Enquanto os líderes mundiais discutem o pós-crise no Fórum Econômico Mundial (WEF), os participantes do Fórum Mundial Social (FSM) veem confirmadas suas críticas ao capitalismo.
Este conteúdo foi publicado em
5 minutos
Lula disse em Porto Alegre que falaria “texto claro em Davos”, mas, por problemas de saúde, teve de cancelar sua viagem à Suíça, onde receberia o prêmio de “estadista global”.
O Fórum Econômico Mundial em Davos não tem mais a mesma importância, “o mesmo glamour como em 2003, quando participei pela primeira vez”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aplaudido por cerca de 10 mil ouvintes como uma estrela do rock, na capital gaúcha.
O Fórum Social Mundial, que nasceu em 2001 em contraposição ao WEF, comemora sua décima edição, com uma programação descentralizada, com dezenas de eventos regionais, nacionais e locais espalhadas pelo mundo.
Só o “Fórum Social 10 Anos: Grande Porto Alegre”, de 25 a 29 de janeiro, prevê mais de 500 atividades descentralizadas nas cidades de Porto Alegre, Gravataí, Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Sapiranga.
Tanto no WEF quanto no FSM se discute as consequências da recente crise mundial. A situação política e econômica dos EUA é um sinal claro de que o mundo precisa de um outro sistema, disse Francisco Whitaker, um dos fundadores do FSM.
“Talvez não mudemos o mundo completa e imediatamente, mas a mudança agora pode vir de baixo e se propagar”, acrescentou. Whitaker defende o Fórum como plataforma para diferentes organizações, grupos e movimentos.
Propostas concretas
João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Sem Terra, vai numa outra direção. “Precisamos não só de um programa antineoliberal e sim anti-imperialista”, disse, num tom que lembra o presidente venezuelano Hugo Chávez.
“Se dependesse dessa linha, Hugo Chávez abriria o Fórum dizendo: o governo dará um jeito”, disse Whitaker ao jornal alemão Taz.de. “O contramodelo ao neoliberalismo não existe. E de forma alguma ele pode ser decretado; ele precisa crescer de baixo para cima, senão terá pés de barro.”
Em vez de terminar em um “emaranhado de papéis”, o FSM deveria apresentar propostas concretas, pediu Lula. Um argumento semelhante é usado pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, um dos idealizadores do Fórum.
Segundo ele, “para ser sustentável, o Fórum precisa, em primeiro lugar, estar presente em outras partes do mundo. E, em segundo lugar, precisa produzir “ideias e propostas críticas e sólidas” sobre os problemas urgentes da atualidade.
Pouca repercussão na mídia
O FSM 2010 tem pouca presença na mídia europeia. Até agora, só a marcha de abertura e o discurso de Lula foram destaques. “Demonstrações com samba e toque de tambor”, foi, por exemplo, uma manchete da revista alemã Stern.de. O jornal de Les Temps, da suíça francesa, lembrou o slogan que acompanh o FSM desde o início: “Um outro mundo é possível.”
“A mudança acontece de forma lenta, não espetacular; o processo do Fórum em si é invisível”, disse Withaker. Por isso, segundo ele, o FSM não está muito presente na mídia, mesmo quando tem 133 mil participantes, como no ano passado em Belém.
Também o FSM está mudando, segundo a percepção de alguns meios de comunicação. “O Fórum Social Mundial busca um novo rumo”, é a manchete do El País, da Espanha, que vê o FSM “em um clima de crise de identidade”.
“Este fórum nasceu em clara luta contra o neoliberalismo capitalista, mas agora se confronta com mais problemas, a ponto de este ano ter duas edições: a de Porto Alegre, nas mãos dos movimentos sociais de esquerda que são de alguma forma antipartidários, e a de Salvador, durante o fim de semana, com participação dos partidos, começando com todo o Partido dos Trabalhadores (PT), hoje no governo brasileiro”, escreve o diário espanhol.
Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com agências)
A assessoria de imprensa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou hoje que o líder não viajará à Suíça, onde participaria do Fórum Econômico Mundial, após sofrer uma crise de hipertensão.
“Está confirmado que o presidente não virá à Suíça, os médicos assim recomendaram”, disse à agência de notícias EFE o assessor de imprensa da Presidência brasileira na Suíça, João Marcos Paes Leme.
