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Por que um suíço constrói um santuário para elefantes na Tailândia

Urs Fehr mit einem Baby-Elefanten
Urs Fehr, 42 anos, abraçando um jovem elefante, cuja mãe resgatou em 2019. màd

Urs Fehr transformou sua paixão por elefantes numa profissão. Depois de se mudar para a Tailândia, o suíço montou lá um abrigo e refúgio para paquidermes maltratados: o “Parque Santuário Verde de Elefantes Phuket”.

A história de Urs Fehr é extraordinária. Como é que um suíço teve a ideia de criar um santuário para elefantes na Tailândia? “Para ser sincero: eu me sentia um pouco entediado na Suíça”, responde Urs Fehr. Ele é originário de Lenzburg (Cantão de Argóvia) e trabalhou em uma empresa de segurança. “Precisava de uma mudança de ares”. Então ele e sua namorada tailandesa decidiram mudar-se para o país de origem dela: isso foi em 2015; Urs Fehr tinha 36 anos na época.

O casal não tinha planos concretos para o futuro. Primeiro, os dois alugaram uma casa em Phuket. “Escolhemos esta área porque é uma região turística que oferece mais possibilidades do que o Norte, de onde vem minha namorada”, diz Fehr. Phuket e as províncias circundantes são de fato destinos populares para os turistas: em 2019, no ano anterior à pandemia de coronavírus, a Tailândia recebeu 40 milhões de turistas, 14 milhões dos quais em Phuket.

Durante dois anos, Urs Fehr viveu de suas economias. Ele dispunha de muito tempo. E utilizou-o para visitar ou observar elefantes, que são uma atração turística, duas a três vezes por semana. “Sempre admirei os elefantes”, diz ele. Mas rapidamente percebeu que coisas desagradáveis estavam acontecendo nos bastidores: “Infelizmente, percebi que os animais eram maltratados.”

Turismo de massa

Na Tailândia, os elefantes eram originalmente utilizados principalmente na indústria madeireira, na agricultura e para fins militares.  Quando, em 1989, o governo proibiu a exploração comercial de florestas naturais, milhares de proprietários de elefantes ficaram sem fontes de renda. Eles viram então uma oportunidade de ganhos no turismo.

Isto levou à criação de parques turísticos, onde montar em elefantes se tornou a principal atração. Alguns também oferecem espetáculos em que os populares paquidermes realizam truques acrobáticos ou desenhos. No entanto, as condições em que os animais são treinados e mantidos são frequentemente deploráveis. Quando não estão transportando turistas, os enormes mamíferos muitas vezes estão presos a correntes curtas que dificultam seus movimentos.

Mahouts kümmern sich um die Elefanten im Green Elephant Sanctuary Park
O Parque Santuário do Elefante Verde foi certificado com o selo “SGS animal welfare”. màd

Para adestrá-los, os mahouts (cornacas; domadores) recorrem à técnica “Phajaan”, que consiste em quebrar a força de vontade dos animais. Eles usam uma haste com uma ponta de metal afiada a fim de ensinar aos elefantes os comandos básicos. Quando Urs Fehr testemunhou tais práticas, decidiu fundar um santuário para elefantes maltratados.

Muitos obstáculos

No entanto, o caminho para fundação do parque era mais do que pedregoso. “Se um estrangeiro persegue um tal projeto, ele é um ‘no go’ – porque também significa concorrência”, diz Fehr. Ele recebe ameaças. Os habitantes locais colocaram placas na frente de sua casa, pedindo que ele abandonasse a região.

Felizmente, Urs Fehr recebeu apoio de seu locador. Este homem – um ex-piloto do exército tailandês – o apoiou e o ajudou a tomar as medidas administrativas necessárias. Após a obtenção de licença para a abertura do parque, Fehr começou a procurar um local adequado. Encontrou um terreno de 40.000 metros quadrados na orla da selva.

Angestellte des Green Elephant Sanctuary Park Phuket bei der Arbeit.
Funcionários fazendo a manutenção do parque. màd

Tudo estava finalmente pronto, só faltavam os elefantes. Enfrentou resistências porque é um “farang” – um termo usado na Tailândia para designar os ocidentais brancos. Além disso, houve outros problemas: “A comunidade mahout na Tailândia é pequena. Eles tentaram arruinar a minha reputação”. No início, portanto, teve dificuldades em encontrar donos de elefantes que lhe quisessem vender os seus animais. Fehr não se deixou desencorajar. Com a ajuda de sua companheira, ele vasculhou o país à procura de elefantes maltratados. E o casal conseguiu finalmente adquirir os primeiros espécimes.

“Abri o santuário com cinco paquidermes. Usei todas as minhas economias para isso”. Lentamente, o santuário colhe algum lucro, que é imediatamente investido no resgate de novos animais.  Um elefante custa em média dois milhões de bahts tailandeses, o que corresponde a cerca de 57.000 francos suíços. Entretanto, o Green Elephant Sanctuary Park tem quinze elefantes e emprega 63 pessoas.

Perigo de extinção

Urs Fehr indigna-se com a situação na Tailândia: “O governo não faz nada para proteger ou salvar os elefantes”. E acrescenta: “As pessoas que maltratam os elefantes praticamente não correm riscos”. Há de fato um serviço de apoio onde se pode denunciar casos de maus-tratos a animais. Mas é difícil recolher provas.

Touristen baden mit Elefanten
No parque os turistas podem se aproximar dos paquidermes. “Só não oferecemos passeios neles”, diz Urs Fehr. màd

O suíço gostaria de contar com a colaboração de organizações de proteção animal. Mas estas geralmente não são muito ativas e “acima de tudo, são covardes”.

A verdade é que a população de elefantes asiáticos diminuiu drasticamente ao longo das últimas três gerações. Enquanto havia mais de 100.000 animais espalhados pela Ásia Central e Sudeste Asiático, hoje existem menos de 45.000. A lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classifica a espécie de elefantes asiáticos como ameaçada de extinção. Na Tailândia, estima-se que pouco mais de 3200 elefantes vivam no meio selvagem e quase 3800 em cativeiro.

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Muitos projetos

A pandemia de coronavírus, com a crise turística que ela causou, fez declinar significativamente as atividades no santuário de elefantes. Mas, ao mesmo tempo, a vontade de Urs Fehr de se empenhar na causa desses paquidermes tornou-se ainda mais forte.

Muitas ideias passam pela cabeça de Fehr, tais como expandir o refúgio para acomodar elefantes machos ou produzir um café elefante. Mas o que ele traz mais próximo do coração é a criação de uma fundação que teria como objetivo proteger os elefantes em todo o mundo. Esta fundação poderia também possivelmente angariar os fundos necessários para abrir em Phuket uma clínica, que oferecesse tratamento gratuito, para elefantes, uma vez que a única clínica existente atualmente na Tailândia encontra-se a seis horas de carro.

Outro objetivo da fundação poderia ser o de financiar unidades de guardas para a proteção da fauna na África. Para alcançar essa meta, Urs Fehr gostaria de trabalhar com ex-soldados americanos “depois de terem sido submetidos a um teste psicológico”. Ele pretende lançar um projeto-piloto no Quênia e expandi-lo mais tarde, se for bem-sucedido.

Adaptação: Karleno Bocarro

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