Cooperação jurídica da Suíça com outros países é lenta demais
O país recebe muitos pedidos de assistência jurídica mútua quando se trata de crimes internacionais, mas o processamento leva muito tempo, afirma uma auditoria.
Este conteúdo foi publicado em
2 minutos
swissinfo.ch/fh
English
en
Switzerland too slow in processing legal assistance requests from abroad
original
Um relatório publicado pelo Departamento Federal de Auditoria suíço na quarta-feira (30) constatou que leva em média 290 dias para que as autoridades suíças tratem de um pedido de cooperação jurídica de outro país. Em comparação, outros países concedem assistência mútua em 154 dias, em média, disse o relatório. Em dez dos quinze casos, a Suíça processa os pedidos que recebe mais lentamente do que os países com os quais coopera.
Um fator é que a Suíça recebe muitos desses pedidos, especialmente em questões econômicas, dado que a nação alpina é um importante centro financeiro mundial. No total, a Suíça recebe pelo menos 2.300 solicitações do exterior a cada ano. Exemplos de tais solicitações incluem escândalos de corrupção envolvendo a FIFA, Petrobras, o fundo soberano malaio 1MDB e os Panama Papers.
Outra razão encontrada para o ritmo lento do tratamento de pedidos de cooperação é que a grande maioria deles (88%) é feita diretamente aos Ministérios Públicos dos 26 cantões do país. Eles não estão acostumados a este tipo de pedido e são rapidamente sobrecarregados por casos complexos. Isto leva a procedimentos demorados e erros que às vezes impossibilitam a prestação de assistência mútua.
Outro problema é que a Suíça concede um direito de recurso específico em casos de cooperação jurídica internacional, um procedimento que nenhum Estado, com exceção do Luxemburgo, aplica. Entretanto, este direito é frequentemente utilizado pelo réu para ganhar tempo. Pode levar de três a seis meses para que o Tribunal Penal Federal decida sobre tais recursos antes de receber as provas solicitadas.
O Departamento Federal de Auditoria recomendou a revisão da Lei de Assistência Mútua para simplificar os procedimentos e atualizar os antigos. A auditoria também sugeriu que pedidos complexos de assistência mútua deveriam ser tratados por autoridades suficientemente experientes. Também recomendou que o Ministério da Justiça atuasse em um estágio inicial em uma função de supervisão e trabalhasse de forma mais consistente com as autoridades cantonais de aplicação da lei.
Mais lidos
Mostrar mais
Política exterior
Homens ucranianos enfrentam dilemas diários na Suíça
Como evitar que a inteligência artificial seja monopolizada?
Como evitar o monopólio da IA? Com o potencial de resolver grandes problemas globais, há risco de países ricos e gigantes da tecnologia concentrarem esses benefícios. Democratizar o acesso é possível?
Forte nevasca na Suíça causa caos no trânsito e acidentes
Este conteúdo foi publicado em
A forte nevasca no final da quinta-feira e durante a noite de sexta-feira levou ao caos no trânsito e a muitos acidentes em muitas regiões da Suíça.
Este conteúdo foi publicado em
A Suíça continua sendo, de longe, a campeã europeia no uso de trens, tanto em termos do número de trajetos por pessoa quanto do número de quilômetros percorridos.
Este conteúdo foi publicado em
Os medicamentos genéricos mais baratos disponíveis na Suíça são mais de duas vezes mais caros do que em outros países, de acordo com um estudo realizado pelo órgão suíço de controle de preços.
Estudo revela diferenças de cultura alimentar entre a Suíça e seus vizinhos
Este conteúdo foi publicado em
Três quartos dos suíços consideram a alimentação uma atividade social e prazerosa. A alimentação saudável, no entanto, desempenha um papel muito menos importante, segundo uma nova pesquisa.
Pesquisadores suíços identificam variantes genéticas ligadas à progressão do câncer
Este conteúdo foi publicado em
Os pesquisadores da ETH Zurich exploraram os efeitos das mutações genéticas na função celular e seu papel no desenvolvimento e tratamento do câncer usando técnicas CRISPR/Cas.
Pesquisadores suíços usarão IA para melhorar previsões de tempo e clima
Este conteúdo foi publicado em
A MeteoSwiss e o Centro Suíço de Ciência de Dados assinaram um acordo de quatro anos para fazer maior uso da IA em meteorologia e climatologia no futuro.
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.
Consulte Mais informação
Mostrar mais
Procurador suíço enfrenta impeachment por caso FIFA – implicado também na Lava-Jato
Este conteúdo foi publicado em
O Procurador-Geral da Suíça, Michael Lauber, enfrenta um processo de impeachment pelo seu tratamento de uma investigação de corrupção da FIFA. Este é o primeiro caso dessa envergadura em toda a história do Ministério Público Federal helvético.
