O que os suíços no exterior devem levar em conta ao voltar à pátria
Cerca de 24 mil suíços que vivem no exterior voltam para viver na Suíça todos os anos, e muitos outros contemplam a ideia de retorno. Existem recursos suficientes para ajudá-los a fazer a transição?
“Voltar sem um plano bem feito pode sair caro demais”, diz Anne-Christine Favrod. “Você precisa ter economias para pelo menos um ano”.
Favrod voltou recentemente para o seu país de origem depois de 12 anos no Reino Unido, e sem haver procurado trabalho na Suíça antes de se mudar. Ela pode contar com suas próprias economias, e com a ajuda de familiares e amigos, mas mesmo assim ainda está procurando seu caminho.
Favrod, natural do cantão do Valais, agora está procurando um emprego de meio-período até que consiga abrir seu próprio negócio de medicina complementar. Mas ela descobriu que o mercado de trabalho suíço é menos flexível do que na Grã-Bretanha, onde pôde acumular vários empregos para ganhar a vida. Seu contrato mais recente no campo da pesquisa médica foi encurtado quando o referendo do Brexit comprometeu o financiamento europeu para o projeto.
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“Preciso de alguém que me dê uma chance porque não tenho uma carreira muito tradicional, mas na Suíça, achar alguém que aposte em você é mais difícil e a cultura do trabalho não é nada relaxada”, diz ela. A busca de emprego continua.
Christian Hager voltou recentemente das Filipinas à sua Suíça natal – mas sem os seus filhos por enquanto.
“Eu não posso trazê-los ainda por razões financeiras”, diz ele. “Eu quero que eles vivam confortavelmente aqui na Suíça”.
Sarah Mastantuoni, diretora da Organização dos Suíços no Exterior (OSA), diz que seu escritório recebe cerca de 350 pedidos de consulta por ano de suíços que vivem fora do país e que desejam retornar. Muitas das perguntas têm a ver com as finanças e como encontrar trabalho, uma vez que a Suíça é um lugar caro para aqueles que recebem um salário de qualquer outro lugar do mundo. Sem trabalho na Suíça, o retorno à pátria fica muito mais difícil ou até mesmo impraticável.
Voltando de outros lugares da Europa
Em princípio, os cidadãos suíços que viveram no estrangeiro têm direito ao seguro-desemprego e aos auxílios sociais. Mas, de acordo com a Seção de Emigração Suíça do Ministério dos Negócios Estrangeiros, uma pessoa que fica desempregada em um país da UE / EFTA deve reivindicar benefícios lá antes de retornar à Suíça.
A Secretaria de Estado para Assuntos Econômicos (SECO) especifica que, antes de deixar o país em que vive, essa pessoa também deve solicitar a transferência dos benefícios para a Suíça usando um formulário especial chamado PDU2, ou “Permissão para receber benefícios de desemprego ao procurar trabalho em outro país”. Esse formulário é então registrado na secretaria de desemprego do município onde o suíço repatriado vai residir. A partir daí, ele ou ela deve aderir aos mesmos requisitos que os candidatos a emprego na Suíça (sessões de aconselhamento regulares, envio de um certo número de currículos, etc.) para continuar a receber os benefícios.
Os benefícios serão pagos pelo país de origem da pessoa por três a seis meses após a sua chegada à Suíça. Depois disso, se a pessoa ainda não encontrou um emprego na Suíça, mas quer continuar recebendo benefícios de desemprego, ele ou ela deve voltar para o país da UE / EFTA de onde veio.
No entanto, pode-se solicitar benefícios de assistência social na Suíça se ainda não tiver encontrado um emprego.
Favrod foi informada pela sua secretaria local de desemprego que ela só poderia reivindicar o seguro-desemprego da Suíça se fosse demitida de um emprego na Suíça – ou seja, ela deveria primeiro encontrar trabalho no país e depois perder esse emprego. Embora a Grã-Bretanha – ainda oficialmente um Estado da UE / EFTA – deva pagar seus benefícios por três a seis meses no âmbito do acordo de Livre Circulação de Pessoas, ela não requisitou isso antes de sair e, portanto, perdeu o direito.
Mas Favrod não sente que esses benefícios teriam ajudado muito de qualquer maneira, pois em geral eles pagam um máximo de 70 libras (cerca de 100 francos) por semana para pessoas com mais de 24 anos. Em comparação, os subsídios de desemprego suíços correspondem a 80% do salário anterior.
