Para escrever o livro, os jornalistas Christian Chesnot e Georges Malbrunot contaram com um vazamento de documentos internos para uma ONG financiada pela família real do Qatar, revelaram os jornais suíços 24HeuresLink externo e Tribune de GenèveLink externo.
Esses documentos permitem avaliar a extensão do financiamento do emirado em projetos relacionados a organizações muçulmanas na Europa.
O livro afirma que a organização Qatar Charity financiou 140 mesquitas e centros islâmicos na Europa por 71 milhões de euros.
“O Qatar é hoje um dos principais protagonistas no financiamento do Islã na Europa”, comentou Georges Malbrunot, coautor do livro e repórter do jornal francês Le Figaro. A Itália é o principal país beneficiado, com mais de 50 projetos financiados.
Salário para acadêmico muçulmano suíço
Baseado em uma nota da organização francesa de monitoramento financeiro Tracfin, o livro revela ainda que Tariq Ramadan, o intelectual suíço preso na França por acusações de estupro e próximo à Irmandade Muçulmana, recebe 35.000 euros por mês da Qatar Foundation, outra ONG do emirado, como “consultor”.
Grande defensor do Islã na Europa, o ex-professor da Universidade de Oxford também teria recebido 19.000 euros da Liga dos Muçulmanos da Suíça no início de 2018, no momento de sua prisão na França.
Cinco projetos financiados na Suíça
Na Suíça, a ONG injetou entre 2011 e 2014 mais de 3,6 milhões de euros (4 milhões de francos) em cinco projetos de organizações muçulmanas em Prilly (cantão de Vaud), Biel (Berna), La Chaux. Fonds (Neuchâtel) e Lugano (Ticino).
Mohamed e Nadia Karmous, responsáveis do Museu de Civilizações Islâmicas de La Chaux-de-Fonds, teriam desempenhado um “papel central”. De acordo com o “Qatar Papers”, o casal, apreciado nas mais altas esferas do movimento Irmandade Muçulmana (“Frères musulmans”, em francês), recebeu pelo menos sete transferências de fundos para o museu, para um total de quase 1,4 milhões de francos.
Contatado pela equipe editorial dos jornais suíços, Mohamed Karmous não quis comentar o livro sem tê-lo lido, mas assegurou “respeitar as leis suíças”.
O Complexo Cultural Muçulmano de Lausanne em Prilly (1,6 milhão de francos) e a Mesquita Salah-Eddine, em Biel, também estão entre as estruturas que receberam dinheiro do emirado.
Tráfico de influência
“O Qatar se conecta com as redes ligadas ao movimento da Irmandade Muçulmana, o que facilita seu acesso”, afirma Georges Malbrunot.
“Há um enorme investimento do Qatar para influenciar o islamismo europeu”, disse o jornalista, observando que o emirado árabe impôs condições para sua ajuda ao museu de La Chaux-de-Fonds: “eles impuseram o hasteamento da bandeira, a presença de líderes do Qatar em reuniões importantes…”
Diante de Georges Malbrunot, o representante da Federação das Organizações Islâmicas da Suíça (FOIS), Pascal Gemperli, lembrou que o financiamento de todas as mesquitas do país era “98%” de origem suíça. “Estamos longe da inundação de fundos estrangeiros”, disse.
Pascal Gemperli acrescentou que a Qatar Charity tem parcerias com a Fundação Bill Gates, trabalha com o Programa das Nações Unidas para Alimentação, a Unicef e a Organização Mundial de Saúde. “Ela não é uma organização pária”, concluiu.
swissinfo.ch/fh
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