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Sylvain Bost: seu coração bate por Genebra e Hammamet

Dois homens e duas mulheres, dos quais uma é Sylvain Bost
Da esquerda à difeita: Ismail bin Fraj, antigo professor de artes, Mahzia, Sylvain Bost e Dora Buzid, a primeira journalista tunisiana. (março de 2017) archive privé

Sylvain Bost, genebrino de 60 anos, e sua esposa vivem há 13 anos em Hammamet, na costa tunisiana, de frente para o mar azul e a areia dourada. A Tunísia é muito europeia, diz o suíço de origem francesa.

Sylvain Bost ensinou no Instituto Superior de Lyon no início da década de 1980, onde era o mais novo dos professores entre seus colegas, aos 24 anos. Ele então ficou na cidade, mas mudou de profissão e se tornou um contador.

Quando a esquerda assumiu o poder na França e o socialista François Mitterand tornou-se presidente francês, seus clientes decidiram se mudar para Genebra. Eles ofereceram a Bost a escolha: “Ou você vem para Genebra com a gente, ou vamos procurar um novo consultor fiscal.”

Bost decidiu seguir seus clientes. Uma decisão da qual ele nunca se arrependeu. Pois quando visitou Genebra pela primeira vez em 1981, imediatamente se apaixonou pela cidade.

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Depois de muitos anos, Bost obteve o passaporte suíço em 2004. Agora ele tinha duas opções para sua aposentadoria no exterior: ele poderia sacar sua aposentadoria integralmente de única vez e depois emigrar; ou ele poderia emigrar primeiro e continuar recebendo a pensão mensalmente. Bost escolheu a segunda opção, e agora vive na Tunísia com uma aposentadoria suíça.

Das “Grutas” ao Belvedere

Quando Bost e sua esposa se mudaram para Túnis, eles escolheram o bairro de Belvedere apenas por uma razão: ele lembrava Genebra e o bairro “Les Grottes”. O Belvedere Park em Túnis assemelha-se ao grande parque verde, que circunda o bairro nobre de Genebra.

Com sua mudança para a Tunísia, Bost trouxe sua esposa para seu país de origem, após 25 anos no exterior. “Da varanda do nosso apartamento de Genebra, víamos o famoso Jet d’Eau, as montanhas do Mont Blanc e do Jura, e estávamos procurando um lugar semelhante em outras partes do mundo”, diz.

O casal adorava Belvedere, pois tudo está próximo: teatros, exposições, parques, restaurantes, hotéis e embaixadas. Assim, como sempre fizeram em Genebra, eles podiam ir caminhando para todos os lugares.

“Os habitantes ricos de Genebra se mudaram para as Ilhas Baleares, o Caribe, Portugal ou até mesmo Miami ou San Francisco depois da aposentadoria, mas decidimos ir a Hammamet depois de passar um ano e meio na capital em Túnis. Por ser administradora de uma agência de viagens, minha mulher e eu pudemos viajar ao redor do mundo de forma barata e encontrar um novo lar para nós”, acrescenta Bost.

Ele explica o fato de, em conjunto com sua esposa, terem escolhido a cidade costeira ao sul da capital: “Em Hammamet temos 300 dias de sol por ano. O que está ao sul do Mont Blanc pode ser designado geologicamente como o lado norte do Mediterrâneo; aqui não há grandes diferenças no clima.”

A mulher está em melhor situação do que o homem

Sylvain Bost an einer Demonstration für die Rechte der Berber
Sylvain Bost participou em setembro de 2016 de uma manifestação pelos direitos dos bérberes na capital tunisiana. archive privé

Mas o clima temperado não era determinante para que o casal se estabelecesse em Hammamet. “Quando comparo os dois países, olho para a situação das mulheres e vejo que, na Tunísia, as mulheres estão em situação melhor em comparação com os homens”, diz Bost animado.

Para dar um exemplo: se convidamos um amigo para nossa casa, então ele vem e traz sua esposa consigo, é claro. Não experimentamos isso em nenhum outro país árabe. Alguns até chegam na companhia de uma mulher com quem eles não têm nenhum relacionamento.”