Recursos para quem procura emprego
Plataformas de realocação profissional estão disponíveis para suíços voltando do exterior, como o aconselhamento de empregos do EURES (Serviços de Emprego Europeus) na Suíça ou no país de onde estão retornando.
A SECO também aconselha começar a busca de emprego pelo menos dois meses antes da mudança de volta à Suíça. Neste caso, os suíços no exterior podem se inscrever no AVAM (banco de dados de agências de emprego público), enviando os documentoLink externos necessários por e-mail para info.eures@seco.admin.ch.
Voltando de fora da Europa
Suíços do exterior que retornam à Suíça a partir de um país não pertencente à UE / EFTA geralmente podem requisitar as prestações de desemprego suíço no cantão onde vão se estabelecer. Um guia da SwissemigrationLink externo para a readaptação lembra que aqueles que retornam de fora da Europa estarão segurados se 1) tiverem morado no exterior por mais de um ano; 2) estiveram empregados com remuneração por pelo menos 12 meses nos últimos dois anos; 3) fornecerem confirmação de um empregador da duração do emprego no estrangeiro; e 4) reivindicarem o seguro-desemprego no prazo de um ano a partir da volta à Suíça.
O montante da ajuda concedida a um cidadão suíço que retorna de fora da área UE / EFTA não é necessariamente 80% do seu salário anterior, tal como acontece com quem mora na Suíça. Em vez disso, a secretaria de desemprego ajusta o montante caso a caso, dependendo em geral do nível de educação da pessoa e do tipo de emprego anterior.
Os suíços voltando de fora da Europa também têm direito a certos benefícios sociais se cumprirem determinados critérios, de acordo com Mastantuoni.
Segundo ela, as autoridades irão considerar se o repatriado ainda possui imóveis no estrangeiro, e se possui bens suficientes para viver na Suíça sem benefícios sociais.
Planejando com antecedência
Além da incerteza sobre seus benefícios de desemprego, Favrod encontrou-se em uma situação anômala em relação ao seguro de saúde quando se mudou para a Suíça. A companhia de seguros precisava da prova de seu novo endereço suíço, enquanto as autoridades locais precisavam de provas de que ela tinha seguro-saúde para que ela pudesse se registrar em um endereço. Por sorte ela começou a sondar as agências de seguro antes de se mudar, e ela recomenda que outros em situação semelhante façam o mesmo para evitar atrasos e problemas logísticos.
Favrod também recomenda checar o site do município ao qual planejam se mudar para se informar da lista de itens que será necessário apresentar ao se registrarem. Entre os documentos mais importantes encontram-se um certificado do local de origem indicado no passaporte da pessoa (Heimatsort ou lieu d’origine), o livro de família, comprovante de endereço (contrato de aluguel, ou conta de luz ou telefone), e o certificado de casamento.
Mastantuoni diz que muitas pessoas contactam a prefeitura do município no qual pretendem morar alguns meses antes de se mudar, para obter orientações sobre registro e benefícios de assistência social.
“A parte mais difícil para os suíços que retornam do exterior é que a maioria das pessoas assume que eles conhecem o sistema só porque são suíços”, diz ela. “Mas com 26 cantões diferentes e vários pontos de informação, é muito fácil ficar perdido ao procurar ajuda”.
“Mas tudo o que é necessário está disponível, é só um pouco complicado do ponto de vista organizacional”.
Seguro-desemprego versus benefícios sociais
Seguro-desemprego refere-se a um salário mensal pago pelo governo a uma pessoa que está desempregada, geralmente por um período de tempo fixo. Na Suíça, o seguro-desemprego geralmente corresponde a 80% da renda anterior da pessoa, e aqueles que os recebem devem provar que tentam ativamente encontrar trabalho, muitas vezes com auxílio de um conselheiro da secretaria de desemprego.
Benefícios sociais representam o apoio financeiro a longo prazo do governo para as pessoas cuja renda está abaixo do chamado “nível de subsistência”, e com poucos outros ativos ou poupança. A Suíça garante aos seus moradores e cidadãos um direito básico de subsistência, com um “colchão” de auxílio social para aqueles que precisam.
Adaptação: Eduardo Simantob
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