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Olimpíada Alpina, uma competição “swiss generis”

O competidor Dominik Riechenbacher participa da brincadeira. swissinfo.ch

Uma celebração alpina premia os campeões em esportes inusitados. A "Olimpíada" na montanha de Gstaad oferece aos participantes a oportunidade de aferir talentos típicos dos fazendeiros suíços. A repórter da swissinfo experimentou as divertidas modalidades dessa competição sui generis, ou melhor: "swiss generis".

O lugar da competição é inspirador. No monte Wispile, a 1911 metros acima do nível do mar, um chalé se debruça sobre o vale de Gstaad. Reunidos no amplo terraço, famílias locais e visitantes conversam alegremente sob o último sol de outubro. Temos um dia formidável e estou confiante de que vou me sair bem nessa competição.

Talvez a sorte esteja do meu lado justamente porque esta edição das “Olimpíadas Alpinas” não é reservada aos verdadeiros atletas: os fazendeiros suíços. Há mais curiosos do que craques por aqui. As modalidades oferecidas -“Ordenha”, “Arremesso de Ferradura”, “Martelagem de Pregos” e “Boliche de Toco” – fazem parte da rotina de quem trabalha no campo e é como se diz por essas bandas: “Übung macht den Meister”, ou “o treino faz o mestre”.

A organizadora do evento Elisabeth Bieri conta que já é a quarta edição, mas que nos anos anteriores não tiveram grande quórum devido à chuva. Hoje ela estima que umas 400 pessoas comparecerão, das quais 60 devem competir. 

Sem demora, círculo pelo lugar observando as diferentes estações e avaliando as minhas chances. Que surpresa! Há também uma goleira. Se tudo der errado, ainda posso apelar para o gingado brasileiro.

Na parte central do terraço me deparo com um simpático jovem. É Lorenz Hefty, fazendeiro de 24 anos de Saanenland, voluntário da organização. Ele conta que tudo é brincadeira, pois competição de verdade é só para “atletas” como ele, e recorda uma primavera anos atrás, quando foi a Emmental junto com seus camaradas para uma competição “séria”.

“Éramos cinco pessoas no celeiro. Não vencemos, mas foi muito divertido”, disse com um sorriso maroto e as bochechas coradas do sol alpino. Hefty sonha em ver o evento de Wispile crescer e se tornar importante, fortalecendo ainda mais o turismo, base da economia local. Segundo dados da Federação Suíça de Turismo, somente em 2014 esse setor gerou CHF 38,5 bilhões de lucro no país, dos quais CHF16 bilhões saíram de bolsos estrangeiros.

À minha frente estão dois irmãos da Alemanha, os jovens de Hessen, Mathias e Andreas Alutei, de 14 e 11 anos. “Achei legal, pois experimentamos o que os fazendeiros vivem no dia-a-dia”, diz Mathias. “Arremesso de Ferradura é o melhor. Voltaremos ano que vem”, completa Andreas.  

Ordenha de vaca

Encorajada pelos adolescentes, arregaço as mangas e encaro a ordenha. Por respeito aos animais, trata-se apenas de uma boneca. O trabalho, porém, não é necessariamente mais fácil para uma iniciante como eu. Desengonçada, me equilibro em um banquinho de uma perna só, que fica afivelado à minha cintura para não cair. Tenho três minutos para retirar o máximo de leite que conseguir.

Hefty dá a dica: “jogue seu peso um pouco mais para a frente”. Procuro me acomodar, quase de cócoras, antes de ouvir a partida: “Drei, Zwei, Eins, Los!” Três, dois, um, vai!. Começo a puxar vigorosamente as tetas de borracha, mirando o jato de leite na caneca abaixo. Meus joelhos estão em ângulo fechado e o esforço necessário é digno dos terríveis agachamentos da aula de ginástica localizada.

“Vai, você consegue”, me estimula meu novo pseudo personal trainer. Após o primeiro minuto, o antebraço está doendo e as palmas das mãos coçam. Determinada, sigo ordenhando. Crianças e curiosos se aglomeram ao redor e posso ouvir cochichos e risadinhas.

A autora testando o lançamento de ferraduras. swissinfo.ch

O segundo minuto passa e faltam apenas 30 segundos. Sinto gotas de suor brotando na testa, enquanto tento ingloriamente equilibrar os óculos escuros na ponta do nariz. Por um segundo me distraio e constato que errei feio a pontaria. Minhas calças estão encharcadas de leite. Ao grito de “Halt”, Pare!, cesso os movimentos. Hefty mede: 800ml. “Nada mau”, avalia. Pergunto qual foi o melhor resultado e ele conta que alguém já conseguiu 2,5 litros.

Ferradura da sorte

Desesperançada, sigo para o “Arremesso de Ferradura “. A regra é simples: seis ferraduras em um alvo no campo aberto. Quanto mais próximo do pino central você acertar, mais pontos vai marcar. A mágica da boa-sorte das ferraduras funciona. Conquisto 12 pontos! Próxima parada: “Martelagem de Pregos”.

Em um minuto é necessário enterrar três pregos longos em uma tora de madeira. Carpinteiro da região, Dominik Riechenbacher ganha a vida construindo chalés. Ele diz que a modalidade representa bem a ideia de “tradição”, por referenciar a rotina de trabalho local. Com muita concentração completo a prova sem martelar o polegar, mas excedo o tempo previsto, recebendo apenas um ponto de consolação.

É necessário aguardar na fila do “Boliche de Toco”, esporte mais popular entre as crianças. Nove pinos de madeira precisam ser derrubados por um pedaço de tora arredondado, que lembra uma bola. Os pequenos se saem muito bem. Eles simplesmente jogam com força e as imperfeições da superfície se encarregam de fazer a peça atingir o alvo.

Na minha vez, calculo a inclinação da trajetória, a velocidade do vento, o peso e as saliências da bola. Corrijo todas essas variáveis com uma mira calibrada, mas só consigo derrubar um único pino. Aparece o irmão de Lorenz, o eletricista Oliver Hefty de 19 anos. Ele me incentiva a persistir: “Complete o circuito. Só faltam os pênaltis”.

Aceito o convite, afinal, não é todos os dias que um jovem sarado me chama para marcar uns gols. Respiro fundo, canalizando meu Neymar interior. Consigo quatro acertos em cinco tentativas. É gol do Brasiiiillll!!!

Encerro a participação nas “Olimpíadas Alpinas” sem saber se sou campeã, mas me sentindo definitivamente vitoriosa. Como tudo que é sério na Suíça, a comunicação será feita por carta dentro de algumas semanas. Dedos cruzados e pensamento positivo, se tudo der certo faturei uma medalha de ouro e tickets para toda a família andar de esqui em Gstaad.

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