Perspectivas suíças em 10 idiomas

A Suíça está piorando no inglês?

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Na Suíça multilíngue, o inglês é um dos vários idiomas que disputam a atenção. © Keystone / Gaetan Bally

Um ranking global de proficiência em inglês aponta que a Suíça está perdendo cada vez mais terreno no idioma. Porém, cravar uma pontuação que represente o país de maneira geral não é uma tarefa simples.

Em uma reportagem de novembro, a emissora pública suíça, RTS, soou o alarme: “o nível de inglês entre os suíços está em queda livre”. “Pelo quarto ano consecutivo, de acordo com um ranking internacional, o padrão suíço tem caído” – do 25º lugar em 2021 para o 30º (de 113) este ano.

Se cair cinco posições de fato significa estar em queda livre é uma questão. Mas na Suíça multilingue e altamente globalizada, um declínio pode ser considerado surpreendente. O que está acontecendo?

O ranking citado pela RTS foi o “EF English Proficiency IndexLink externo” (EF EPI) de 2023, publicado anualmente pela empresa global de educação privada Education First (EF), sediada em Zurique. Com base nos resultados de cerca de 2,2 milhões de testes de inglês online, o EF EPI soma pontuações de fluência para países, cidades e regiões: indo desde Holanda, Singapura e Áustria, no topo, até Iémen, Tajiquistão e República Democrática do Congo, na parte inferior do ranking.

A Suíça, com uma pontuação de 553, ficou logo atrás de Hong Kong e à frente de Honduras – bem na fronteira entre “alta proficiência” e “proficiência moderada”. Os jovens do país diminuíram seu domínio da língua estrangeira nos últimos anos, segundo o relatório.

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Amostra limitada

Contudo, como meio de comparação internacional geral, a classificação é questionável. O que ganha com um enorme conjunto de dados, perde em representatividade: as pontuações são baseadas em milhões de respostas ao teste de inglês online gratuito da EF, onde “só participam aqueles que querem aprender inglês ou têm curiosidade sobre o seu domínio do inglês”, a empresa escreve.

Este enviesamento na amostragem significa uma potencial distorção dos resultados em ambos os extremos da escala: nas partes mais pobres do mundo, “as pessoas sem ligação à Internet seriam automaticamente excluídas”; enquanto na Suíça hiperconectada e altamente qualificada, muitos falantes fluentes ou nativos – como a equipe editorial da SWI swissinfo.ch que fala inglês – provavelmente também seriam estariam de fora.

A idade média dos participantes da enquete, a nível mundial, foi de 26 anos e quase 90% tinham menos de 35 anos. Entretanto, na Suíça, bem mais da metade da população tem mais de 40 anos.

Laurent Morel, gestor da EF para a parte francófona da Suíça, diz que embora os resultados “não sejam representativos do país em geral”, fornecem um bom resumo para aqueles que querem ou precisam de melhorar o seu inglês.

A metodologia do relatório – que já dura 13 edições – manteve-se constante, afirma. Isto significa que a gama “orgânica” de entrevistados que fazem o teste também deve ser bastante estável ao longo do tempo e as tendências emergentes válidas.

Ele menciona especificamente a queda nas pontuações dos jovens nos últimos anos, que se correlacionou claramente com a pandemia de Covid-19 e o encerramento de escolas. Ele também aponta as diferenças nos resultados entre as partes da Suíça de língua alemã e francesa, o que corresponde à impressão de muitas pessoas de que se encontra melhor inglês, por exemplo, em Basileia do que em Lausanne. Também faz sentido, dados os padrões mais elevados de inglês nas escolas dos cantões de língua alemã, diz ele – enquanto as escolas de língua francesa tentam empurrar o alemão ao lado do inglês.

Em última análise, Morel e EF acreditam que a classificação tem os seus méritos: “não existe outro conjunto de dados de tamanho e âmbito comparáveis”, escreve a EF. “Apesar das suas limitações, nós, juntamente com muitos tomadores de decisão, acadêmicos e analistas, acreditamos que é um ponto de referência valioso no debate global sobre o ensino da língua inglesa.”

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‘Interessante, mesmo que não totalmente científico’

Apesar das ponderações e críticas, o relatório consegue chamar a atenção, pelo menos nos meios de comunicação social. Ao escrever sobre os resultados de 2018, a revista Economist disse que eram “interessantes, mesmo que não totalmente científicos”; outras referências ilustres incluem o New York Times, enquanto vários meios de comunicação suíços (incluindo SWI swissinfo.ch) repercutiram dados do levantamento no passado.

Uma reportagem muito comentada no jornal SonntagsZeitung deste verão usou a classificação como um trampolim para explorar as causas do aparente declínio do domínio do inglês no país: por exemplo, a competição de outras línguas faladas no país e a tendência suíça de dublar – em vez de legendar – filmes em inglês.

A reportagem da RTS da semana passada também gerou especulações e perguntou a alguns professores do ensino secundário sobre a queda dos padrões – nenhum deles relatou ter notado mudança nos níveis de proficiência entre seus alunos.

Classificação PISA

No entanto, se o relatório da EF não é cientificamente à prova de balas, é também difícil encontrar classificações alternativas e as avaliações são muitas vezes anedóticas ou de alcance limitado.

Numa Link externoentrevistaLink externo de 2022, a chefe do Centro de Línguas da Universidade de Zurique disse que a proficiência em inglês na Suíça “melhorou fortemente” – isto é, em relação ao que ela observou entre os alunos do terceiro nível que frequentavam os cursos do centro.

Enquanto isso, Beat Schwendimann, da Federação Suíça de Professores, destaca o Link externoestudo trianual PISA da OCDELink externo , no qual os alunos suíços foram classificados em 2018 no 16º lugar entre 35 países em termos de conhecimentos de inglês – o estudo é feito com jovens de 15 anos.

Sobre a possível queda nos níveis do inglês a longo prazo, Schwendimann diz que irá aguardar pelos resultados do próximo estudo PISA, previsto para dezembro. O PISA também planeja lançar uma nova avaliação de línguas estrangeiras para obter mais dados sobre a proficiência em inglês em todo o mundo – embora apenas em 2025, e novamente com dados restritos aos adolescentes.

Entretanto, se houver de fato um declínio em curso, especula Schwendimann, poderá ter algo a ver com o multilinguismo suíço: enquanto em outros países o inglês é claramente a segunda língua, a Suíça tem quatro línguas nacionais, além de uma história diversificada de imigração – o que gera muita competição por atenção, argumenta. Outra razão pode ser a cada vez menor exposição ao inglês, diz ele: hoje em dia, os sites da Internet e os botões de plataformas como Netflix por exemplo podem ser traduzidos para alemão, francês ou italiano com um único clique.

Falado melhor ou pior, o inglês é muito difundido na Suíça. Substituiu o francês como a segunda língua mais falada, atrás apenas do alemão, nos locais de trabalho, e hoje em dia não é incomum ouvir suíços de língua alemã e francesa conversando em inglês – provocando debates sobre identidade nacional, coesão e política educacional.

Em março de 2023, após a dramática fusão orquestrada pelo Credit Suisse e UBS, os jornalistas em Berna foram até brindados com o espectáculo de ministros do governo lendo declarações e respondendo a perguntas em inglês – algo quase inédito numa coletiva de imprensa política nacional suíça.

Finalmente, o inglês também pode ajudar enormemente no mercado de trabalho: um relatório deste verão do Grupo Adecco aponta que falar inglês, além de uma língua suíça local, aumenta o seu salário em 18%; enquanto falar Inglês e mais duas línguas suíças aumentam em 20%.

(Adaptação: Clarissa Levy)

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