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A preservação da natureza é a prioridade de Fernando Sousa

Fernando Sousa passeando nos Alpes. 
Fernando Sousa passeando nos Alpes. swissinfo.ch

A primeira experiência de Fernando Sousa na Suíça aconteceu no ano de 2012, durante seis meses, ao abrigo de um estágio do programa europeu Leonardo da Vinci. Posteriormente manteve-se entre Lisboa, Basel e alguns países africanos até que, em 2015, fixou-se definitivamente em Basel e iniciava uma colaboração sem termo com o FiBL.

A gozar alguns dias de férias em Portugal, a swissinfo.ch encontrou-se com o biólogo português numa das praças de Lisboa, para partilhar connosco o seu percurso pessoal e profissional.

Fernando Sousa fez a sua licenciatura em Biologia, na Faculdade de Ciências da Universidade de LisboaLink externo, na vertente de zoologia. No seu mestrado, decidiu encaminhar-se para a área da Conservação da Natureza e escolheu estudar a população de chimpanzés numa floresta próxima da aldeia de Gadamael, no sul da Guiné-Bissau. Para realizar o seu trabalho de campo, permaneceu naquela aldeia durante cerca de quatro meses. Durante esse período, passava os dias na floresta a contar ninhos de chimpanzés para estudar a densidade populacional dessa espécie. Fernando também procurou no seu estudo encontrar os pontos de conflito entre as populações humanas e as populações de chimpanzés.

Após terminar a sua tese de mestrado, Fernando, juntamente com outros dois colegas, decidiu concorrer a uma bolsa de jovens investigadores, promovida pelo Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais. O peso da produção de caju na economia guineense, estimado em cerca de 98%, levou-os a analisar a influência dos monopólios comerciais. Essa preponderância está presente nas diversas fases da cadeia de valor, contudo, decidiram incidir o estudo junto das populações, e perceber como isso afeta as suas vidas. Como corolário da investigação, para além de uma publicação, foi realizado um documentário intitulado Hortas di PobrezaLink externo, onde se retrata a vida daquela comunidade.

O programa Leonardo da Vinci

Regressado a Portugal, Fernando Sousa encontrava-se um pouco indeciso entre permanecer nas ciências biológicas ou mudar-se para as agronómicas. A conservação da natureza era o seu principal objetivo mas compreendeu, “que não podíamos fazer grande coisa pela natureza se não fizéssemos alguma coisa pelos sistemas de produção alimentar”, pois são esses sistemas que mais destroem os ecossistemas.

Por esse motivo, decidiu candidatar-se ao FiBLLink externo, que é um instituto de referência no que concerne à investigação e desenvolvimento em agricultura biológica, situado em Frick, na Suíça. A candidatura teve o apoio do programa Leonardo da Vinci, e, assim, deu início à sua aventura helvética no ano de 2012. Durante os seis meses de estágio, ia frequentemente ao FiBL apresentar e discutir os dados recolhidos no seu trabalho de campo junto de agricultores no Burkina Faso e no Mali, mas manteve-se a residir em Lisboa. Findo o estágio, permaneceu com contratos de seis e noves meses, como consultor do projeto de investigação.

O novo projeto de investigação e a chegada à Suíça

Em 2015, recebeu o convite para integrar a equipa de coordenação do projeto Organic Resource Management for Soil FertilityLink externo (orm4soil) e não hesitou em mudar-se para Basel. No projeto em que se encontra a trabalhar atualmente, integra uma equipa de cinco elementos, oriundos de Alemanha, Gana e Suíça. Para além desses, há cerca de trinta e cinco elementos dispersos pelo Gana, Zâmbia, Mali e Quénia e um total de 120 agricultores.

O orm4soil tem como característica a interdisciplinaridade, focando-se em três áreas: ciências da comunicação, sociologia e ciências agronómicas. A equipa é heterogénea e é composta por agricultores, técnicos, agentes de viabilização agrícola, cientistas e stakeholders, evidenciando a transdisciplinaridade que o projeto ambiciona.

