Como um lugar do qual você jamais ouviu falar supera Zurique e Genebra
Nem a capital financeira Suíça, nem sua cidade internacional, mas sim uma pequena comunidade à beira do lago de Zurique recebeu o título de lugar mais atraente da Suíça para se viver.
Chove fortemente e o céu está denso e cinzento ao chegar em RüschlikonLink externo. Mas assim que a chuva para, o sol e as pessoas ressurgem. As ruas que levam ao lago são balizadas por casas com estrutura de madeira exposta e por atraentes butiques. A vista das margens do lago é de tirar o fôlego.
Embora não more distante de Rüschlikon, essa é minha primeira visita. O vilarejo é desconhecido pela maioria dos suíços, mas entre seus residentes se encontram membros da elite mundial de negócios como Ivan Glasenberg, diretor-presidente da Glencore, uma gigante dos setores de mineração e commodities.
Isso se dá em parte pelos baixos impostos, um dos motivos pelos quais a cidade foi eleita pela revista WeltwocheLink externo como a primeira do ranking de melhores lugares para se viver na Suíça. A lista incluiu cada município suíço com no mínimo 2.000 habitantes, cobrindo também critérios como empregos, escolas e cultura.
“Vários aspectos de nossa cidade são verdadeiras dádivas”, diz Bernhard Elsener, prefeito de Rüschlikon, durante nosso encontro na prefeitura. “Nós estamos próximos ao lago, à cidade de Zurique e temos um excelente sistema de transporte público e privado”.
De fato, o vilarejo se encontra a apenas seis quilômetros distante de Zurique que, com o vigésimo-segundo lugar, foi a melhor cidade listada nesse ranking. Genebra ficou em quadragésimo-quinto lugar.
Outros fatores têm a ver com a comunidade, diz Elsener, mencionando a construção de apartamentos para famílias que de outra maneira não poderiam viver em Rüschlikon, dados os preços elevados de imóveis na vizinha Zurique. Existem planos, por exemplo, para a construção de apartamentos no centro, próximos à estação de trem. Tais apartamentos já existem em outras partes do vilarejo.
As áreas mais exclusivas se encontram às margens do lago ou nas colinas (Rüschlikon foi construída em um declive) de onde se tem a vista do lago. Outro fator no sucesso de Rüschlikon foi a vibrante vida culturalLink externo que promove o sentido de comunidade no local.
Expatriados, famosos ou não
Estrangeiros perfazem aproximadamente 30% da população, sendo que boa parte deles são de segunda ou terceira geração. Há também muitos expatriados, dentre os quais os empregados em um laboratório de pesquisas da IBMLink externo situado nas cercanias.
Elsener disse que os empregados expatriados apreciam a privacidade. “Nós temos muitos executivos de companhias mundialmente renomadas, CEOs que praticamente ninguém sabe que moram aqui. Seus filhos vão à escola aqui, e suas famílias vão à tinturaria como todo mundo”.
O sul-africano Glasenberg fez as manchetes dos jornais quando a abertura do capital de sua firma resultou em uma enorme e inesperada receita para os cofres de Rüschlikon. Outros VIPs que aparentemente também vivem em Rüschlikon são o antigo CEO da firma Lafarge-Holcim, Eric Olsen, e a presidente do conselho de administração da Companhia Ferroviária Suíça (SBB, na sigla em alemão), Monika Ribar.
Se há alguém que sabe sobre a integração de expatriados, esse é Urte Sabelus, o presidente da Associação de Pais de RüschlikonLink externo. A alemã nata vive em Rüschlikon desde 2001. Suas duas filhas mais velhas frequentaram a escola internacional nas redondezas, mas a mais nova frequenta a escola local “para adquirir raízes no vilarejo”, diz Sabelus
Sentido de comunidade
Ela diz que houve um impacto positivo com o aumento de expatriados. “Os residentes locais e os expatriados conversam entre si. Eles não têm vidas separadas porque nós temos muitas atividades organizadas pelos clubes e associações”, explica ela.
