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Timidez faz da Suíça país difícil para encontrar a cara metade

Mulher dormindo em uma cama
Encontrar o parceiro ideal não é fácil mesmo com ajuda da internet, dizem algumas das entrevistadas. swissinfo.ch

Um milhão e meio de habitantes da Suíça estão solteiros. Muitos deles utilizam a internet para encontrar um parceiro, como é o caso de imigrantes brasileiras. Porém elas enfrentam a célebre timidez dos homens suíços, considerados até pelos jornais do país como "ruins" de paquera. Algumas vão à ofensiva e apelam para truques incomuns.

Mas quem quer, vai à luta. Os modos recatados têm influenciado o papel da mulher durante a paquera, principalmente da latina, que precisa assumir postura mais ativa e abordar o homem. A mudança de atitude modifica até mesmo o comportamento digital. É atrás das telas onde muita gente se conhece, fortalecendo o negócio de agências de namoro e de aplicativos de relacionamentos. Apesar das barreiras, as brasileiras na Suíça contam que desenvolveram estratégias para conseguir um namorado. 

Grande número de celibatários

De acordo com pesquisa da agência de relacionamentos on-line Parship.ch, existem cerca de 1,5 milhão de solteiros entre 18 e 69 anos no país. Cerca de dois terços deles estão há muito tempo abertos a conhecer alguém. Essa estatística está em franco crescimento. A pesquisa mostra que esse índice é significativamente maior hoje do que apenas cinco anos atrás: em 2012, apenas 29% disseram que eram solteiros, em comparação com os 36% atuais. 

E como falta coragem, o jeito é apelar para os sites de relacionamento ou ajuda profissional. Em entrevista à CNN Money, Ursula Kaspar, coordenadora de um estudo feito sobre esse mercado na Suíça, revela que a internet é uma importante ferramenta para conhecer pessoas no país: 34% dos entrevistados usam ou já estiveram ativos em um portal de namoro. A análise foi realizada pela agência Marketagent.com.
 
Características como recato, traços culturais, comprometimento integral com o trabalho, além de comportamentos típicos da modernidade, como olhar voltado para o telefone celular, são alguns fatores que contribuem para o alto índice de solteiros e para a quantidade de pessoas que gostariam de buscar um parceiro, mas não o fazem e continuam sós. No caso dos estrangeiros, e aí entram os brasileiros, a rede de contatos reduzida também dificulta. Isso sem falar na forma diferente de flerte entre as duas sociedades. 

Mulher
Trea Tijmens, diretora da empresa Success Match. Imag’In Créations

Timidez e falta de autoconfiança

A formadora de casais (em inglês matchmaker) Trea que trabalha com clientela internacional e local na Suíça, dá o seu diagnóstico: falta mais coragem para correr atrás desse objetivo e o ambiente não estimula o primeiro passo. De acordo com Trea Tijmens, diretora da SuccessMatch e HIM Matchmaking, 95% dos homens com os quais já conversou sobre o assunto disseram nunca terem abordado uma mulher.

– Mas basta olhar ao redor para perceber o óbvio: muitas pessoas parecem que não querem ser abordadas, poucas trazem no semblante um sorriso, a maioria bloqueia os assentos do trem ou dos ônibus com a bolsa e ainda mantém o olhar focado na tela do celular. Não me surpreende que elas tenham problemas para encontrar alguém” – explica Trea, que mantém sua agência em Genebra, mas atua na Suíça inteira, e está no mercado há mais de 12 anos.

A psicóloga do Parship.ch, Barbara Beckenbauer, reitera: poucos fazem algo ativamente para encontrar o parceiro dos sonhos. “Muitos desejam alguém, mas ao mesmo tempo acreditam que o homem dos sonhos ou a mulher baterá à porta de repente. Isso é uma ilusão. Aqueles que ativamente e especificamente buscam naturalmente têm mais chances”, diz.

Os homens alegam que não se aproximam porque as mulheres, principalmente as suíças e alemãs, se irritam quando abordadas.  Para o alemão Klaus Schneider*, que vive no país há 18 anos, a mulher suíça reclama quando é abordada, mas ao mesmo tempo se queixa de que não tem namorado. “A impressão que tenho é que ela só aceitaria uma investida daquele homem especial, que precisa justamente ter poder de adivinhação para saber que ele é o escolhido”, confidencia.

Obstáculo

A questão atinge a todos que estão em busca de alguém, locais e estrangeiros, mas obviamente causa mais estranhamento a quem não está acostumado com o jeito de paquera mais lento e fechado. De acordo com Trea, seus clientes são formados por pessoas com alta qualificação profissional, vivência no exterior e ainda assim muita dificuldade para conhecer pretendentes. Assim como em fóruns de expatriados, eles reclamam que não conseguem puxar conversa com possíveis alvos.