Lula receberia o primeiro prêmio Estadista Global, com o qual os organizadores do Fórum queriam homenageá-lo por seus oito anos de mandato, que terminam em 2010.
Mais lidos
Mostrar mais
Política suíça
Na Suíça, Ano Novo traz “proibição da burca” e aumento da aposentadoria
Qual tema da diplomacia suíça você gostaria de ver no nosso site?
A neutralidade é um pilar da diplomacia suíça, mas nem sempre bem compreendida. Ex.: Putin acusou a Suíça de romper neutralidade ao sancionar a Rússia, mas isso já ocorreu antes. O que mais devemos explorar? Opine!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.
Consulte Mais informação
Mostrar mais
WEF começa com apelos ao controle bancário
Este conteúdo foi publicado em
Os governos da Suíça e da França aproveitaram o ensejo para chegar a um acordo sobre o caso do roubo de dados de clientes do banco HSBC, em Genebra, repassados à Justiça francesa. Com um discurso recheado de críticas ao capitalismo, em que ele defendeu uma reestruturação do sistema financeiro e monetário, o presidente francês…
Este conteúdo foi publicado em
No 11° Public Eye, realizado em paralelo ao Fórum Econômico Mundial, foi concedido pela primeira vez o “Greenwash Award”, dado ao projeto Mandato da Água. As três instituições são acusadas de lidar de forma irresponsável com seres humanos e o meio ambiente. Isso mostra o lado sombrio de um ultraliberalismo desenfreado, movido pela ideia do…
Este conteúdo foi publicado em
O fundador do Fórum Econômico Mundial (WEF), Klaus Schwab, no entanto, vê futuro para o evento e quer transformá-lo em plataforma de cooperação entre diferentes atores. A 40ª edição do WEF começa nesta quarta-feira com debates sobre as lições a serem tiradas da crise, a reforma do setor financeiro e o controle do setor bancário.…
Este conteúdo foi publicado em
Nicolas Sarkozy apresenta-se de uns tempos para cá como uma liderança na regulação do capitalismo mundial. Verdade ou impostura? Balanço crítico de dois anos e meio de presidência. A agenda do presidente é clara: quarta-feira Niclolas Sarkozy viaja a Davos para a abertura do 40° Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). E, se…
Este conteúdo foi publicado em
De 27 a 31 de janeiro, mais de 2500 líderes de 90 países – mais metade empresários – vão discutir as “lições a serem tiradas da crise financeira e econômica mundial”. Sob o slogan “Melhorar o estado do Planeta: repensar, remodelar, reconstruir”, os representes da economia, dos governos e da sociedade civil pretendem atacar os…
Este conteúdo foi publicado em
Essa participação foi discutida recentemente em uma mesa-redonda em Porto Príncipe e ela poderá ser acelerada pelo impacto do terremoto. Dada a grande dificuldade de entrar em contato com a ilha devastada, a pequena comunidade haitiana na Suíça (aproximadamente mil pessoas) ainda tem poucas notícias de suas famílias no Haiti, dias depois do terremoto que…
Este conteúdo foi publicado em
O artigo foi publicado quinta-feira (24/09) na seção de opinião e debate do NZZ, o jornal mais conceituado da Suíça e que acaba de ganhar um design mais moderno para as suas páginas. “O futuro dos bancos depois da crise” é o seu título. Seu autor assina também com o título acadêmico: Dr. Josef Ackermann,…
Este conteúdo foi publicado em
O suíço já bastante brasileiro financia uma cadeira de inovação e sustentabilidade na Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), onde foi entrevistado por swissinfo. Pierre Landolt é o tipo de pessoa sempre apressada, que não tem tempo a perder. Ele não vê qualquer contradição entre ser banqueiro, membro do conselho de administração da Novartis e…
Este conteúdo foi publicado em
O Fórum Social Mundial, criado em 2001 em contraposição ao Fórum Econômico Mundial de Davos, chega à sua décima edição com o lema “um outro mundo é possível”. Confira alguns fatos e números do movimento.
Este conteúdo foi publicado em
O Fórum Econômico Mundial (WEF) de Davos foi fundado em 1971 por Klaus Schwab, professor de Economia na Suíça. Além de reuniões, o WEF apresenta resultados de pesquisas e envolve seus membros em iniciativas setoriais. O Fórum é financiado por mil empresas filiadas, com faturamento mínimo 5 bilhões de dólares cada.
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.