Roche ganha “Oscar da Vergonha” em Davos
O grupo farmacêutico suíço Roche e o Royal Bank of Canada receberam nesta quinta-feira o prêmio Public Eye Awards 2010, atribuído pelas ONGs Declaração de Berna e Greenpeace às empresas com o pior comportamento social e ecológico.
No 11° Public Eye, realizado em paralelo ao Fórum Econômico Mundial, foi concedido pela primeira vez o “Greenwash Award”, dado ao projeto Mandato da Água.
As três instituições são acusadas de lidar de forma irresponsável com seres humanos e o meio ambiente. Isso mostra o lado sombrio de um ultraliberalismo desenfreado, movido pela ideia do lucro, disseram os organizadores.
Além da Roche, foram indicados ao prêmio de pior companhia ou entidade suíça o Comitê Olímpico Internacional (COI), acusado de aprovar os Jogos Olímpicos de Vancouver sem o consentimento das populações autóctones, e a empresa de comunicação Farner PR, que teria espionado para a indústria armamentista durante a campanha pela proibição da exportação de armas.
A Roche foi escolhida tanto pelo júri oficial, que lhe deu o chamado “Prêmio Suíço”, como pelo público, que lhe concedeu o prêmio popular – 20 mil pessoas votaram através de internet.
Ela foi criticada por estudos realizados na China sem supostamente conhecer a procedência dos órgãos doados. Segundo os organizadores do Public Eye, 90% dos órgãos transplantados na China procedem de presos executados.
Estratégia de maketing?
A Roche realiza desde 2008 dois estudos sobre o medicamento CellCept durch e diversas clínicas chinesas. CellCept é usado em transplantes para evitar a rejeição dos órgãos. “O medicamento está no mercado há anos. Questiona-se por que ele agora precisa ser testado nos chineses“, disse Arne Schwarz, da Declaração de Berna, à swissinfo.ch.
Schwarz investigou o “caso Roche” para a Declaração de Berna. Ele suspeita que os estudos são feitos por razões de marketing, para tornar o produto mais conhecido junto aos especialistas chineses em transplantes.
Não havia representante da Roche presente no Public Eye, em Davos, para receber o prêmio. Em resposta à nomeação, a empresa informou que não é responsável pela origem dos órgãos, que é seu direito não ter essa informação e que ela respeita a legislação chinesa.
O “petróleo mais sujo do mundo”
O prêmio global ficou com o Royal Bank of Canada, acusado de financiar a exploração do “petróleo mais sujo do mundo”, na província de Alberta, numa área maior do que a Suíça e a Áustria juntas, usando areia queimada, com graves consequências sociais e ecológicas.
Os finalistas do prêmio internacional foram a siderúrgica indiana Arcelor Mittal, acusada de explorar a mina mais poluente da África do Sul, e o grupo energético francês GDF Suez, por seu envolvimento na construção da usina hidrelétrica de Jirau no rio Madeira, em Rondônia, causando o deslocamento de milhares de residentes autóctones.
O projeto Mandato de Água, incluído no programa de responsabilidade corporativa da ONU, Global Compact, foi “agraciado” na categoria de entidades que se autodenominam “verdes”, mas na realidade não o são.
O Public Eye reprova a inclusão de empresas como Nestlé e Coca-Cola, “que, sob o logotipo da ONU, prometem combater a crise da água, mas em vez disso continuam com sua política de privatização de água”, disse Richard Girard, do instituto canadense Polaris.
swissinfo.ch com agências
A Roche anunciou que vai investir cerca de 100 milhões de francos para formar uma aliança estratégica com instituições científicas e médicas de Cingapura.
A Parceria Público-Privada (PPP) pretende construir um centro de pesquisa transnacional, que inicialmente empregará cerca de 30 renomados cientistas.
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