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Duas princesas no Dia de Portugal em Genebra

Fachada da catedral de S. Pedro em Genebra
swissinfo.ch

A Festa nacional portuguesa do dia 10 de junho é comemorada este ano em Genebra com uma homenagem a duas princesas do século 17. O que poucos sabiam, é que a capital de Calvino tinha algo a ver com a nobresa lusitana.

Emília de Nassau, princesa titular de Portugal, e a sua filha mais velha, Maria Belgia, são recordadas por ocasião da inauguração do espaço reabilitado da capela onde as duas foram sepultadas na catedral de S. Pedro em Genebra. Um evento que “é também pretexto para homenagear a comunidade portuguesa”, disse à swissinfo.ch o Cônsul-geral de Portugal em Genebra, Miguel de Calheiros Velozo.

O que não significa que esta cerimónia se fecha num círculo luso: Maria Belgia encarregou-se de alargar o leque. “Sou um dos muitos descendentes da princesa Maria Belgia na Suíça e, embora a distância que nos separa no tempo faça com que a descoberta que fiz desta ligação parental não afetado em nada a minha vida, é um prazer deixar aos meus descendentes esta herança sentimental”, disse à swissinfo.ch Olivier Lador, um descendente suíço de Maria Belgia que investigou a linha de parentesco que o liga à filha de Emília de Nassau e elaborou toda a árvore genealógica.

Duas princesas portuguesas na Suíça

Terminadas as obras de reabilitação da chamada Capela de Portugal, foram instaladas naquele espaço peças de mobiliário sacro concebidas por um dos nomes maiores da arquitetura portuguesa: Álvaro Siza Vieira.

Que vontades se conjugaram para que as duas princesas, sem mais laços a Portugal que aqueles que lhes vieram por casamento e por filiação, cujas vidas agitadas nunca levaram a terras lusas, se encontrassem homenageadas no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas?

O processo de recuperação e reabilitação da capela de Portugal na catedral de S. Pedro em Genebra deu os primeiros passos há bastante tempo, mas esteve parado muitos anos. A anterior cônsul-geral, Maria de Fátima Mendes, fez algumas diligências há uma dezena de anos e chegou a organizar um evento naquele espaço, mas ficou tudo suspenso por muito tempo. 

No início do Verão passado, o atual responsável pelos serviços consulares de Portugal em Genebra foi contatado por uma delegação constituída pelo decano da catedral, o diretor da Fundação das Chaves de S. Pedro, a fundação que gere o património da catedral, e pelo arquiteto italiano que fora incumbido do projeto de reabilitação. “Vieram expor-me o projeto”, explica Miguel de Calheiros Velozo.

Recuperar a memória

A Capela de Portugal é um espaço nobre, situado à esquerda do altar-mor da catedral, com uma área de aproximadamente seis por quatro metros, que esteve encerrado ao público durante muitos anos. “Achei toda esta ideia deveras interessante. Este projeto visa dar vida a este espaço e faz jus a este acontecimento histórico que foi a presença de duas princesas portuguesas nesta parte da Suíça, no século 17.”

A Fundação procurou apoio junto do consulado-geral de Portugal em Genebra. A anterior cônsul-geral tinha sugerido que o consulado poderia apoiar financeiramente na aquisição do mobiliário. Por sugestão de Maria de Fátima Mendes, foram encomendadas algumas peças ao arquiteto português Álvaro de Siza Vieira: três bancos, um pequeno altar e uma cruz estilizada.

“A Fundação das Chaves de S. Pedro perguntou-me se o consulado assumiria as despesas relativas a essas peças de mobiliário. Respondi que não poderíamos disponibilizar verbas para isso, mas como o projeto me pareceu merecedor do maior empenho, comprometi-me a encetar contatos junto dos principais patrocinadores da comunidade portuguesa, nomeadamente os escritórios de representação dos bancos e algumas empresas, para saber se queriam associar-se a este projeto”, recorda o representante diplomático português.

Convocada uma reunião, foi obtida resposta afirmativa de três bancos: Montepio, Santander Totta e Novo Banco. A rápida mobilização do consulado sensibilizou muito a Fundação das Chaves de S. Pedro, que fez tudo para que a inauguração tivesse lugar ainda este ano, na festa nacional de Portugal, dia 10 de Junho. “As obras estão prontas, as peças de mobiliário já estão instaladas e estamos a ultimar os preparativos para a cerimónia de inauguração”, continua Miguel de Calheiros Velozo.

Entre as autoridades civis convidadas, estão o ministro da Cultura de Portugal, Luís Filipe de Castro Mendes, e representantes do Conselho de Estado e do Conselho Municipal suíços. O arquiteto Siza Vieira foi também convidado, mas respondeu que os 92 anos de idade não lhe permitem a viagem. O programa da cerimónia inclui atuações do Coro de Violas de Santa Clotilde e da Tuna Helvética de Verbais.

Emília de Nassau e Maria Belgia: duas vidas atribuladas

A Catedral de São Pedro em Genebra, transformada em templo protestante em 1535, foi distinguida com a Marca do Património Europeu, instituída pela União Europeia em 2011.

As lápides que na capela da catedral de S. Pedro, antes da Reforma chamada Capela de Nossa Senhora, assinalam a inumação de Emília d’Orange-Nassau e da sua filha mais velha, Maria Belgia, foram ali colocadas em 1910 a pedido de António de Portugal de Faria, Marquês de Faria, historiador de D. António Prior do Crato. As lápides estão encimadas pelos escudos de Portugal e da Holanda, porque Emília de Nassau tinha também ascendência holandesa.

Irmã do príncipe de Orange, Emília de Nassau casou, a 17 de novembro de 1597, com D. Manuel de Portugal, filho de D. António Prior do Crato. Aclamado rei em julho de 1580, António perdeu o trono um mês depois, na Batalha de Alcântara, contra as tropas de Filipe II de Espanha.

Depois do exílio da família em França e da morte do pai, D. Manuel de Portugal conheceu na Flandres Emília d’Orange-Nassau. Casaram-se em Haia e tiveram oito filhos. Quase três décadas depois, ele instalou-se em Bruxelas com os filhos e ela mudou-se para Genebra com as filhas.

Emília comprou em Genebra uma casa que corresponde ao atual número 7 da rua Verdaine e no cantão de Vaud, entre Rolle e Nyon, a Baronia de Prangins, que pertencia a Hans Roch de Diesbach. Não respirou muito tempo os ares helvéticos, tendo falecido em 1629, quatro anos depois de ter pisado Genebra.

Três meses depois da morte da mãe, em 24 de junho, Maria Belgia casou com o coronel alemão Johann Theodor Croll. Herdou a Baronia de Prangins, onde se instalou com Croll, para ali viver anos agitados numa relação que se rompeu com a partida do marido para Itália, onde foi assassinado. A princesa retirou-se então para a residência da rua Verdaine em Genebra, onde a 29 de julho de 1647 viria a falecer, com 48 anos.

Foi também o Marquês de Faria quem se encarregou de mandar colocar no castelo de Prangins uma lápide que recorda as duas proprietárias e na igreja de Bümpliz, no cantão de Berna, uma placa comemorativa que assinala o casamento de Maria Belgia e Johann Theodor Croll.

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