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Os imigrantes que fazem a alegria do futebol suíço

Gökhan Inler, Stephan Lichtsteiner e Johan Djourou no treino: 15 de 23 jogadores da seleção suíço têm origens estrangeiras. Keystone

Das 32 equipes que participam da Copa do Mundo de 2014, a seleção suíça é a que dispõe de mais jogadores de origem estrangeira. Nomes como Shaqiri, Rodriguez e Xhaka seriam modelos de integração ou simplesmente representantes de um esporte praticado, sobretudo, por imigrantes e seus descendentes?

Seu nome que lembra as origens balcânicas está hoje no coração de todos os torcedores da seleção suíça: Haris Seferovic, autor do gol de último minuto na vitória (2 a 1) contra o Equador no seu primeiro jogo na Copa do Mundo. Em 2009, ele já havia marcado o único gol na partida final da Copa do Mundo Sub 17 anos de Futebol na Nigéria, colocando pela primeira vez na história a seleção do país dos Alpes no firmamento do futebol planetário. 

Nascido na Suíça de pais que abandonaram a Bósnia no final dos anos 1980, Seferovic faz parte do grupo de jogadores de origem estrangeira (15 em 23) a compor a atual seleção suíça. Ela seria mesmo a mais cosmopolita da Copa, segundo o especialista australiano em infodesign James Offer, que se baseou nas raízes (nascimento, pais ou avós) de cada jogador no exterior. A “Nati”, como é chamada carinhosamente a seleção suíça, apresenta 21 raízes, passando na frente da Austrália, Argélia, Bósnia-Herzegovina e a França, cada uma delas com 16.

Uma grande parte dos jogadores selecionados são “secondos”, ou seja, pelo menos um dos pais vem de outro país. E não é raro que os jogadores tenham a dupla-nacionalidade como o hispano-suíço Philippe Senderos, cujos pais vêm da Sérvia e Espanha.

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Gol da Suíça no jogo contra o Equador

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Vitória de último minuto dá esperanças à Suíça

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“Prova de tolerância”

Mesmo o capitão da equipe, Gökhan Inler, tem a dupla-nacionalidade. “Eu confiei a ele, um imigrante turco, o papel de capitão, pois queria dar mais importância aos jogadores de origem estrangeira na equipe. Essa diversidade representa bem a Suíça de hoje e dá uma prova da sua tolerância. Nós temos orgulho de mostrar que o país pode integrar bem seus estrangeiros”, declarou recentemente Ottmar Hitzfeld, técnico da Suíça, em uma reportagem realizada pelo canal francês de televisão Canal+.

Vários jogadores da seleção suíça nasceram no exterior. É o caso de Xherdan Shaqiri, a estrela da equipe, nascido no Kosovo, e que não esconde suas origens. Artilheiro no jogo de qualificação na Albânia no ano passado, ele decidiu não manifestar sua alegria “por respeito” ao seu país de origem.

Essa diversidade é relativamente recente. Há vinte anos, durante da Copa do Mundo nos Estados Unidos, o jogador de origem argentina Nestor Subiat era o único naturalizado da equipe. No mundial de 2006, oito jogadores de origem estrangeira compunham a seleção de Köbi Kuhn.

– Clique no gráfico abaixo para descobrir as raízes estrangeiras em cada uma das seleções nacionais.

Um esporte menos elitista

Seria esse um modelo de integração bem-sucedido? É o que pensa Peter Gilliéron, presidente da Associação Suíça de Futebol (ASF): “Em minha opinião não existe um vetor de integração na Suíça mais importante do que o futebol”, afirmou um dia após a vitória do Sub 17 anos na Nigéria, à swissinfo.ch

Sociólogo do esporte na Universidade de Lausanne, Fabien Ohl analisa a situação de uma forma mais pragmática. Segundo ele, o fenômeno se explica primeiramente pela origem social dos imigrantes e as práticas esportivas comuns na Suíça. “Em muitos outros países, o futebol é o esporte principal. Na Suíça, ele concorre com o hóquei no gelo, o esqui e o tênis. Esses esportes são muito mais caros e estão mais ancorados nos costumes suíços. Portanto, eles não são de fácil acesso aos imigrantes, que acabam de voltando mais para o futebol.”

Outra razão é levantada pelo sociólogo: o futebol é considerado por inúmeros jovens de origem estrangeira como o melhor meio de alcançar o sucesso e encontrar reconhecimento social. “As figuras de identificação são geralmente ligadas à imigração, o que leva as crianças de origem estrangeira a praticar esse esporte”, considera Fabien Ohl. Das mais de 250 mil pessoas inscritas para participar de campeonatos de futebol na Suíça, um terço não possui a nacionalidade suíça.