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O jeito de paquerar também é cultural

Este conteúdo foi publicado em Todo mundo flerta e se relaciona amorosamente; a distinção está na maneira. Para iniciar uma relação amorosa ou sexual, os primeiros passo são o olhar e a abordagem, fenômeno conhecido como paquera. Nesse quesito específico, as sociedades brasileiras e suíça se desencontram. Enquanto no Brasil, é feita abertamente; em Terras Helvéticas, na maior parte das…

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– Como trabalham muito e geralmente não têm rede de contato ampla na Suíça, os estrangeiros se veem diante de duas opções: ou se acostumam com a vida de solteiro – o que não é uma opção. As outras duas alternativas seriam procurar um relacionamento em seu país de origem, ou buscar ajuda profissional. Eles me contratam como conselheira e coach, porque já atingiram sucesso na carreira, mas sentem que falta algo – explica Trea, que oferece workshops para homens e mulheres sobre como flertar, além do serviço de matchmaker, que significa basicamente achar um parceiro ou parceira que tenha a ver com a pessoa que a contrata.

Suíço não é bom de paquera

O próprio Jornal Blick traz uma matéria com o título de “Nós suíços somos paqueradores trapalhões, em alemão Wir Schweizer sind Flirt-Stümper. O texto fala sobre as impressões dos estrangeiros sobre flertes no país. Os entrevistados taxam os locais como avarentos, desencorajados e distantes. Moças reclamam na matéria que são abordadas geralmente por espanhóis. Os suíços são taxados de pão duros porque, já no segundo encontro, querem dividir a conta.

A aconselhadora psicológica Graziela Birrer, que é brasileira e atende a vários conterrâneos em seu consultório em Baden, Zurique e Lucerna, diz que o tema é recorrente em seu consultório. De acordo com Graziela, suas clientes que querem se relacionar reclamam que não se sentem desejadas quando saem à noite, parecendo que se tornaram transparentes desde que emigraram. “São pessoas que, no Brasil, sempre chamaram a atenção masculina. Pela expectativa que trazem, se frustram quando comparam o comportamento dos homens latinos com o dos suíços. Elas interpretam como aparente falta de interesse, o que reflete diretamente na autoestima”, explica.

Para a psicóloga e especialista em culturas Gabriela Broll Ribeiro, que fez mestrado em Comunicação Intercultural na Universidade de Lugano, não se deve generalizar e estereotipar uma cultura, dizendo que o suíço é tímido e o brasileiro é aberto. No entanto, como a cultura se reflete nos atos, é possível entender que o comportamento mais fechado influencie em como a pessoa age quando flerta. “Se o padrão comportamental segue uma linha mais branda no que diz respeito a se relacionar e a se aproximar de estranhos, em comparação com outro grupo social, claramente teremos menos velocidade quando trata-se de paquera”, explica.

Brasileiras encontram hesitação

Para confirmar a timidez local, Leandra* conta que passou uma vez por uma situação muito estranha envolvendo um pretendente suíço, pelo qual se interessou em uma festa. “Perguntei a um amigo quem era aquele rapaz. Então, esse conhecido em comum se ofereceu para nos apresentar, e ainda complementou com a informação de que ele já havia perguntado quem eu era. Ou seja, também tinha se interessado por mim. Só que na hora em que foi chamado para me conhecer, aconteceu algo bizarro: o rapaz se escondeu atrás do amigo em comum, demonstrando insegurança. Ali perdi o interesse”, conta a carioca Leandra, que vive no país há dez anos.

A paulista Renata Autran constatou a dificuldade de se relacionar logo que ficou solteira novamente. Segundo Renata, o homem suíço dificilmente toma a iniciativa: tanto para se aproximar quanto para o primeiro beijo. “Percebi que quem dá as cartas aqui é a mulher. No Brasil não funciona assim, não é? Mas as minhas amigas brasileiras diziam:  se você não iniciar a conversa, nada vai acontecer. Quantas vezes fui a bares com minhas companheiras e tive que fazer a abordagem. Eu sabia que o cara estava interessado, mas ele não dava o primeiro passo. Muitos não sabem o que dizer e não saem das duas primeiras perguntas: o que você faz aqui e qual a sua profissão. Alguns só se aproximam quando estão bêbados”, conta Renata, que está há dois meses namorando por conta do aplicativo de relacionamentos Tinder, que ela diz ser a salvação dos namoros.

Outra paulista que não quis se identificar contou que, de tanto voltar para casa sem conhecer ninguém, começou a traçar estratégias para abordar os homens interessantes nas baladas. “Eu me cansei de sair no zero a zero. Os bares estão cheios de homens lindos. E eu ficava pensando: o que eu vou dizer? A frase Você vem sempre aqui é horrível. Até que descobri a fórmula: peço um drink no balcão do bar, sempre ao lado do que me interessou, e na hora que a bebida chega eu olho para ele e digo: tim tim”, confidencia às gargalhadas. A entrevistada conta que a estratégia tem dado certo.

