Teste de drogas para salvar vidas
Um nome de champagne e Coca-Cola não são bebida, mas apelido de comprimidos de êxtase superpotentes – estavam provavelmente entre as dezenas de drogas ilegais que foram analisadas em um laboratório móvel durante a Street Parade de Zurique. O desfile reúne todo ano cerca de um milhão de amantes de música tecno.
Sábado – e como em cada edição da Street ParadeLink externo desde 2001 – meia dezena de colaboradores de ‘Streetwork ZurichLink externo’ estavam no estande de informação e laboratório móvel situado perto do lago para aconselhar as pessoas sobre eventuais efeitos secundários do consumo de drogas ilegais.
Além de um teste de 30 minutos que é gratuito e anônimo, os especialistas dão informação e distribuem água, tampões de ouvido e preservativos. Os conselhos aos festeiros é que tomem água o suficiente e outras bebidas não-alcoólicas e evitem misturar drogas com álcool. Entre 150 e 300 pessoas comparecem todo ano ao estande de informação. Também são distribuídos 15.000 folhetos informativos.
O serviço de aconselhamento em consumo de drogas de Streetwork foi fundado por iniciativa das autoridades de Zurique e faz parte da política e estratégia da Suíça em matéria de drogas: os quatro pontos desse plano são prevenção, terapia, redução de riscos e endurecimento da legislação para todas as drogas. Em Berna, capital suíça, Basileia e Genebra se fazem testes de comprimidos de droga similares.
Os voluntários da organização desaconselham os festeiros de consumir drogas ilegais. No entanto, consideram fundamental explicar os riscos às pessoas que decidem consumi-las pela primeira vez.
“Nós não julgamos. Somos neutros. Só contribuimos a reduzir riscos”, explica o diretor de Streetwork, Christian Kobel.
“Esse serviço é bem acolhido entre os jovens, que o veem como forma de romper um tabu e poder falar abertamente com especialistas sobre as drogas. Pessoas de países como Itália e Alemanha que se aproximam do estande não acreditam”.
O diretor de Streetwork calcula que somente uma pequena proporção de participantes da Street Parade consomem drogas ilegais. Porém, esses 5% podem representar até 50.000 pessoas.
Os incidentes como consequência do consumo de drogas podem ser poucos durante o desfile tecno porque as pessoas hoje estão melhor informadas. “Os principais problemas são pelo consumo excessivo de álcool”, afirma Kobel.
Porém, o grande evento, somado às altas temperaturas de agosto e às drogas ilegais pode ser um coquetel perigoso, sobretudo para os jovens que decidem prová-las pela primeira vez.
E as tendências são preocupantes. Kobel e sua equipe observam um aumento dos comprimidos de êxtase superpotentes que podem conter até 300 miligramas de MDMA. O consumo dessa substância em doses altas tem efeitos secundários como espasmos oculares ou musculares, convulsões epiléticas, alucinações e aumenta o risco de depressão, perda de concentração, insônia e perda de apetite. As pessoas que consomem regularmente grandes quantidades de MDMA também correm um risco maior de sofrer danos cerebrais.
“Em 2016, mais de 30% dos comprimidos testados continham doses excessivamente altas”, explica Kobel. Esse fenômeno não existia cinco anos antes. Acredita-se que seja devido à queda acentuada dos preços dos ingredientes básics para fabricar os comprimidos. Ao mesmo tempo, aumentou a competência entre os produtores de drogas ilegais, especialmente na Holanda e Bélgica, que se profissionalizaram.
De acordo com Streetwork, a cocaína adulterada com alta concentração de substâncias como o levamissol, utilizado para o tratamento de infecções do gado e detectada em 48% das amostras analisadas no ano passado, constitui um problema. O risco de um consumo prolongado é que debilita o sistema imunológico e danos nas células e tecidos.
Assim, Kobel qualifica de “relativamente estáveis” os níveis de cocaína, anfetaminas e êxtase consumidos durante as últimas edições da Street Parade.
A primeira edição foi em 1992 e tinha 1.500 pessoas. No ano passado eram 900.000 e, em 2015, um milhão.
adaptação: Claudinê Gonçalves
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