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Suíços do estrangeiro devem esperar pelo voto eletrônico

Mais de quatrocentos participantes estiveram no encontro da ASO em Lucerna. swissinfo.ch

Convidada para participar do 87° congresso de suíços do estrangeiro, a chanceler federal Corina Casanova anunciou que o voto eletrônico deve se tornar realidade a partir de 2015.

Outra boa notícia foi dada pelos Correios Suíços: suíços residentes nos EUA poderão volar a ter uma conta na Suíça. Os quatrocentos participantes também debateram seu papel no exterior como “embaixadores” helvéticos.

Como todos os anos, o congresso dos suíços do estrangeiro ocorre em uma diferente cidade. Em 2009, as fortes chuvas acabaram dando um clima de outono. Porém, ao contrário de ser apenas um encontro social, o evento é uma plataforma de debates para uma comunidade que se considera ativa. Os que partiram ao exterior mantêm laços fortes com a pátria, necessitam informações e não cogitam de dar sua própria opinião.

Às margens do lago de Lucerna, no centro de congressos do Museu de Transportes, o encontro começou pela manhã de sábado com várias palestras. Federico Sommaruga, responsável no órgão oficial Suíça Turismo pelo contato com os suíços do estrangeiro revelou aos presentes a existência de um novo site voltado exclusivamente para as comunidades helvéticas no exterior. “Gostaríamos que o maior número membros e seus descendentes se registrem no site”, clamou. As vantagens oferecidas vão de descontos em vários programas turísticos ou pacotes especiais de “redescoberta” do país.

Pouco depois, o tema passou para os correios. Claude Béglé, diretor do conselho de administração dos Correios Suíços, foi convidado a discursar como perfeito representante dos suíços de estrangeiros. “Nasci em Berna, estudei no cantão de Vaud e depois viajei toda a Ásia com amigos em uma Kombi. Com 25 anos era conselheiro do rei em Katmandu. Entrei no Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e depois fui para o Líbano, durante a guerra. Conheci a Libéria.”

Béglé trabalhou muitos anos para multinacionais como a Nestlé e os Correios Alemães. Sua vida profissional foi pontuada por mudanças. No total viveu em 15 países e trabalhou em mais de cem. “Sou um típico suíço do estrangeiro. Aqui no meu país sou um estrangeiro (risos). Porém sempre soubemos manter as raízes”, conta, revelando que hoje possui domicílio em Lausanne, na Suíça

No seu discurso ele falou de um problema atual vivido por suíços do estrangeiro nos Estados Unidos. Devido à disputa entre o UBS, o maior banco do país, e as autoridades fiscais americanas, muitas instituições bancárias helvéticas pressionam seus correntistas nos EUA a fechar suas contas. Os dois governos ainda estão fechando as bases de um acordo considerado complexo. Claude Béglé prometeu oferecer uma solução ao problema. “Vocês poderão ter no grupo financeiro dos Correios Suíços uma conta”, contou ganhando aplausos do público.

Roda de discussões

Depois do almoço em um pavilhão repleto de locomotivas, os participantes do congresso assistiram uma roda de discussões com emigrantes suíços. A questão levantada era o próprio tema principal do encontro de 2009 da ASO: “Suíços do estrangeiro – uma contribuição para o nosso país?”.

“Nenhum programa de promoção pode ocorrer sem os representantes reais do país, que são as comunidades helvéticas no exterior. Eles têm uma imagem fundamental para a imagem da Suíça. Além disso, sua função interna é de defender valores de abertura a outras culturas”, afirmou o ex-diplomata Raymond Loretan, hoje presidente do conselho de administração da empresa Swiss Medical Network.

Outro participante do debate foi o médico e professor Ruedi Lüthy, um suíço do estrangeiro que criou e mantém um hospital em Harare, no Zimbábue. “Na África ser suíço é algo muito especial, mas com suas contradições. Eu introduzi na nossa clínica um sistema de horários, pois muitos chegavam com atraso e saiam cedo. Tenho certeza que um exemplo desses é muito positivo, assim como também a nossa medicina de qualidade. Até as pessoas mais simples falam que querem ir ao nosso hospital. Por isso me compreendo como embaixador das qualidades suíças.”

