“Ciência na cabeça, mas a fotografia no coração”
A fotógrafa Daisy Gilardini é originaria do cantão do Ticino e vive hoje no Canada. Em 2018, essa suíça de 50 anos foi promovida pela revista "Canadian Geographic" a "Photographer-in-residence" (fotógrafa da casa). Contadora de formação, hoje ela se especializou em fotografar animais nas regiões polares.
swissinfo.ch: Quando e por que você saiu da Suíça?
Daisy Gilardini: Eu sai da Suíça em 2012 para viver com a pessoa pela qual me apaixonei. Meu marido se chama David McEown, um pintor de aquarelas no Canadá. Foi por isso que emigrei.
swissinfo.ch: Foi uma viagem sem retorno ou você ainda pense em viver um dia na Suíça?
D.G.: Eu amo a Suíça, um país que sempre considerarei como a minha pátria. Mas eu encontrei um bom lugar para viver no Canada, especialmente devido à minha profissão. Eu tenho dúvidas se irei retornar algum dia. Porem nunca abdico de fazer a minha viagem anual à Suíça.
As opiniões manifestadas neste artigo, dentre outros sobre o país de acolho e sua política, são pessoais e não correspondem às posições da plataforma de informações swissinfo.ch.
swissinfo.ch: Como é o seu trabalho?
D.G.: Quando era criança sonhava em ser veterinária. Eu sempre gostei da natureza e dos animais. Porem muitas vezes a nossa vida toma uma direção diferente e eu acabei me tornando contadora. Depois de concluir o meu mestrado, abri então a minha própria empresa de contabilidade.
Durante um tempo e, graças também a uma boa dose de organização e planejamento, consegui conjugar as minhas obrigações profissionais e a minha paixão por viagens, natureza e fotografia. Eu delegava alguns contratos a outros e em algum momento cheguei até mesmo a contratar uma assistente para me ajudar no escritório.
Porém cada vez que eu retornava, eu me sentia deprimida e não preenchida profissionalmente. Então comecei a escrever artigos e procurava revistas que tivessem interesse em publicá-los. Era como se eu tivesse dois empregos. O meu dia começava às sete horas da manhã e terminava à meia-noite. E isso durante os sete dias da semana.
Dizem que a chave para o sucesso é acreditar nas suas habilidades. Paciência, paixão e persistência acabaram levando ao sucesso. Então finalmente consegui publicar meu trabalho. Em 2006 me tornei fotógrafa profissional. Eu trabalho hoje como fotógrafa de natureza e ambiental, especializada em regiões polares e nos ursos norte-americanos.
swissinfo.ch: O que você gosta tanto nos animais das regiões polares?
D.G.: Minha paixão pelos animais vem de longas datas. Quando tinha quatro anos, eu recebi dos meus padrinhos uma foca de pelúcia. Minha mãe me explicou na época que esses animais vinham de regiões muito frias, nos gelos polares. Eu nunca mais esqueci essa história. Desde então sempre sonhei em ver uma vez esses animais no seu habitat natural.
Eu precisei trabalhar sete anos até juntar dinheiro suficiente para visitar o Antártico. Essa viagem acabou mudando completamente a minha vida. Foi em 1997. Desde então já participei de setenta expedições às regiões polares.
Muitas vezes tentei entender o irresistível magnetismo que as regiões polares têm para mim. Eu quase chamaria isso de vício ou obsessão. O fato de você estar isolado da civilização moderna e de todas as suas distrações faz com que eu me concentre e aprecie os ritmos simples da natureza.
swissinfo.ch: Que papel desempenham a natureza e o meio ambiente na sua vida?
D.G.: O sentimento de redescobrir a conexão original com a natureza e as inter-relações entre as espécies na Terra despertam em mim um profundo respeito e consciência da importância desses frágeis ecossistemas.
Se a humanidade quiser sobreviver e crescer junto com o nosso planeta, então temos que agir com responsabilidade. Devemos humildemente afirmar que a natureza não depende de nós. Nós é que dependemos dela. E nós, como fotógrafos, temos o dever de capturar a beleza de lugares e espécies ameaçadas e de aumentar a conscientização através do poder universal das imagens.
Enquanto a ciência fornece os dados necessários para esclarecer os problemas e propor soluções a eles, os fotógrafos transformam esses problemas em símbolos. A ciência é o cérebro. A fotografia é o coração. Nós precisamos dos dois para alcança a compreensão humana e incentiva-los a tomar decisões pela natureza e para nós.
swissinfo.ch: Onde você vive e como é a cozinha?
D.G.: Hoje vivo em Vancouver. Vivemos em um pequeno apartamento em um prédio ao lado do parque Pacific Spirit Regional. Este é um parque de 874 hectares nas chamadas Terras de Dotação Universitária (University Endowment Lands). Quando tenho tempo, gosto de dar um passeio na floresta ou na praia, que fica a apenas cinco minutos de carro distante de nós.
Vancouver é uma cidade bastante cosmopolita, com uma grande influência asiática. Você encontra todo tipo de cozinha. Porem isso é uma das poucas coisas que sinto falta da Suíça, pois você não encontra em nenhum lugar a carne seca do cantão dos Grisões.
swissinfo.ch: De que forma o Canadá é mais interessante do que a Suíça?
D.G.: Nós últimos dez anos viajei muito pelo Canadá, indo da Great Bear Rainforest, aqui na província de British Columbia, até o Alasca e o Ártico. De um certo ponto de vista, a paisagem aqui é muito parecida com a da Suíça, mas em dimensões muito maiores. Além disso, aqui vivem muitos animais selvagens.
swissinfo.ch: Como você vê a Suíça à distância?
D.G.: Vejo como um país seguro e politicamente bastante estável, se eu comparo com a América do Norte.
swissinfo.ch: Você se sente bem integrada?
D.G.: Graças à fotografia eu viajo entre seis a nove meses no ano. Se você viaja tanto, é difícil falar em integração.
Eu me sinto em casa quando estou cercada de gente que eu goste. Se estou trabalhando em um navio no Ártico, sinto-me em casa. Se estou com o meu marido Vancouver bin, sinto-me também em casa. Se estou com meus amigos na Suíça, sinto-me também do mesmo jeito.
swissinfo.ch: Quais são as diferenças culturais e o que te traz mais dificuldades?
D.G.: Eu não vejo grandes diferenças culturais entre os dois países.
swissinfo.ch: O que mais você gosta no seu cotidiano no estrangeiro?
D.G.: Do fato de poder estar tão rápido em regiões selvagens.
swissinfo.ch: Você participa das votações e plebiscitos na Suíça?
D.G.: Sim, por carta.
swissinfo.ch: O que mais você sente falta da Suíça?
D.G.: Dos amigos. Em Vancouver não tenho nenhum, pois quase nunca estou lá para fazer novos amigos. Essa é a parte mais difícil da minha vida no exterior, mas isso se explica pelo meu trabalho.
Mostre a Suíça global: marque suas fotos no instagram com o hashtag #WeAreSwissAbroadLink externo
Adaptação: Alexander Thoele
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.