E os jogadores de origem estrangeira não hesitam de lutar pelas suas ambições. Seu desejo de ganhar dinheiro e de ter sucesso no futebol é marcante. Já uma boa parte dos jovens suíços – e seus pais – prefere que os adolescentes se concentrem nos estudos ou formação profissional.

O resultado da “imigração em massa”

O interesse manifestado pela ASF nos binacionais, que recebem rapidamente mais responsabilidades na seleção nacional, assim que um sistema de formação reputado mundialmente, explica também em grande parte esse sucesso.

Contraditório é o sucesso da seleção suíça em relação à aprovação nas urnas do plebiscito a favor da redução de imigração, aprovada pelos eleitores do país em nove de fevereiro. “Não podemos esquecer que todos esses jogadores são resultado da chamada imigração em massa”, comentou o portal suíço journal21. “Seus pais vêm do exterior, principalmente de países que não são membros da União Europeia, e felizmente eles puderam trazer suas famílias consigo. Sem isso, essas crianças – das quais algumas nasceram na Suíça – nunca poderiam ter sido descobertas pelos clubes locais.”

Em visita ao Brasil para apoiar a seleção suíça, o ministro da Defesa e dos Esportes, Ueli Maurer (UDC, direita conservadora), foi questionado pelos jornalistas sobre o tema. “O que o senhor pensa dessa equipe multicultural tão distante dos estereótipos lançados pelo seu partido?”, perguntou o enviado do jornal Le Matin Dimanche. “Eu não estou de acordo. A UDC sempre apoiou os estrangeiros que se integram e trabalham para o bem da Suíça”, respondeu o político.

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A seleção suíça mais cara da história

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Jogador de futebol, o “bom imigrante”

Fabien Ohl não se surpreende com esse discurso. “O jogador de futebol é considerado com o bom imigrante, pois ele serve à pátria e reforça o orgulho do país de acolho. Ao contrário, o estrangeiro que comete delitos, ou não tem as mesmas práticas culturais que a dos nativos, representa a figura de rejeição. Todos os estrangeiros ordinários, não especialmente brilhantes ou ameaçadores, são pouco visíveis, em revanche.”

A atenção despertada pela seleção suíça é capaz de modificar a visibilidade dos estrangeiros. “Logo que uma equipe esportiva multicultural tem sucesso, todo mundo apoia a diversidade social. Mas no momento da derrota, maus resultados ou de polêmica, são exatamente essas diferenças que entram no primeiro plano. A equipe da França (adulada após o sucesso de 1998 e depois rejeitada após o fracasso na Copa do Mundo da África do Sul em 2010) é um exemplo perfeito disso.”

Goleiros

Diego Benaglio: avós italianos

Roman Bürki: suíço

Yann Sommer: suíço

Defesa

Philippe Senderos: pais da Sérvia e Espanha

Johan Djourou: nascido na Costa do Marfim

Michael Lang: suíço

Fabian Schär: suíço

Stephan Lichtsteiner: suíço

Steve von Bergen: suíço

Reto Ziegler: suíço

Ricardo Rodriguez: pais do Chile

Meio-campo:

Tranquillo Barnetta: binacional ítalo-suíço

Valon Behrami: nascido no Kosovo

Blerim Dzemaili: nascido na Macedônia

Gelson Fernandes: nascido no Cabo Verde

Gökhan Inler: pais da Turquia

Xherdan Shaqiri: nascido no Kosovo

Admir Mehmedi: nascido na Macedônia

Valentin Stocker: suíço

Granit Xhaka: pais da Albânia

Atacantes

Haris Seferovic: pais da Bósnia-Herzegovina

Mario Gavranovic: pais da Bósnia-Herzegovina

Josip Drmic: pais da Croácia

Escalado para a seleção suíça desde 2005, Valon Behrami é uma peça importante na equipe montada pelo treinador Ottmar Hitzfeld. Na coletiva de imprensa da última quarta-feira (18.06), ele se exprimiu sobre suas origens no Kosovo.

“…Com todas suas nacionalidades e mentalidades diferentes, a seleção suíça não é como as outras. Primeiramente quero ser um exemplo. Um exemplo para todos esses suíços como eu, que vem de outro país. Eu quero demonstrar-lhes que nós devemos retribuir à Suíça tudo o que ela nos deu…“

“…Se sou um jogador profissional hoje em dia, devo a formação que me foi oferecida na Suíça. Eu devo respeitar o que o país fez por mim. A questão não é de cantar ou não o hino nacional. A única maneira de fazê-lo é dar 100% no campo. É essa atitude que eu sempre devo testemunhar. Se tivesse outra, temo que esses jovens que se identificam comigo possam ter também outra…”

“…O país que nos deu essa oportunidade tem essas expectativas em relação a gente. Todavia existem momentos em um jogo, onde é o coração que deve falar. É o espírito da terra onde você nasceu que pode também te guiar…”

Fonte: ATS / Le Matin

Adaptação: Alexander Thoele

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