Suíça quer reforçar imagem no Brasil durante a Copa
Pesquisas de opinião mostram que os brasileiros desconhecem a Suíça. Para solucionar o problema, o governo decidiu lançar uma campanha milionária de comunicação de três anos para ser executada entre a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Seu coordenador é o embaixador Nicolas Bideau, chefe da Presença Suíça. Em entrevista à swissinfo, ele dá os detalhes.
Filho de um dos mais conhecidos atores suíços, o embaixador Nicolas Bideau chefia há mais de dois anos o órgão federal encarregado de promover a imagem da Suíça no exterior. Experiência é o que não falta ao diplomata de carreira: entre 2005 a 2010, ele foi chefe da Seção de cinema no Departamento Federal de Cultura em Berna, e portanto, conhecido no país como o “Monsieur Cinéma”.
swissinfo.ch: Quando foi realizada a pesquisa de opinião no Brasil e quais foram os resultados?
Nicolas Bideau: Essa pesquisa foi realizada no primeiro semestre do ano passado. O mais surpreendente foi descobrir que a Suíça praticamente não existe na percepção dos brasileiros e brasileiras. Eu estou acostumado a trabalhar com uma Suíça que existe, um pouco conservadora, mítica, com suas montanhas, o chocolate e os bancos. Porém esses elementos não são vistos no Brasil. Em si, a imagem da Suíça é positiva, mas na verdade trata-se de um país que os brasileiros não conhecem de verdade. Precisamos trabalhar para resolver essa questão.
swissinfo.ch: O que os brasileiros geralmente associam à Suíça?
N.B.: Os brasileiros nos veem no bloco europeu, ou seja, um bloco de países ricos, estáveis e fortes na educação e estabilidade política. Porém são respostas obtidas através do espelho, ou melhor dizendo, são as respostas dadas por brasileiros que simplesmente imaginam que a situação é melhor por se tratar de um lugar mais distante. Mas ao fazer questões mais precisas como, por exemplo, “que tipo de personagem você associa à Suíça?”, as respostas eram as mais interessantes. Um chegou a falar no Ibrahimović (n.r.: o jogador sueco de futebol Zlatan Ibrahimović). É uma pena que ele não seja suíço, pois assim seríamos melhores no futebol, mas com isso dá para ver que a comparação entre a Suíça e a Suécia é um pouco difusa.
swissinfo.ch: Nem as personalidades suíças de renome internacional como o Roger Federer chegaram a ser citadas?
N.B.: O Federer não era mencionado automaticamente, mas sim algumas poucas vezes. Já o Joseph Blatter (presidente da FIFA) sim, pois todos sabem que ele é suíço. Em si, os brasileiros veem a Suíça como um país estável e rico, com pessoas gentis, mas dá para ver que quando você faz questões precisas, as pessoas têm dificuldade de ver algo concreto.
swissinfo.ch: Para resolver esse problema de imagem, o governo suíço decidiu lançar uma campanha no Brasil. Do que se trata?
N.B.: Em primeiro lugar, é preciso compreender o porquê da necessidade de posicionar a Suíça no exterior. Todos sabemos que a imagem de um país é o marketing deste e ,portanto, uma forma de defender os interesses da Suíça, sejam estes econômicos, científicos ou políticos. A campanha foi lançada para ser executada entre 2014 e 2016 devido a dois grandes eventos esportivos. Tanto a Copa do Mundo como os Jogos Olímpicos são boas oportunidades para fazer campanhas patrióticas positivas. É muito difícil posicionar um país se você não está em um contexto que ajude. Os megaeventos esportivos são muito interessantes para nós, pois você tem um interesse midiático muito forte e, em segundo lugar, permite contar histórias nacionais sem dar a impressão de ser um patriota conservador. Esse programa voltado para o Brasil se justifica através do forte interesse que a Suíça tem no país em seus vários aspectos, seja a economia, ciência ou a política.
swissinfo.ch: E quais são as bases da campanha?
N.B.: A proposta que fiz ao governo federal foi a de realizar uma campanha de comunicação de três anos e não apenas de um ano, como fazemos normalmente. Um dos principais ângulos da campanha é a ciência, ou seja, queremos falar aos brasileiros da Suíça como centro internacional de pesquisas, das descobertas feitas, das suas inovações e dos sucessos do seu sistema de educação. O segundo ângulo é a economia. Também queremos falar da cultura. É muito interessante, mas sabemos que o Brasil é um país em plena efervescência cultural e que desenvolveu sua própria linha. Trata-se de um país original e bem diferente dos vizinhos na América Latina. Sentimos um interesse forte dos suíços no Brasil. Um exemplo é a Bienal de São Paulo que, em minha opinião, é uma das melhores bienais do mundo. Mesmo sendo menor do que a de Veneza, ela apresenta um frescor, uma linha, um gosto pelo risco, enquanto que a de Veneza mostra que ainda estamos no “Velho Continente”.
swissinfo.ch: Essa campanha tem um orçamento de 9 milhões de francos. Como isso será aplicado concretamente no Brasil?