O comitê judicial do Parlamento realizou na quarta-feira uma audiência de duas horas com o procurador-geral para avaliar se existem motivos razoáveis para suspeitar que ele tenha violado suas funções oficiais, seja deliberadamente ou por grave negligência.
O chefe da comissão, Andrea Caroni, anunciou a decisão na quarta-feira, que foi tomada com 13 votos a favor e quatro contra. O comitê poderia apresentar uma moção para retirar Lauber do cargo, que o Parlamento só votaria em setembro, na melhor das hipóteses.
Lauber disse que a reunião de quarta-feira com o comitê judicial havia "corrido bem".
O procurador-geral da Confederação está sob escrutínio sobre como seu gabinete lidou com a investigação de corrupção da FIFA e pela realização de reuniões sem registro com o presidente da entidade, Gianni Infantino.
Como punição, a autoridade independente de supervisão, a AB-BA, já havia cortado o salário de Lauber de quase CHF 300.000 (US$ 309.000) em 8% por um ano.
+ Leia mais detalhes sobre a controvérsia de Lauber aqui
Lauber interpôs recurso junto ao Tribunal Administrativo Federal. Ele alega que a autoridade fiscalizadora cometeu inúmeros erros processuais, excedeu sua competência e foi tendenciosa.
Em setembro passado, o Parlamento reelegeu Lauber para um terceiro mandato, apesar de meses de controvérsia sobre seu tratamento do caso da FIFA.
Apesar de não fazerem parte do processo em curso, a maneira como Lauber conduziu relações com seus pares na Rússia e no Brasil também levantou sérias questões.
O amigo da Lava-Jato
Considerado pelo Ministério Público no Brasil como tendo sido fundamental para o combate à corrupção no Brasil, Michael Lauber se mostrou um aliado importante da Operação Lava Jato. Sob seu comando, a Suíça bloqueou mais de U$ 1,1 bilhão em mais de mil contas bancárias envolvendo suspeitos do esquema montado por ex-diretores da Petrobras e Odebrecht, além de várias outras empresas.
Se num primeiro momento Lauber focou sua atenção sobre aqueles que receberam propinas e depois no grupo que as pagou, nos últimos meses a atenção de seu gabinete estava focada nos intermediários, alguns deles na Suíça. Dois bancos passaram a ser investigados e o tribunal em Bellinzona julgou pela primeira vez um operador.
Os recursos destinados por seu escritório ao caso brasileiro, para muitos atores que acompanharam o caso, foi decisivo para o impacto da Lava Jato no Brasil.
Mas Lauber e sua equipe também fizeram parte de uma complexa relação ao longo dos anos com procuradores brasileiros. Mensagens do aplicativo Telegram enviadas por fonte anônima ao site The Intercept Brasil e analisadas em parceria com o UOL no ano passado revelaram que a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba utilizou sistematicamente contatos informais com autoridades da Suíça para obter provas ilícitas com o objetivo de prender alvos considerados prioritários. Alguns deles vieram a se tornar delatores.
Um dos casos revelados nas conversas se refere a uma visita dos procuradores brasileiros à Suíça em 2014. Pela troca de mensagens, uma transmissão de documentos de maneira irregular poderia ter ocorrido.
Deltan Dallagnol, procurador brasileiro, teria consigo um pen drive com informações bancárias de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Foi a partir de Costa que o MP conseguiu chegar ao esquema montado pela Odebrecht. Mas sem as informações de suas contas na Suíça, Curitiba não teria como avançar.
Só meses depois é que a informação seria oficializada pelos canais regulares da cooperação internacional com a Suíça.
Outras reuniões em 2015, segundo as mensagens, também indicavam trocas informais de dados entre a Suíça e o Brasil.
O sigilo das visitas das equipes também era mencionado pelos procuradores. Entre os dias 1 e 4 de dezembro de 2015, as mensagens revelam que procuradores da Lava Jato tiveram reunião secreta em Curitiba com investigadores suíços. "Caros, sigilo total, mesmo internamente. Não comentem nem aqui dentro: Suíços vêm para cá semana que vem. Estarão entre 1 e 4 de dezembro, reunindo-se conosco, no prédio da frente. Nem imprensa nem ninguém externo deve saber”, escreveu Dallagnol.
Servidor
As mesmas mensagens ainda indicam que os procuradores brasileiros teriam tido acesso a um servidor da Odebrecht na Suíça antes de sua entrega oficial pelas autoridades.
Para camuflar o sistema de pagamentos de propinas a políticos de diversos países do mundo, a empresa organizava as transferências e a comunicação por meio de um sistema de internet paralelo e clandestino à contabilidade da construtora. O servidor que armazenava os dados ficava fora do Brasil.