Funções de coordenação

Fernando Sousa assume que faz de tudo um pouco no projeto, mas tem maior responsabilidade na comunicação. Este projeto tem como objetivo principal, aumentar o nível de fertilidade dos solos naqueles quatro países africanos. Por isso, as funções de coordenação têm de procurar harmonizar as atividades nos quatro países.

De acordo com Fernando, “a ideia é que os agricultores testem inovações agrícolas de forma participativa, ou seja, eles dão ideias, depois os investigadores em conjunto com os agricultores desenvolvem protocolos para as testar nos seus campos”. Todos os dados e atividades são monitorizadas pelos técnicos e investigadores porque “a ideia é perceber que tipo de inovações permitem aumentar a fertilidade dos solos”. Esta forma de trabalhar distancia-se da forma tradicionalmente europeia de implementar a tecnologia e as ideias sem escutarem as pessoas nos diversos países de cooperação.

Fernando Sousa encontra-se a trabalhar a tempo parcial, o que também lhe permite ter tempo para outras atividades. “Na Suíça dá para trabalhar 50% e ainda viveres. Não dá para poupar muito dinheiro, mas dá para viveres”. Devido a essa redução de horário, desloca-se três vezes por semana ao instituto. Contudo, reconhece que não tem rotinas porque “cada fim-de-semana é diferente e se eu quiser podem ser prolongados. Então, não há espaço para rotinas”.

Vida social

O investigador destaca que Basel é uma cidade reconhecida pela sua vida cultural e artística. Na sua opinião, a concentração de museus é impressionante e elege o museu dedicado à obra do escultor Jean TinguelyLink externo como um espaço de cultura interessante. Por outro lado, durante o verão, à semelhança de outras cidades suíças, existe uma grande diversidade cultural fora de portas que ele destaca.

Fernando Sousa com agricultores do Mali
Fernando Sousa com agricultores do Mali. swissinfo.ch

Na Suíça, Fernando teve contacto com a vivência de rio e rapidamente ficou fascinado por ela. Conta-nos a experiência de flutuar no rio do início da cidade até ao seu final, durante cerca de 40 minutos, agarrado a uma boia colorida que serve, simultaneamente, para guardar os pertences das pessoas. Fernando Sousa assume que“ isso é muito giro porque vês a cidade do rio, já vi lá pessoas que eu não via há muito tempo”. No final, é costume fazerem um churrasco nas margens, “a vivência da beira-rio em Basel é muito agradável. Isso transformou-se na minha praia de lá”.

Hobbies e Ativismo

A sua experiência suíça está a ser um pouco atípica da maioria dos portugueses nesse país. Conta-nos que não tem amigos portugueses no seu círculo de amizades, “não que fuja disso, apenas não aconteceu”. Fernando costuma frequentar aulas de forró e através desse grupo, aproximou-se de diversos suíços, brasileiros e alemães, na sua maioria.

O envolvimento com esse grupo rapidamente cresceu e envolveu-se na associação Vereinslokal. O espaço tem características diferentes das habituais e é baseado na economia da oferta, “podes ir lá cozinhar, tirar uma cerveja, no final tens um pote à saída e deixas o teu donativo”. O seu interesse pelas questões ambientais encontrou aí ressonância e organiza ciclos de cinema sobre o tema e a última conferência organizada foi subordinada à tendência de privatização das sementes e as suas consequências.

Passo seguinte: ideias não faltam

Fernando Sousa reconhece que tem uma situação bastante estável no FiBL, o que pode fazê-lo acomodar-se. Contudo, os projetos estão sempre a fervilhar na sua cabeça. Brevemente, irá contribuir com artigos para publicações portuguesas sobre questões ambientais. Assume igualmente ter cada vez mais interesse em desenvolver projetos com povos indígenas no Brasil e pensou que a Fundação Bruno ManserLink externo poderá ser o parceiro indicado. A sua vontade de mundo induz-lhe a vontade de ir para diversos lugares mas reconhece, pelo menos nos próximos, que será na Suíça que terá a sua casa.

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