Mulher
Elisa Tripet: “Eles observam a mulher até o olho quase cair, mas não se aproximam…” swissinfo.ch

A suíça-brasileira Elisa Tripet, que cresceu em Fortaleza mas vive em Lausanne há três anos, também confirma a dificuldade da primeira abordagem. “Eles observam a mulher até o olho quase cair, mas não se aproximam. É muito difícil. Eu, que vim de Fortaleza, onde paquera é uma atividade tão corriqueira, estranhei muito esse jeito de se relacionar daqui”, explica Elisa, que está namorando há três meses. Ela faz questão de contar que só mudou da fase de conhecido para namorado porque tomou a iniciativa de convidá-lo para sair. Ela conta que conheceu o namorado em uma festa e após três semanas, o rapaz ainda não havia feito contato, embora os sinais demonstrassem seu interesse por ela. Elisa não esperou mais, foi ao aplicativo de relacionamentos Tinder, localizou o alvo e o convidou para sair.

Um em três casamentos binacional

A baiana *Ana Maria diz que só conseguiu arrumar namorado devido ao Tinder. “Se não fosse o aplicativo, não conheceria ninguém. Flertar na noite aqui é totalmente diferente do Brasil. Parece que não chega nunca ao objetivo, que é iniciar um contato”, explica. A paulistana *Mariana Baroni relata que se não fosse o site badoo.ch, ela não sairia da fase platônica dos olhares. Mariana conta que até on line os suíços são mais discretos. Ela mantém dois perfis: um em Portugal e outro na Suíça. No Badoo lusitano, ela recebe até 180 curtidas por semana, no da Suíça, são no máximo cinco.

Assim como Elisa, parece que as brasileiras estão conseguindo burlar essa barreira. Um em cada três casamentos na Suíça é binacional, de acordo com estatísticas federais. Mas no caso dos casamentos entre suíços e estrangeiras, as conterrâneas continuam entre as preferidas, segundo o site binational.ch. O porquê não se sabe, mas isso é assunto para uma outra matéria.

*Alguns nomes foram trocados para manter a privacidade dos entrevistados

A matchmaker Trea Tijmens ensina que para começar a namorar é preciso antes promover uma limpeza interna, uma faxina de dentro para fora. Aliado a esse conselho, Trea explica que prepara mulheres holisticamente para que consigam criar oportunidades para um novo relacionamento.

– Eu quero que minhas clientes consigam reconhecer oportunidades e que ajam esses momentos cheguem. Chances acontecem no nosso dia a dia, podem ser no trem, no supermercado, no ônibus. Só que muitas pessoas nem reconhecem”, enfatiza, que trabalha preparando a mente dos clientes para lidar com situações de paquera.

Mas para isso é necessário sair da zona de conforto. Se tem filhos, ela aconselha envolvimento na escola. É preciso tomar atitudes para aumentar a rede de contatos, como se matricular em um curso, ou entrar em uma Verein (clube de atividades específicas, bem comum na Suíça.

A profissional diz que aconselha seus clientes a limparem a mente de ideias negativas, com frases de efeito que minam a autoconfiança como “os bons já foram fisgados”, “Eu não mereço uma pessoa legal” ou “Por que essa pessoa se interessaria por mim?”.

Para os estrangeiros, ela avisa: não é interessante você se etiquetar como expatriado, caso seja esse o seu caso. Embora haja 2 milhões de estrangeiros na Suíça, os locais mantêm suas amizades construídas desde a infância. Dessa maneira, se a pessoa reforça o fato de que é um expatriado, o que tem uma conotação mais temporária, pode passar a imagem de que irá embora logo, não valendo a investida. A dica é: “diga que você mora aqui agora”.

Outra lição que a faz questão de passar é sobre o sorriso. “Sorria, faço do mundo um lugar mais humano. Eu te garanto que vai ajudar a atrair um relacionamento”, diz a especialista. Trea conta que o exemplo de uma de suas clientes, que reclamava que ninguém falava com ela, mas que após seguir o seu conselho, foi abordada por um homem interessante.

E outro conselho valioso, principalmente para os bem-sucedidos profissionalmente. “Muita gente acha que aquela pessoa está muito feliz sozinha e que não procura ninguém. Além disso, não vão querer se intrometer ou tocar no assunto, já que é privado. Dessa maneira, aconselho que o assunto seja inserido durante o almoço ou até mesmo durante o café no escritório, mas sempre de maneira sutil: “diga que está em busca de uma pessoa para formar uma família, ou de um relacionamento estável, sem conotação de desespero ou desânimo”, explica.

Você está emocionalmente pronto? – Perguntas como seu ex realmente ficou no passado precisam ser respondidas. O futuro relacionamento não quer ouvir sobre relações passadas.

Namorar é uma prioridade? – é preciso se fazer disponível para um relacionamento, investir tempo e esforço.

Felicidade – Só você é responsável por sua felicidade. Pessoas felizes são ótimas em se ter por perto e isso ajuda na busca de um relacionamento. É importante sentir-se bem (emocionalmente e fisicamente) e seguro.

Tenha uma mentalidade positiva – Seja otimista e aberto em conhecer outras pessoas solteiras. É preciso manter o espírito de querer descobrir coisas boas nos outros, como também em si mesmo.

Mantenha o sorriso no semblante sempre.

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