Assim, o sistema Drousys era usado pelo setor de Operações Estruturadas da Odebrecht para controlar pagamentos de propina.
Quando tal sistema foi descoberto, procuradores brasileiros pediram que os suíços confiscassem o servidor e o transmitissem ao Brasil.
Mas mensagens revelam que os procuradores tiveram acesso à contabilidade paralela quase um ano antes de a Lava Jato estar apta para usar formalmente os dados entregues pela Odebrecht.
Uma das conversas ainda revela como, em 14 de maio de 2016, a procuradora Laura Tessler, também da Lava Jato, já usava termos que estavam no servidor Drousys, obtido apenas um ano depois de forma oficial.
Respostas
Naquele momento, o Ministério Público da Suíça afirmou que pautava seu trabalho conforme as leis suíças. "O Escritório do Procurador Geral da Suíça está conduzindo seus processos criminais com base na legislação suíça pertinente", disse o órgão.
Os suíços não comentou o acesso clandestino da Lava Jato ao sistema de propina da Odebrecht e tampouco o fato de Dallagnol ter trazido em segredo ao Brasil um pen drive com dados de Paulo Roberto. A revelação de reunião secreta em Curitiba com seus procuradores também foi comentada.
No Brasil, a Lava Jato argumentou que "a troca de informações de inteligência e a cooperação direta entre autoridades estrangeiras é absolutamente legal e constitui boa prática internacional". A força-tarefa afirma ainda que "nenhum documento foi utilizado judicialmente pela força-tarefa da Lava Jato sem ter sido transmitido pelos canais diplomáticos oficiais”.
Cooperação jurídica entre Brasil e Suíça é falha, diz advogado
Este conteúdo foi publicado em
Formado pela Faculdade de Direito da Universidade de Zurique, o suíço Roger Müller diz que “há mais de 20 anos tem laços afetivos com o Brasil”, e é reconhecido na comunidade como um especialista conceituado em assuntos bilaterais. Müller recebeu a reportagem da Swissinfo no seu escritório, logo abaixo da sede do consulado brasileiro em Zurique.…
Juan Carlos, o ex-rei, deixou pegadas suspeitas na Suíça
Este conteúdo foi publicado em
As suspeitas de corrupção em torno do rei Juan Carlos também levaram à abertura de uma investigação na Suíça que é crucial para a Espanha.
Procuradoria suíça faz busca em empresas investigadas na Lava-Jato
Este conteúdo foi publicado em
Os procuradores brasileiros afirmamLink externo que a Vitol e a Trafigura pagaram subornos a funcionários da companhia petrolífera estatal Petrobras para obter contratos. Eles disseram que o objetivo das buscas em Genebra foi “aprofundar as investigações conduzidas no Brasil de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa que apontam para o envolvimento de membros…
Suíça indicia seu primeiro réu no caso Petrobras-Odebrecht
Este conteúdo foi publicado em
O inquérito em seu caso foi iniciado em outubro de 2015 e contou com a colaboração de procuradores do Brasil e de Portugal. O caso agora será examinado pelo Tribunal Penal Federal. Mas representa um passo inédito tomado pelos suíços desde o início da colaboração conjunta com o Brasil no que se refere ao esquema Petrobras-Odebrecht.…
Procurador-Geral da Suíça manteve encontros secretos com a Lava-Jato
Este conteúdo foi publicado em
Recentemente, Lauber tem lutado contra as acusações de irregularidades sobre seu uso de reuniões informais não documentadas em sondagens sobre suposta má conduta na FIFA, a entidade máxima do futebol mundial. Rolf Schuler, advogado de Zurique representando um réu no caso brasileiro, disse ao NZZLink externo que Lauber, juntamente com outras autoridades, participou de reuniões não…
Este conteúdo foi publicado em
Em um comunicadoLink externo enviado à imprensa um resumo do progresso das investigações, a BALink externo declarou que a última parcela de nove milhões de francos foi transferida ao Brasil no final de março “em favor das partes lesadas”. A “Operação Lava-Jato” investigou a estatal brasileira de petróleo Petrobrás e a Odebrecht, a maior companhia de construção…
Banqueiro suíço assume lavagem de dinheiro no esquema Petrobras-Odebrecht
Este conteúdo foi publicado em
Descobriu-se que a construtora Odebrecht transferiu os subornos pagos a funcionários da estatal brasileira Petrobras através de bancos suíços. A comissão paga ao banqueiro do PKB veio à tona depois que ele interpôs um recurso contra a apreensão de relógios e jóias de uma de suas casas em Barcelona, na Espanha. O tribunal de apelação do…
Não foi possível salvar sua assinatura. Por favor, tente novamente.
Quase terminado… Nós precisamos confirmar o seu endereço e-mail. Para finalizar o processo de inscrição, clique por favor no link do e-mail enviado por nós há pouco
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.