta até agora.

swissinfo.ch: Passando esta barra simbólica dos sete bilhões de pessoas, o espectro da superpopulação ressurgiu novamente. Quantas pessoas a Terra pode suportar?

PW: Também é impossível responder a esta pergunta. É o comportamento das pessoas que determina a capacidade do planeta em suportar este crescimento da população. Se todas as pessoas do planeta consumissem da mesma maneira que os chineses e mexicanos, seria possível suportar uma carga de 10 ou mesmo 15 bilhões de indivíduos. Mas se os 7 bilhões se comportarem como os americanos, as restrições em termos de recursos disponíveis e os impactos ambientais seriam muito grandes.

É interessante notar que o debate sobre a carga demográfica sempre esteve relacionado com questões alimentares e a capacidade do planeta em alimentar a população. Hoje, ele se concentra mais sobre o impacto ambiental decorrente desta população no planeta. Um conceito muito mais limitado, uma vez que o aumento da produtividade não desempenha o mesmo papel.

swissinfo.ch: Platão e Aristóteles já recomendavam aos Estados que regulassem estritamente a taxa da natalidade. O que determina o nosso grau de preocupação com relação a esse sentimento de invasão?

PW: Na discussão sobre a superpopulação, vem imediatamente à mente a imagem de megacidades como Tóquio, com seus fluxos constantes de seres humanos e trens lotados. Mas essa densidade é enganosa. Na África, tendo em conta o número de habitantes por quilômetro quadrado, é mais uma situação de subpopulação. Alguns acreditam que o crescimento populacional seria positivo porque permitiria produzir mais.

O debate em torno da superpopulação começou em 1800 com Malthus e a observação do crescimento demográfico. O homem é por natureza conservador. Hoje, há um bilhão de pessoas a mais do que em 1999. O reflexo humano é o de ter medo deste crescimento. Mas, cientificamente, não é possível determinar se esse crescimento é bom ou ruim.

swissinfo.ch: As realidades são muito distintas de um país e de uma região para outra. A população africana poderá triplicar em um século, chegando a 3,6 bilhões de habitantes, enquanto que a Rússia está em processo de despovoamento. Podemos realmente falar de uma população mundial?

PW: Não, essa noção é completamente irrelevante. Além das realidades mencionadas, há uma outra realidade fundamental: a migração. A Europa vai ser despovoada, é uma certeza, enquanto que a Ásia não consegue, atualmente, controlar seu crescimento populacional. Este século está marcado por muitos desequilíbrios demográficos significativos. Quando se tem, de um lado, uma pressão demográfica muito alta e, de outro, uma grande falta de mão-de-obra, a migração é inevitável.

Taxa de fecundidade é uma estimativa do número médio de filhos que uma mulher teria até o fim de seu período reprodutivo, mantidas constantes as taxas observadas na referida data. Também pode ser definida como: o número médio de filhos por mulher em idade de procriar, ou seja, de 15 a 45 anos.

Transição demográfica é, no geral, um processo de diminuição de taxas de mortalidade e natalidade, sendo que a primeira diminui mais rápido que a segunda, causando um período de aumento do crescimento vegetativo e, portanto, de grande acréscimo populacional. Esse termo ajuda a entender porque o crescimento da população mundial disparou nos últimos 200 anos (passando de 1 bilhão de habitantes no ano 1800 aos 6,5 bilhões na atualidade).

Envelhecimento populacional. Em vários países europeus e no Japão, as populações estão envelhecendo. O número de pessoas idosas cresce em ritmo maior do que a natalidade. Isto acarreta ao país maiores gastos com assistência social e aposentadorias. Atualmente, diversos governos aumentam a idade de acesso à aposentadoria por razão de adequação sócio-econômica. A população brasileira é uma das que sofrem com o crescimento do envelhecimento populacional. Mas os EUA, por exemplo, possuem baixo índice de envelhecimento populacional, mesmo sendo um país desenvolvido.

Limite de renovação das gerações. É o número médio de filhos por mulher necessário para que cada geração crie uma próxima com o mesmo contingente. Nos países desenvolvidos, esse limite é de 2,10 filhos por mulher, devido a mortalidade infantil muito baixa.

Crescimento. Desde o início do século 20, a população da Suíça mais do que dobrou, passando de 3,3 milhões em 1900 para 7,8 milhões em 2009. Neste ano, a população suíça aumentou em 83’950, principalmente devido a um total migratório positivo (74’587). O aumento de 0,7% no número de cidadãos suíços (6’071’802) é principalmente devido à naturalização (43’440), bem como a um ligeiro crescimento natural (669).

Inversão. A pirâmide etária mudou consideravelmente durante o século 20. A proporção de jovens (menos de 20 anos) caiu de 40,7% em 1900 para 21% em 2009, a de idosos (acima de 64) aumentou de 5,8% para 16,8%. O aumento foi particularmente acentuado (de 0,5% para 4,8%) na faixa da “quarta idade” (80 anos ou mais).

Desigualdades. As mulheres vivem mais do que os homens, mas a expectativa de vida aumentou ligeiramente para eles (79,8 anos) enquanto que para elas continua a mesma (84,4 anos).

Estabilização. De 2,5 filhos por mulher nos anos 60, a taxa de fecundidade caiu até o início dos anos 2000 para 1,4 filhos por mulher. Ela se recuperou um pouquinho desde então, passando para 1,5 e devee se estabilizar nesse nível até 2050, segundo previsões da Secretaria Federal de Estatística.

Fonte: Secretaria Federal de Estatística

Adaptação: Fernando Hirschy

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