Brasil continua importante para intercâmbio de conhecimentos da Suíça
Quatro anos depois de inaugurar um escritório no Rio de Janeiro, a agência suíça para promoção da ciência, educação e inovação Swissnex continua a investir no intercâmbio entre o Brasil e a Suíça. Palestras e formação promovem startups em áreas do futuro como fintech e agritech. Para Maria Conti, a nova diretora no Brasil, a troca é proveitosa para ambos os países.
A localização não poderia ser melhor no Rio de Janeiro: no mesmo prédio do Consulado da Suíça no bairro da Glória, o escritório da SwissnexLink externo está localizado em uma cobertura, com uma vista esplendorosa para a Baia de Guanabara e um dos mais conhecidos cartões postais da cidade, a montanha Pão-de-Açúcar.
Desde que assumiu o novo posto de diretora da Swissnex em agosto de 2017, a suíça Maria Conti não se cansa de vislumbrar essa vista. Mas sua relação com o Brasil já vem de longas datas. Ela domina o português e conhece a cultura do país. Sua tese de doutorado foi sobre literatura brasileira. “Nélida Piñón, uma escritora muito pouco conhecida”, conta. Mas agora, seu novo desafio é promover as relações entre os dois países, especialmente na área de inovação, startups e ciência.
swissinfo.ch: O escritório da Swissnex Brasil foi inaugurado em abril de 2014 por ocasião da visita do ministro suíço da Economia, Johann Schneider-Ammann. Qual o balanço que você faz, cinco anos depois?
Maria Conti: Os megaeventos que se sucederam deram para nós uma grande visibilidade, graças também à atuação da Suíça em vários setores. Houve, depois, uma breve fase de transição e agora estamos fortalecendo e ampliando as nossas redes.
swissinfo.ch: Como é o trabalho da Swissnex na prática?
M.C.: Em primeiro lugar temos demandas que vêm da Suíça. Nesse caso, damos consultoria. Um exemplo: um desses parceiros tem interesse de organizar uma universidade de verão no Brasil. Então lhe ajudamos a fazer os contatos. A ideia é que os nossos parceiros tenham a Swissnex como uma plataforma para encontros e trocas de conhecimento que possam levar a novas oportunidades. A ideia é sempre ampliar a rede de contatos e fortalecer algo que já estamos trabalhamos, mas que talvez os nossos parceiros ainda não tenham.
swissinfo.ch: Qual é o perfil desses parceiros?
M.C.: Basicamente são da área acadêmica, ou seja, as universidades. Eles são os nossos parceiros mais importantes, tanto no Brasil como na Suíça. Mas oferecemos também suporte para startups.Elas se beneficiam de um programa especial: interessadas em fazer contatos no exterior, elas passam por um processo de coaching da Innosuisse na Suíça e depois podem entrar em contato com qualquer de um dos nossos escritórios espalhados pelo mundo para pedir apoio.
swissinfo.ch: E como vocês apoiam essas jovens empresas interessadas em encontrar parceiros no Brasil?
M.C.: Em primeiro lugar, temos um diálogo com elas para entender o que estão procurando. Então lhes ajudamos a fazer contatos no Brasil e preparamos para que os encontros tenham resultados positivos. Em si, cada startup tem sua própria demanda. Se ela é da área de turismo, por exemplo, costuramos contatos com empresas da área de big data e mobilidade através de encontros especializados. As startups precisam conhecer o ecossistema brasileiro para poder se mover, um tipo de conhecimento você alcança em várias etapas. A Swissnex ajuda com a expertise local. Há muito potencial a ser explorado.
swissinfo.ch: O que a Swissnex oferece às universidades, além dos contatos institucionais que elas já mantêm com outras instituições?
M.C.: Não só as universidades nos procuram, mas também individualmente os professores, com suas próprias demandas. Mesmo que alguns deles já tenham laços com o Brasil, podemos organizar um evento voltado aos especialistas da sua área, permitindo ainda encontrar mais pessoas. Um exemplo: o debate que organizamos aqui na sede da Swissnex no Rio de Janeiro, onde reunimos pessoas da área de prédios inteligentes (smart buildings). Dele participaram professores do Coppe/UFRJ, o maior centro de ensino e pesquisa em engenharia da América Latina e da Escola Politécnica Federal de Zurique, além de empreendedores. Essa abordagem é importante: explorar, muitas vezes, um caráter interdisciplinar aos eventos.
swissinfo.ch: Quando a Swissnex Brasil foi criada, a economia do país estava em ascensão e havia toda uma expectativa em relação aos grandes eventos. Hoje o Brasil vive uma das suas piores crises. Isso afetou o trabalho de vocês?
M.C.: Nós partimos do ponto de vista que o Brasil continua sendo a maior economia da América Latina. Nesse sentido, o país se mantém interessante para a Suíça. Concretamente, já conseguimos em 2018 realizar mais eventos do que no ano passado. Isso mostra o engajamento e interesse dos nossos parceiros.
swissinfo.ch: Quais foram ou serão os temas dos eventos em 2018?
M.C.: Na metade do ano organizamos, por exemplo o evento relativo aos “smart buildings” (n.r.: prédios inteligentes). Em setembro tivemos um intitulado “Smart Cities for Sustainable and Inclusive Societies” (n.r.: cidades inteligentes para sociedades sustentáveis e inclusivas). No mês anterior tivemos um evento para tratar do tema do lixo eletrônico e outros sobre o impacto dos algoritmos na inclusão social. Também abordamos o fenômeno das “FinTechs” em um evento organizado em maio. Fizemos um grande encontro aqui no Rio de Janeiro por ocasião da vista de representantes do Instituto de Propriedade Intelectual da Suíça para discutir exatamente esse importante tema, que é a propriedade intelectual. Também iremos tratar de “agtech”, o setor de tecnologia para o agronegócio, e inovações sociais.
swissinfo.ch: O Swissnex atua também na área de formação?
