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Vaticano revela seus “segredos de polichinelo”

O arquivo do Vaticano, uma incrível fonte de conhecimento histórico longa de 85 km. Ufficio stampa Archivio Segreto Vaticano

Pela primeira vez, o público tem acesso a centenas de documentos valiosos, inclusive dois da Guarda Suíça.

Na exposição “Lux in Arcana”, realizada nos Museus Capitolinos, em Roma, o público descobre os tesouros escondidos no Arquivo Secreto do Vaticano.

Trata-se de documentos dos mais diversos, como os autos do processo por heresia contra Galileo Galilei, a bula de excomunhão de Martinho Lutero, a carta de Michelangelo sobre seu trabalho na Basílica de São Pedro e até o chamado “período fechado” do papado de Pio XII, que liderou a Igreja Católica durante os anos da Segunda Guerra Mundial.

É uma herança de valor inestimável guardada a sete chaves no Arquivo Secreto do Vaticano. 100 de seus documentos – os que não são mais segredo para ninguém – estão sendo apresentados pela primeira vez da história ao público leigo.

“O objetivo é desmascarar o mito de magia e a áurea de mistério que rodeia esta imensa quantidade de saber”, explica à swissinfo.ch John Venditti, arquivista do Vaticano e curador da exposição junto com Alessandra Gonzato, Marco Maiorino e Pier Paolo Piergentili.

85 quilômetros

Quatrocentos anos depois da criação dos arquivos, em 1612 pelo Papa Paulo V, a mostra Lux in Arcana revela uma incrível fonte de conhecimento histórico longa de 85 quilômetros.

“Esse fato não é uma lenda, alinhando todas as prateleiras do arquivo atingimos um comprimento de 85 quilômetros. Para a exposição, escolhemos documentos baseados em personalidades ou acontecimentos cruciais para a história da humanidade, abrangendo todos os continentes”, diz Venditti.

Alguns são surpreendentes, como a carta de pura seda, guardada em uma caixa de bambu, escrita em 1650 pela imperatriz da China, a viúva Wang, a Inocêncio X para contar a notícia de sua conversão e a de seu filho, o Imperador Yong-li (que passaram a se chamar Helena e Constantino), ou uma carta escrita em casca de bétula em 1887 por Pierre Pilsémont, chefe dos índios Ojibwa (atual Canadá), à Leão XIII para lhe agradecer o envio do primeiro Vigário Apostólico àquelas terras.

“Esses dois documentos foram selecionados para mostrar ao público os diferentes tipos de documentos e a grande diversidade de materiais preservados no Arquivo Secreto do Vaticano, variedade também testemunhada pelos selos de cera ou de ouro que muitas vezes os acompanham”, comenta o arquivista.

Guarda Suíça

A Suíça não poderia ficar de fora da exposição, representada por dois importantes documentos sobre a Guarda Suíça Pontifícia: o alistamento do primeiro contingente e o regulamento da tropa. O primeiro encadernado em pergaminho, o segundo em veludo.

O documento de inscrição do primeiro contingente é datado de 21 de junho de 1505. Foi Júlio II que iniciou as negociações para celebrar um acordo com os cantões suíços para a realização de uma convenção militar.

Através da mediação de Peter von Hertenstein, um cônego de Zug (centro), ficou determinado que os soldados suíços não seriam usados para guerra, apenas para a segurança pessoal do Papa e para a defesa da Santa Sé.

Regulamento da tropa

Em 22 janeiro de 1506, os primeiros cento e cinquenta guardas vieram a Roma, sob o comando de Kaspar von Silenen, natural do cantão de Uri (centro). Em 1510, o Papa Júlio II estipulou um novo acordo concedendo aos soldados suíços o título de “defensores da liberdade da Igreja”.

O documento do regulamento das tropas é datado de 20 de março de 1561. Em mais de meio milênio à serviço do pontífice, houve apenas uma ocasião em que foi suspendido o envio de soldados para a Cidade Eterna. Foi após o “Saque de Roma” em 1527, quando cerca de 189 soldados lutaram em defesa do Papa Clemente VII. Apenas 42 sobreviveram.

Foi preciso um pouco mais de vinte anos, quando, em 1548, foi acertado um novo tratado entre os cantões suíços católicos e os Estados Pontifícios. Em 17 de março de 1559, o novo capitão Kaspar Leo von Silenen, descendente do primeiro comandante, estipulou com a parte suíça a convenção apresentada em 20 de março de 1561 ao Papa Pio IV para aprovação.

O texto, que não economiza no latim, foi arquivado como Capitula pro strenuo domino Gaspare Syllano capitaneo Helvetiorum Suae Sanctitatis e é dividido em doze pontos que regulam cada aspecto da Guarda Suíça Pontifícia, incluindo a roupa: o documento estabelece, entre outras coisas, que os uniformes devem ser trocados a cada oito meses.

“Período fechado”

A exposição se desdobra em sete seções: Tiara e Coroa (onde há dois documentos sobre a Guarda Suíça); Segredos dos Conclaves; Santos, Rainhas e Cortesãs; Reflexão e Diálogo; Hereges, Cruzados e Cavaleiros; Cientistas, Filósofos e Inventores; Ouro e Tinta.

A exposição termina com o chamado “período fechado” do pontificado de Pio XII. “É assim chamado porque, como todos os arquivos, até mesmo o do Papa conserva documentos que não estão disponíveis. Atualmente, nossos documentos que estão disponíveis só para os pesquisadores vão até fevereiro de 1939, quando termina o pontificado de Pio XI. Os documentos relativos a Pio XII e aos papas seguintes ainda precisam serem abertos para a comunidade científica”, conclui Venditti.

Por esta razão, os documentos do “período fechado” da exposição tiveram que ter uma autorização especial, assinada pelo Papa Bento XVI, para deixar a Cidade do Vaticano.

Os Arquivos Secretos do Vaticano (em latim: Archivum Secretum Vaticanum, em italiano Archivio Segreto Vaticano), localizados na Cidade do Vaticano, é o repositório central de todos os autos promulgados pela Santa Sé.

Estes arquivos também contêm os documentos sobre a administração do Vaticano, correspondência e livros de papas, processos da Inquisição, e muitos outros documentos que a Igreja Católica tem acumulado ao longo dos séculos.

No século XVII, sob as ordens do Papa Paulo V, o Arquivo Secreto foi retirado da Biblioteca do Vaticano e permaneceu totalmente fechado para pessoas não-autorizadas até o final do século XIX, quando foram abertos parcialmente pelo Papa Leão XIII.

Estima-se que os Arquivos Secretos do Vaticano contém 85 quilômetros de prateleiras, e existam 35.000 volumes no catálogo seletivo, porém “a publicação dos índices, em parte ou como um todo, é proibido”, de acordo com os regulamentos atuais estabelecidas em 2005. Os Arquivos Secretos possuem seus próprios estúdios fotográficos e salas de conservação.

Segundo o Vaticano, o documento mais antigo remonta ao final do século VIII.

(Fonte: Wikipédia em português)

A exposição Lux in Arcana – O Arquivo Secreto do Vaticano se revela foi inaugurada em 1° de março nos Museus Capitolinos de Roma, e estará aberta ao público até 9 de setembro.

Acesso ao público de terça a domingo das 9 às 20 horas.

Adaptação: Fernando Hirschy

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