E por que os expatriados vêm para Rüschlikon? Propaganda boca-a-boca é uma razão, ela diz, acrescentando que o lugar também é ameno para famílias. A escola se empenha na integração de crianças que não falam alemão.
Residente de longa data e o salva-vidas do Badi (piscina do lago) já há 33 anos, Ernst Rusterholz ainda conhece muitos dos moradores do vilarejo, apesar do influxo de novos habitantes.
As pessoas aproveitam o lago durante o verão, e as florestas do entorno para caminhadas e passeios de bicicleta durante todo o ano. “O vilarejo não tem propriamente um centro, mas existem vários pontos de encontro”, diz ele acrescentando que ainda há uma atmosfera de vilarejo no local.
Giovanna Arnold, da tinturaria Terlanden localizada próxima à estação, também curte a vida em Rüschlikon apesar de viver na cidade vizinha de Adliswil (número 56 do mesmo ranking, e um dos 10 lugares nas margens à oeste do lago de Zurique a serem listados entre os 100 melhores).
Nós conversamos durante uma pausa no entra-e-sai dos clientes (a loja está particularmente movimentada por ser um dia de oferta especial). “As pessoas são simpáticas e permaneceram com o pé no chão. Até nas famílias ricas, eles mesmos trazem as próprias roupas, e normalmente não o chofer. Eles conversam com você”, diz ela.
O futuro
E o que pensa a nova geração sobre Rüschlikon? swissinfo.ch falou com três alunos da escola primáriaLink externo –localizada em frente à prefeitura – e que tiveram permissão para falar conosco durante o horário de aulas. “Eu gosto muito daqui”, diz Delveen, de 11 anos, vinda do Iraque e residente de Rüschlikon há 18 meses. Ela gosta de estar com amigos. “Eu gosto de andar de bicicleta e esporte, e isso você também pode fazer na floresta,” diz ela em bom alemão.
As amigas Anny e Mathilda são ambas nascidas e criadas em Rüschlikon. Mathilda gosta particularmente do clube jovem nas tardes de quarta-feira, enquanto Anny gosta de poder se movimentar pelo vilarejo sozinha e sem carro, além de estar próximo a Zurique. E as meninas, vão ficar em Rüschlikon? Delveen e Mathilda talvez, mas Anny pensa em ir para Londres algum dia. “Rüschlikon continua sendo minha cidade natal” diz ela.
Isso nos leva de volta à questão fundamental sobre o que vai acontecer no ano que vem. Será que Rüschlikon espera manter sua posição no ranking de 2018? A resposta é quem viver verá, diz Elsener, que também tem interesse na metodologia da pesquisa.
Um jornalista me perguntou o que eu faria se não mais fossemos primeiros colocados; se eu me aposentaria do cargo de prefeito”, diz Elsener que, como todos os prefeitos de pequenas comunidades na Suíça, desempenha sua função em tempo parcial. Seu outro cargo é como professor de ciência dos materiais na Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH).
“Eu disse que não, pois não é assim que funciona o sistema político suíço. Por outro lado, eu vou congratular o prefeito do município primeiro colocado”.
Diferenças regionais
Rüschlikon, Meggen e Zug – localizadas respectivamente nos lagos Zurique, Lucerna e Zug – são os três melhores lugares para se viver. Seis dos dez melhores locais são próximos a Zurique. Apenas dois se encontram na parte francófona da Suíça (Chêne-Bougeries e Lutry).
A última colocada no ranking foi Val-de-Travers, no cantão de Neuchâtel.
Um estudo sobre o poder aquisitivo per capita na Suíça em 2017 feito pela firma internacional de pesquisa de mercado GfK demonstrou claras diferenças regionais. Zurique, Genebra e a Suíça central estão no topo da lista em termos de poder aquisitivo.
Adaptação: Danilo von Sperling
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