M.C.: Sim, é através de um programa chamado “Academia-Industry Training”, que chega agora a sua quinta edição. Temos recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia/CNPq. A ideia é treinarmos dez brasileiros e dez suíços, todos jovens empreendedores que já tenham uma ideia concreta de startup. Os suíços vão chegar no final de novembro e passar uma semana intensa de treinamento, onde vão conhecer o ecossistema brasileiro. As áreas de atuação desses jovens selecionados são bem diversas: agtech, medtech, realidade expandida, biotech, healthtech e nanotech. O call estava aberto a todas as áreas: o que importava era a qualidade do projeto apresentado. A seleção foi feita junto com CNPq e o Fundo Nacional de Pesquisas da Suíça (FNS).
O networking entre os candidatos já começa antes da semana de treinamento acontecer. Depois os suíços chegam no Brasil e encontram, durante uma semana, os outros dez jovens empreendedores. A novidade nesse ano é que vamos incluir São Paulo no programa. Em abril de 2019, os brasileiros vão à Suíça e passam pelo mesmo processo por lá.
swissinfo.ch: Acadêmicos brasileiros também procuram a Swissnex?
M.C.: Sim, mas em sua grande maioria, os pesquisadores brasileiros já são muito bem conectados com o exterior. Porém nós colocamos todas as informações relevantes para pesquisadores disponíveis no nosso site. Além disso, quando organizamos um evento sobre uma determinada área, os pesquisadores brasileiros acabam fazendo trocas e contatos interessantes para eles. Além disso, participamos de feiras e de congressos. Nelas há sempre cientistas que atuam nas nossas áreas de inovação, pesquisa e educação. Estamos lá presentes para justamente criar essa rede.
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Reforço para a cooperação científica entre Suíça e Brasil
swissinfo.ch: Que contribuição a Suíça pode dar para solucionar problemas prementes de países como Brasil?
M.C.: Eu penso que isso não funciona de forma unilateral. Essa contribuição deve ser realizada através de uma troca. A sofisticação tecnológica suíça é muito procurada, mas em alguns casos, pode até ser cara demais para uma realidade brasileira. Por isso acho que é bom ter alguém mediando, vendo possibilidades e procurando conexões. Se pego o exemplo de uma área em que já trabalhamos como a “agtech”, as inovações no setor do agronegócio por meio de novas tecnologias aplicadas no campo é um dos grandes potenciais do Brasil, uma tecnologia que pode ser relevante para a Suíça. Por ocasião da visita do ministro suíço da Economia, Johann Schneider-Ammann, e uma grande delegação de empresários suíços ao Brasil no início de maio, nós aproveitamos para apresentar ao grupo alguns desses atores.
swissinfo.ch: Existem inovações brasileiras que possam interessar a Suíça?
M.C.: Além de agritech, o Brasil oferece muito em termos de inovação social. Nela está envolvida altíssima tecnologia, mas nem sempre. Na verdade, é a procura de soluções para problemas relevantes à sociedade de hoje. E nisso há interesse dos dois lados.
swissinfo.ch: Quais são as perspectivas de futuro da rede Swissnex no Brasil?
M.C.: A swissnex está mapeando o potencial de outras áreas geográficas. Vamos continuar trabalhando no AIT, que permite fazer a ponte entre a academia e a indústria e no soft landing aqui no Brasil para as startups suíças. Pretendemos oferecer aos nossos parceiros redes importantes, apresentando informações sobre tendências e ser uma plataforma para encontros singulares.
O que é?
O posto de attaché científico da Suíça foi criado em 1958. Dez anos depois, três representantes do país atuavam no setor nas embaixadas em Washington, Moscou e Tóquio. A partir dos anos 1990, seu número cresceu e os postos diplomáticos passaram a fazer parte de uma rede.
A partir de 2008, a rede passou a ser subordinada à Secretaria de Estado para Educação, Pesquisa e InovaçãoLink externo e foi unida sobre o nome de “SwissnexLink externo“. O principal objetivo dessas “embaixadas” científicas da Suíça é de promover contatos e parcerias entre universidades, startups, organizações ligadas à ciência e centros de pesquisas entre a Suíça e os países onde está instalada.
A primeira representação da Swissnex no exterior foi aberta em 2000 em Boston, Estados Unidos, graças à doação de dois milhões de dólares da Fundação Lombard Odier para a compra de um imóvel. Em 2003, doadores privados permitiram a compra de outro imóvel em São Francisco (EUA). Logo depois seguiram Xangai (China, 2008), Bangalore (Índia, 2010) e Rio de Janeiro (Brasil, 2014). Hoje, a rede é completada por 22 conselheiros científicos que atuam em embaixadas da Suíça no exterior.
Além do escritório no Rio de Janeiro, a Swissnex Brasil mantém também uma representação em São Paulo. A instituição organizou em 2017 diversas atividades: dois encontros “FinPinTech” voltados à área de fintech, empresas que redesenham a área de serviços financeiros com processos inteiramente baseados em tecnologia; palestras, dentre outras com o professor Dirk Helbing (ETH Zurique) sobre “a revolução digital”, intercâmbios de desenvolvedores suíços e brasileiros na área de games ou de jovens empreendedores suíços e brasileiros no contexto da Academia de Treino para Indústria (AIT), dentre outros
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