O mais alto farol do mundo brilha nos Alpes
Os suíços acabaram de quebrar dois recordes mundiais: construíram o mais longo túnel ferroviário, e em cima dele ergueram o mais alto farol do mundo.
Um farol não é o que os visitantes esperam ver em uma passagem alpina – e é exatamente por isso que ele está lá. A secretaria de turismo Disentis-Sedrun, que abrange a área do Oberalp, quer que ele dê o que falar.
O passo Oberalp, 2.046 metros acima do nível do mar, que liga o centro turístico suíço de Andermatt com a região Surselva do cantão dos Grisões, fica perto da nascente do Reno, e os moradores da região querem chamar a atenção dos turistas para isso.
“As pessoas passam direto por aqui e provavelmente nem percebem que é nesse ponto que o Reno nasce”, disse Andreas Pfister, chefe do departamento de construção da comuna de Tujetsch, à swissinfo.ch.
“Esse farol está aí para enviar uma mensagem, assim as pessoas vão parar e se perguntar: por que eles precisam de um farol aqui? Provavelmente não recebem um monte de navios”.
Comunidade renana
Em alguns anos, se tudo correr bem, haverá de fato um navio aqui também. A idéia é navegar com um barco típico do Reno a partir de Rotterdam – onde o rio deságua no mar – até a Basileia, o último ponto navegável. Lá, ele será então cortado e transportado para o passo, e remontado ao lado do farol, onde será transformado em um museu.
O farol não veio de tão longe: foi construído na cidade suíça de Sarnen, mas deve parecer familiar aos turistas holandeses, já que é uma cópia menor de um outro farol que está na Holanda.
“Nós pertencemos a uma comunidade enorme. Eu li que 50 milhões de pessoas vivem ao longo do Reno, e queremos dar-lhes um símbolo para que se sintam conectadas com a fonte “, disse Pfister.
Região remota
A área Disentis-Sedrun, logo abaixo do passo alpino, é relativamente afastada pelos padrões suíços. Embora esteja apenas cerca de 75 km, em linha reta, do barulho de cidades como Zurique, é nescessário umas boas três horas para chegar lá, seja de carro ou de trem. A região tinha grandes esperanças que o túnel na base do São Gotardo – perfurado na sexta-feira – iria abrir a chamada “Porta Alpina”.
Um eixo de acesso de 800 metros de profundidade já existe, construído para receber os trabalhadores da construção até o túnel. A idéia era converter o elevador para uso de passageiros e construir uma estação intermediária no túnel – aliás, estabelecendo dois novos recordes mundiais: o do mais longo elevador e o da estação mais profunda.
Mas o plano foi posto em escanteio em 2008 – uma decisão que ainda irrita. Todas as pessoas com quem swissinfo.ch falou na região, de estudantes primários aos aposentados, demonstraram sua decepção.
Roland Bachmann, responsável pelo turismo de Disentis-Sedrun, explica que a região não está de olho só nos países que bordam o Reno para aumentar o número de visitantes.
“O importante é que esse farol envie sua luz para outros cantões. O que nós queremos é mostrar que estamos trabalhando juntos para desenvolver o turismo, a economia e assim por diante”.
Bachmann deposita sua esperança no desenvolvimento de Andermatt graças a ajuda do empresário egípcio Samih Sawiris, que está construindo lá hotéis, apartamentos turísticos e instalações esportivas – incluindo a criação de uma única área de esqui que abrange também Sedrun.
Ele garantiu à swissinfo.ch que a beleza das montanhas não será danificada pelo afluência de turistas e instalações de veraneio.
“Nós não devemos nos deixar levar pelos nossos planos. É essencial discuti-los com as organizações de proteção da natureza “, disse.
“Mas temos uma área tão grande, de extrema beleza. Eu realmente não consigo imaginar que ela possa ser assim tão explorada ao ponto de sofrer”.
Interesse local
Segundo depoimentos da imprensa local e da televisão, o farol já estava atraindo multidões ao Oberalp antes mesmo ter sido inaugurado.
Uma senhora do vilarejo de Rueras, logo na descida do vale, embora acredite que o farol atrairá mais turistas, tem lá suas reservas: “um farol realmente não tem nada a ver com o topo de um passo alpino”, disse. “O jornal em língua romanche disse que o objetivo era fazer com que as pessoas falassem, e isso aconteceu.” Mas quando questionada sobre o que as pessoas estavam exatamente dizendo na sua cidadezinha, ela apenas riu.
Uma família de Zurique – cujas raízes estão na região – foi mais positiva: “é uma grande idéia”, disse o pai. “Nós acabamos de explicar às crianças porque o farol está ali, onde o Reno começa. Acho isso brilhante.”
Vision Rheinquelle – ou Visão da Fonte do Reno – é um projeto da secretaria de turismo Disentis-Sedrun.
A secretaria é responsável pelo marketing da área leste da passagem de Oberalp, onde o Reno tem a sua fonte.
O farol, inaugurado na noite de 14 de outubro, é uma réplica menor de um outro que se encontra na foz do Reno, na Holanda.
A cópia foi feita na cidade suíça de Sarnen (centro), e levada para a passagem alpina por caminhões pesados.
Tem cerca de 10 metros de altura e um farol rotativo vermelho.
A secretaria espera trazer uma barca do Reno de Rotterdam para a passagem alpina em março de 2012. Ela deve subir o rio, parando no caminho para divulgação do evento. Quando chegar à Basileia – o último ponto navegável – será cortada e levada aos alpes de camião.
Uma vez lá em cima, será transformada em um museu.
O Reno (em alemão: Rhein, em francês: Rhin e Rain em romanche) é um rio com 1 230 km de comprimento que atravessa a Europa de sul a norte, desaguando no Mar do Norte no Delta do Reno e Mosa.
Seu nome é de origem celta e significa “fluir”(bem como no grego antigo ρέω, rheō). Junto com o Danúbio, o Reno constituía a maior parte da fronteira setentrional do Império Romano. Os romanos chamavam o rio de Rhenus. Desde essa época o Reno é um curso de água muito usado para o transporte e o comércio.
Entre a cidade de Basileia e seu estuário, o Reno atravessa uma das zonas mais densamente povoadas da Europa ocidental, historicamente rica em comércio, e desagua onde se desenvolveu a cidade de Rotterdam, nos Países Baixos, o mais importante centro portuário europeu.
Em 2000, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) inscreveu os 65 km do Vale Médio do Reno na lista do Patrimônio Mundial, juntamente com o rochedo da Lorelei.
(Adaptação: Fernando Hirschy)
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