O segundo motivo, no entanto, pelo qual eles escolheram Hammamet foi a sua proximidade à cultura latina: “Na Tunísia, sinto-me como se estivesse na Europa. O francês é uma língua oficial, assim como o árabe, na administração. As leis gerais em vigor são francesas, assim como as leis trabalhistas.” Ele também poderia manter suas palestras em francês e submeter documentos na “língua de Voltaire”.

“Uma comparação com outros países é difícil”, diz Bost. É muito provável que isso seja possível com a Grécia e a Itália. E quando Bost faz essa comparação, ele centra sua atenção nos aspectos negativos da Tunísia – especialmente a paralisia das administrações municipais, a incapacidade do judiciário e a burocracia dos sindicatos.

Ele também aponta para a fraqueza do governo, que não consegue lidar com a corrupção com austeridade. Bost resume a situação com a frase: “Tivemos um ditador, hoje temos milhares.”

Outra noção de tempo

Curiosamente, toda vez que Bost entra na Tunísia, ele deixa seu relógio suíço de lado. Um ato simbólico, pois na Tunísia o tempo não tem o mesmo status que na Suíça.

Mas apesar dessas desvantagens teóricas, Bost manteve muitos hábitos culturais: ele continua indo ao teatro e ao cinema na Tunísia, assim como sempre fez em Genebra. E sua esposa e ele também não deixam de ver seus amigos de Genebra. Eles agora os convidam para Hammamet.

Os valores de Genebra como a diversidade, a tolerância, a vida social e o respeito pelo governo também são de grande importância para o Bost na Tunísia.

“Genebra, diz-se, é a cidade das grandes ideias. E se você mora nela, você tem uma cultura muito especial que alguns chamam de “cultura da tolerância”, outros de “convivência”. Esta postura é mantida pelos genebrinos também quando viajam para longe.”

Bost espera que os tunisianos também façam dessa postura um exemplo para as suas próprias atitudes. Especialmente porque a Suíça e a Tunísia são semelhantes em termos de número de habitantes e do sistema educacional.

Ele conhece muitos tunisianos que vivem na Europa. Ele sabe que os tunisianos, que não retornam à sua pátria na Tunísia após uma vida na diáspora, se consideram fracassados.

De forma diferente ocorre com os argelinos emigrados. Eles ficariam envergonhados se tivessem que ficar no seu país. Os marroquinos, no entanto, se sentiriam conectados tanto com sua pátria como com a nova pátria, enquanto os egípcios retornariam ao Egito, frequentemente aos 40 anos, e depois permaneceriam lá.

Informar infrações não é uma traição

Sylvain Bost mit zwei Enkeln am Strand von Hammamet
Sylvain Bost com seus netos em uma praia de Hammamet. (fevereiro de 2017) archive privé

Bost espera que os tunisianos adotem um costume suíço: denunciar os infratores da lei. Pois isso o irrita, se alguém é designado como um traidor, que revela um abuso. “Não é imoral denunciar violações da lei.” Ele está orgulhoso de nunca ter subornado ninguém na Tunísia.

Bost nega a questão de que se o casal está mais tranquilo na Tunísia. Ele criou uma filial tunisiana da sua empresa com base na Lei de Promoção de Investimentos de 1972, que o concedeu uma redução fiscal de 10 anos. Este pequeno escritório com cinco funcionários é gerido agora por seu filho.

Mas desde o início da revolução na Tunísia no início de 2011, o negócio já não funciona mais. Antes da Revolução Jasmim, a empresa recebia três ou quatro mandatos por ano. Hoje não recebem mais nenhum. É por isso que a empresa agora se concentra em consultas, com 80% dos clientes provenientes da região do Rhone (França) e da Suíça francófona.

Apesar de sua vida na Tunísia, Bost e sua esposa nunca deixaram de amar a cosmopolita Genebra. “Depois de seis meses aqui na Tunísia, cruzamos o mar para Marselha. A partir de lá, vamos de carro para Lyon, Zurique e Genebra, onde passamos uma semana em cada cidade. De Gênova, voltamos para a Tunísia de barco”, conta sua esposa Mahzia. Acrescentado a isso, eles também viajam para Genebra a cada três meses, e durante as férias de verão visitam os cinco netos em Hammamet.

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As opiniões manifestadas neste artigo, dentre outros sobre o país de acolho e sua política, são pessoais e não correspondem às posições da plataforma de informaões swissinfo.ch.

Adaptação: Flávia C. Nepomuceno dos Santos

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