Zurique não para de sonhar alto
Pouco antes da inauguração do edifício mais alto da Suíça, o Prime Tower, em Zurique, uma exposição na cidade apresenta um inventário interessante dos arranha-céus do mundo.
Cada vez mais altos e cada vez mais numerosos.
Benjamin Witztum, diretor da sucursal do Banco Cantonal de Zurique (ZKB) instalado no Prime Tower, está muito orgulhoso. Os escritórios do banco são os primeiros a abrirem as portas no edifício mais alto da Suíça – 126 metros – que será inaugurado no final de novembro.
“Estamos muito satisfeitos de sermos os primeiros inquilinos. Pessoalmente, gosto muito deste edifício, símbolo da cidade que pode ser visto de toda parte”, disse com um sorriso.
Os vinte e cinco empregados da subsidiária do ZKB se instalaram em dois andares do prédio, em junho. Em agosto, o escritório de advocacia Homburger se mudou para os andares 25 a 32. E ao redor, os prédios anexos se enchem de vida. Uma galeria de arte abriu seus espaços, pequenas lojas e cafés estão cheios de fregueses, no meio dos últimos guindastes e caminhões de mudança.
Projetado pelos arquitetos Mike Guyer e Annette Gigon, o Prime Tower também tem destaque na nova exposição do Museu für Gestaltung, em Zurique, “A torre, desejo e realidade”, que apresenta um fascinante ponto de vista sobre a atual onda de arranha-céus, no mundo todo.
Manhattan, estrela do passado
Cerca da metade dos edifícios mais altos do mundo foram construídos ao longo da última década. “O arranha-céu está relacionado com o poder financeiro dos investidores. Caro, ele serve tanto aos objetivos de urbanismo como os de prestígio”, diz Andres Janser, curador.
A exposição abre com um “desejo” que não se tornou “realidade”, dois projetos para substituir o World Trade Center em Nova York, que teriam “mudado radicalmente a tipologia dos arranha-céus na paisagem da cidade”, de acordo com Andres Janser. Independentes um do outro, ambos teriam várias torres conectadas umas às outras.
“Mas Nova York perdeu a chance de se tornar, novamente, uma cidade inovadora nesta área. Manhattan continua sendo o lugar no mundo com a maior concentração de torres, mas é na Ásia que as novas ideias estão sendo realizadas”, diz Andres Janser. E esse espírito tímido, inédito nos Estados Unidos, não tem nada a ver, segundo ele, com o medo do terrorismo, mas sim com a vitória do espírito comercial.
O “Museum für Gestaltung”, se interessa, assim, pelos arranha-céus que modificam os seus arredores, pelas maneiras de viver que eles permitem – ou não – e pela organização deles no tecido urbano. Em Zurique, os prédios altos são raros. As orientações adotadas pelo município no início de 2000, no entanto, colocaram vários projetos em curso.
As áreas industriais abandonadas dos bairros de ZürichWest e de Oerlikon vão mudar a aparência da cidade nos próximos anos. “No momento, o Prime Tower está sozinho, mas ele vai ter um bom ‘companheiro’ mais tarde”, observa Annette Gigon em um documentário exibido na exposição.
Torre habitacional
Na Suíça, ao contrário de Hong Kong ou Xangai, as torres de edifício não são destinadas a moradia. A torre da Feira da Basileia inaugurada em 2003, que detinha o recorde da Suíça (105 metros), não tem nenhum apartamento, assim como a Prime Tower. Contudo, alguns projetos com apartamentos de luxo estão sendo concluídos em Zurique.
“Após os primeiros testes na década de 50 e 60, observou-se que esse tipo de edifício não era um lugar adequado para as família,. As torres de apartamentos são mais para pessoas com rendimentos elevados, sem filhos e que querem ter um certo estilo de vida. Pessoalmente, não acredito que a torre de edifício para famílias tenha algum futuro na Suíça”, explica Patrick Gmür, arquiteto e diretor da Secretaria Estadual de Construção de Zurique.
Instrumento de densificação
Nas cidades asiáticas, os arranha-céus são claramente um instrumento da densificação interior das cidades limitadas pela falta de terrenos. O mesmo não acontece na Suíça. “O que se ganha em altura deve ser retornado como espaço livre no chão, tornando possível a criação de novos espaços públicos”, ressalta Andres Janser.
“Todo mundo ganha com isso, que só é possível graças à cultura de cooperação com os proprietários fundiários. Nisso somos invejados por muitos outros países”, diz o curador.
A cooperação entre o público e o privado é ainda mais necessária quando o planejamento e a construção das torres leva tempo. “É preciso muito capital e tempo para planejar e construir. No caso do Prime Tower foi entre 12 e 13 anos. É um freio natural na proliferação das torres de edifício”, explica Patrick Gmür.
Enquanto isso, os preços pegam o elevador. Fala-se de um mínimo de 10.000 francos por metro quadrado no bairro de ZürichWest e algumas pessoas já receiam que as classes médias tenham que abandonar o local. “De fato, essa é uma das nossas preocupações. A mistura de classes é muito importante”, diz Patrick Gmür.
O Prime Tower já está atraindo curiosos e trabalhadores. “Acho que a localização de nossas instalações facilitou o recrutamento de pessoal, especialmente dos mais jovens”, afirma Benjamin Witztum. Jovens que ficam até a noite para participar da de vida noturna intensa do bairro – em antigas instalações industriais que em breve serão demolidas para dar lugar a novos arranha-céus.
Atualmente, o edifício Burj Khalifa, em Dubai, é o mais alto do mundo (828 m).
Ele deve ser seguido nos próximos anos pela “Torre de Xangai”, que começou a ser construída em outubro de 2010 (632 m).
O edifício mais alto da Europa será concluído no ano que vem: é o “Shard London Bridge“, de Renzo Piano (310 m).
Há 50 torres de edifício no mundo com mais de 300 metros, das quais apenas sete foram construídas antes de 1990.
2010 marca um recorde: 8 arranha-céus com mais de 300 metros e 58 com mais de 200 metros foram inaugurados nesse ano.
Na Suíça, na Basileia, a torre da Hoffmann-La Roche desenhada por Herzog & de Meuron irá atingir 175 metros, ultrapassando assim o Prime Tower de Zurique (126 m).
(Fonte: catálogo da exposição “Torre: desejo e realidade”)
O arranha-céu é um símbolo tipicamente urbano. Depois de Chicago e Nova York no século XX, a Ásia, com suas metrópoles financeiras, é a “nova Meca” da construção de torres de edifício.
Como São Paulo, Seul, Cingapura e Tóquio também crescem para cima, mas há exceções: Cidade do México, Bogotá e Lagos continuam crescendo horizontalmente.
Xangai é a cidade onde há atualmente mais arranha-céus em construção: havia 120 edifícios altos até o início de 1980 e 12.000 em 2005.
A definição de arranha-céu varia de lugar para lugar. Em Zurique, ele deve ter pelo menos 25 metros. Em Xangai, é preciso pelo menos oito andares. São as alturas máximas para as escadas dos bombeiros.
Segundo o site Emporis, que lista os edifícios do mundo, o critério mínimo de um arranha-céu é ter doze andares. Há cerca de 150.000 no mundo atualmente.
(Fonte: catálogo da exposição “Torre: desejo e realidade”)
Adaptação: Fernando Hirschy
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