A pergunta lançada pelo moderador foi ao ponto. “O que a Suíça deve fazer para os suíços do estrangeiro?”. A resposta foi dada por Zoë Jenny, escritora suíça radicada há cinco anos em Londres. “Para mim informação é a coisa mais importante, e uma delas é a Revista Suíça que esperamos poder continuar a receber”. Enquanto Raymond Loretan reforçou outro um ponto importante para centrar o apoio do governo suíço: “Continuar apoiando as escolas suíças no exterior.”

“Os suíços do estrangeiro são mais levados em consideração nos nossos países do que na própria Suíça”, criticou um dos presentes, radicado em Munique. Outro representante do público reivindicou mais espaço na mídia nacional com histórias de suíços do estrangeiro. “Poderíamos colocá-las nas revistas da Coop (rede de supermercados e com uma das maiores tiragens do país) ou da Companhia de Trens Suíços”, disse.

Para encerrar o debate, o presidente da ASO e ex-deputado federal criticou o debate atual de possíveis cortes ao orçamento das escolas suíças no exterior. “Elas não são só importantes para os próprios suíços, mas também para peruanos, argentinos ou outros estrangeiros que procuram nelas as qualidades suíça. Elas são as verdadeiras embaixadoras do nosso país”, afirmou Jacques-Simon Eggly.

Chanceler Federal

Corina Casanova viveu cinco anos no exterior como delegada do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Como representante do governo federal – ela é chanceler, cargo que na Suíça corresponde a uma espécie de chefe administrativa do Conselho federal, o colegiado de ministros – ela dirigiu-se aos presentes no congresso para lembrar como vários suíços do estrangeiro tiveram um papel importante na política suíço como deputados ou senadores.

Ela revelou que o voto eletrônico é um dos projetos mais importantes do governo federal. Concretamente, a intenção é permitir a participação à distância em eleições e plebiscito através da internet. “Porém o sistema tem de ser absolutamente seguro”, ressaltou. O projeto do e-voting surgiu em 2000 e funciona como projeto-piloto nos cantões de Genebra, Zurique e Neuchâtel.

“O objetivo do governo é ter 50% dos suíços do estrangeiro até 2012 participando da política através do voto eletrônico. Os resultados das análises de segurança devem estar prontos até 2013 e sua aplicação em 2014 concretizada”, revelou a chanceler, mas adiantando que concretamente o voto-eletrônico só estará completamente em funcionamento até 2015.

“Suíça e a Estônia são os únicos países que, concretamente, continuam a trabalhar com o projeto do voto eletrônico na Europa. Vou me dedicar pessoalmente para que vocês, suíços do estrangeiros, possam participar do sistema político através do voto. Mas tenham paciência, pois esse é um projeto complexo”, pediu Casanova.

Alexander Thoele, swissinfo.ch

2001: primeiro relatório sobre o voto eletrônico

2002: criação de bases legais

2003: primeiros testes no cantão de Genebra

2004: primeiros testes durante votações federais, ainda no cantão de Genebra

2005: primeiros testes em votações federais nos cantões de Zurique e Neuchâtel

2006: 2° relatório

2008: testes simultâneos nos três cantões

Aproximadamente 670 mil suíços vivem no exterior.

Dois terços têm sua residência em países europeus.

Três quartos têm dupla nacionalidade.

De 6 a 8 de agosto aproximadamente 400 suíços do estrangeiro reúnem-se em Lucerna para seu congresso anual. O evento é organizado pela Associação dos Suíços do Estrangeiro (ASO, na sigla em alemão) com o objetivo de debater problemas e questões atuais da comunidade.

Na sexta-feira, o Conselho dos Suíços do Estrangeiro, do qual fazem parte 140 pessoas, votaram resoluções sobre questões diversas. No sábado ocorre o congresso geral, cujo tema em 2009 é “Suíços do estrangeiro, um enriquecimento para a Suíça?”

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