N.B.: Primeiramente esses nove milhões irão nos permitir construir um centro onde a Suíça poderá se apresentar durante a Copa do Mundo. Além disso, ele nos permitirá construir a Casa da Suíça durante os Jogos Olímpicos. Penso que uma grande parte do orçamento será dedicado a esses dois grandes eventos. Então teremos também um programa, coberto pela metade do orçamento, que cobre esses três anos entre 2014 e 2016. Os nossos dois grandes eventos ocorrerão no Rio: por definição durante os Jogos Olímpicos e, por escolha, durante a Copa do Mundo, pois pensamos que o Rio de Janeiro será a capital do futebol. Já as outras diversas atividades da campanha irão depender dos interesses políticos, cientificos, econômicos e culturais. Penso que estaremos bastantes presentes em outras cidades do Brasil como São Paulo, especialmente durante os dois primeiros anos e menos no Rio. Isso, pois São Paulo é o pulmão econômico do país, além de ser o centro da ciência e da cultura. Ainda não temos uma definição exata dos eventos, pois depende também da colaboração com as empresas e dos nossos parceiros no setor científico.
swissinfo.ch: A qualidade de vida é um ponto central quando os brasileiros pensam na Suíça. Como isso pode ser transmitido através de uma campanha de comunicação?
N.B.: De fato, isso é algo muito subjetivo e difícil de comunicar. Será a nós de encontrar objetos e personalidades capazes de poder encarnar, através do seu trabalho e produtos, essa qualidade de vida. Nisso teremos de ser criativos. Poderíamos partir de um relógio, canivete ou até de um jogador da equipe de futebol para contar uma história sobre a Suíça e apresentar, dessa forma, esses valores. Mas senti no Brasil que ao questionar as pessoas sobre o que é importante para elas em relação à imagem de um país, elas geralmente respondem – e isso é bastante interessante: a educação, estabilidade política e a capacidade de inovação. Portanto, existe um interesse nessas áreas. E a Suíça tem muito para dar nesse sentido. Além disso, temos também a colônia suíça instalada no Brasil há vários séculos e que, em muitos casos, são pessoas que fazem parte das elites. Elas serão para nós como mediadores. Pretendemos, por exemplo, incluir as escolas suíças no Brasil no nosso programa de comunicação. Seus alunos, essa juventude, são muito importantes para nós. Eles conhecem a cultura dos dois países e poderão, dentre outros, contar suas histórias nas nossas redes sociais durante a Copa ou os Jogos Olímpicos.
swissinfo.ch: Apesar da imagem da Suíça ser positiva, a cobertura da imprensa brasileira sobre a Suíça é geralmente negativa. São casos de dinheiro da corrupção depositados em contas helvéticas ou outros problemas. Até que ponto isso influencia o trabalho da Presença Suíça?
N.B.: A imprensa costuma ser negativa em relação à Suíça em quase todo o mundo. Você tem razão: as disputas fiscais e os casos relacionados aos bancos tomam um grande espaço no noticiário. Às vezes isso é justificado e outras não. Mas essa é a realidade há dez anos. Nas mídias a Suíça é frequentemente criticada e isso ocupa muito mais espaço do que outros aspectos que poderíamos promover. Mas é importante ressaltar que a imprensa influencia a opinião pública, mas muitas vezes os povos têm uma certa distância em relação à ela. Também as pessoas têm outras experiências em relação ao próprio país. Porém, no caso do Brasil, a Suíça praticamente não existe na cabeça das pessoas. Por isso queremos trabalhar a imprensa mais intensamente do que o habitual. Assim iremos aproveitar do esporte para convidar jornalistas a vir à Suíça e mostrar-lhes não apenas os nossos jogadores, mas também coisas que estão além do mundo das finanças. Eles irão visitar as universidades, empresas ou a locais como Zermatt.
Nascido em 1969, Nicolas Bideau estudou em Lausanne, Bruxelas, Paris e Pequim e se diplomou em ciências políticas.
Em 1999 foi admitido no serviço diplomático do Ministério suíço das Relações Exteriores (DFAE, na sigla em francês).
Em 2003 foi nomeado conselheiro diplomático do presidente da Confederação Helvética, Pascal Couchepin, durante seu ano presidencial.
Em 2004 foi diretor do Centro de competência para a política estrangeira cultural do DFAE.
De 2005 a 2010 foi chefe da Seção de cinema no Departamento Federal de Cultura em Berna.
Em 2011, Bideau foi nomeado diretor da Presença Suíça, órgão federal encarregado de promover a imagem da Suíça no exterior.
Em 2012, Bideau recebeu o título de embaixador através do Conselho Federal (poder executivo).
É um órgão ligado ao ministério suíço das Relações Exteriores. Sua principal função é a promoção da imagem da Suíça no exterior segundo as estratégias definidas pelo governo federal.
Suas atividades são financiadas por um orçamento anual de 8,1 milhões de francos (2013), assim como contribuições extraordinárias do governo federal destinadas à participação suíça em exposições universais ou eventos internacionais de envergadura como os Jogos Olímpicos.
Presença Suíça foi criada em 2001 como uma unidade administrativa decentralizada e ligada ao ministério suíço das Relações Exteriores. Em junho de 2012 ela foi fundida com o Centro de competência para a política estrangeira cultural.
Dentre as atividades exercidas pela Presença Suíça: monitoramento da imprensa estrangeira, projetos de comunicação no exterior, apresentações suíças em grandes manifestações internacionais, desenvolvimento da rede internacional na Suíça, apoio informativo e de promoção e identidade visual.
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