Comércio de pessoas: 11% das vítimas são brasileiras
Segundo a Polícia Federal helvética (Fedpol), a Suíça não é apenas um país de trânsito, como também um destino cobiçado do comércio de seres humanos para fins de exploração sexual.
O Brasil aparece em segundo lugar em número de vítimas desse comércio no país alpino. Entre os supostos criminosos, os brasileiros ocupam o terceiro lugar, atrás dos romenos e dos próprios suíços.
Esses dados fazem parte do relatório das atividades da Fedpol para 2008, ano em que o número de denúncias sobre comércio de pessoas, incluindo o fomento à prostituição, quase dobrou para 2.676 (contra 1.439 em 2007).
Mais da metade (52%) dos 412 casos que, após as investigações preliminares, levaram à abertura de novos processos, estavam relacionados com o comércio de seres humanos para fins de exploração sexual.
Os principais suspeitos de envolvimento com esse tipo de crime em 2008 eram suíços (13%), romenos (10%), brasileiros (9%) e búlgaros (8%).
Segundo a Fedpol, há indícios claros de que os 13% de suíços suspeitos estão envolvidos com a prostituição e cooperam com grupos criminosos estrangeiros.
A Romênia, que aparece na segunda colocação, desempenha um papel importante no combate ao comércio de seres humanos, afirma o relatório.
Vítimas: romenas e brasileiras
A maioria das vítimas do comércio de seres humanos ou comércio de pessoas na Suíça vem da Romênia (23%), seguida pelo Brasil (11%), Bulgária (10%) e Hungria (9%).
O ranking continua com a Nigéria, Ucrânia, Tailândia, República Tcheca, Eslováquia, Rússia, Alemanha, Polônia, Belarus e Camarões (veja gráfico na coluna à direita).
Segundo a Polícia Federal, não houve cidadãos suíços entre as vítimas em 2008. Esse fato indica que é mais comum que estrangeiros se tornem vítimas de traficantes de seres humanos e sejam levados à prostituição.
Em muitos dos casos, os suspeitos e as vítimas têm a mesma nacionalidade. Por isso, a Fedpol presume que as vítimas e candidatas à migração foram recrutadas em seu país de origem pelas organizações de tráfico e comércio de seres humanos.
Traficantes do Kosovo
Os kosovares (13%) formam o maior grupo de supostos traficantes (smugglers) de seres humanos, seguidos por cidadãos suíços (10%), turcos (8%), chineses (7%), sérvios (7%), iraquianos (5%) e srilanqueses (5%).
O tráfico de iraquianos para o centro e o norte da Europa também passa cada vez mais pela Suíça. O número desses casos aumentou de 16 em 2006 para 169 em 2007 e 293 em 2008.
Africanos aparecem apenas como vítimas e não como suspeitos de tráfico de seres humanos, “um indício de que reunir provas para o combate ao comércio de seres humanos é difícil”, escreve a Fedpol, que ilustra essa dificuldade com a descrição de um caso concreto.
Extradição para o Brasil
Em 2008, a Fedpol trabalhou cerca de 300 horas numa operação da promotoria pública de Zurique-Limmat, em que três alemães eram acusados por uma vítima de terem trazido jovens dominicanas, em parte menores, com falsas promessas para a Suíça, onde as teriam forçado a se prostituir.
O principal suspeito foi preso preventivamente em Lucerna, em abril de 2007. Numa busca em sua casa na Suíça, a polícia encontrou provas indicativas de mais seis vítimas na República Dominicana.
Com um pedido de auxílio jurídica, uma delegação suíça viajou ao país centro-americano no começo de 2008 e, com o apoio da promotoria pública, Interpol e embaixada helvética em Santo Domingo, conseguiu convencer as testemunhas a depor.
Em novembro de 2008, o principal suspeito foi condenado a três anos de reclusão (dos quais 2 anos em liberdade condicional) por comércio de seres humanos e fomento à prostituição.
O acusado já havia cumprido a pena em prisão preventiva e seria libertado, mas graças a um pedido de extradição feito a tempo pelas autoridades brasileiras, por causa de crimes semelhantes, ele foi colocado imediatamente em prisão para extradição.
Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.