Suíços vivem cada vez mais no exterior
Em 2013, quase um suíço em dez vivia no estrangeiro. A comunidade de expatriados suíços continua crescendo, atraída pelas novas necessidades da economia e os benefícios oferecidos pela livre circulação de pessoas na UE. Facilidades sobre as quais paira a incerteza do plebiscito de 9 de fevereiro.
Foi o maior aumento nos últimos 5 anos: em 2013, o número de expatriados suíços aumentou 2,3% em relação ao ano anterior, atingindo 732.183 (+16.463) pessoas. Hoje, quase um em cada dez suíços mora fora do país. Esse número deve ser provavelmente muito mais importante, pois nem todos se registram nos consulados, escapando, assim, às estatísticas do Ministério das Relações Exteriores suíço, o DFAE, na sigla em francês.
Os suíços do estrangeiro estão espalhados por todo o mundo: da França (26% do total) à Groenlândia (5), de Papua Nova Guiné (111) passando pelo Sudão do Sul (24) e a Síria (119), dois países que enfrentam uma guerra civil, ou até mesmo na Coreia do Norte (8), o Estado mais fechado do planeta.
Pelo sexto ano consecutivo, a Ásia registra o aumento mais significativo (+5,6%), seguida pela África (2,5 %) e a Europa (+2,3%), que continua sendo o destino preferido dos suíços que partem morar no estrangeiro, quase 62% dos expatriados ou 452.965 pessoas residem em outros países do velho continente. Destes, 96,7% vivem em um país da União Europeia.
Embaixadores desconhecidos
Além dos números, sabe-se relativamente pouco sobre este grupo. “A Suíça percebe o fenômeno da migração de forma unilateral, ela se concentra nos estrangeiros que se instalam no nosso país, mas dá pouca atenção aos seus cidadãos que optam por viver no exterior e que são, no entanto, os embaixadores do nosso país”, disse Ariane Rustichelli, codiretora da Organização dos Suíços do Estrangeiro (OSE). “Nós não dispomos das informações necessárias para compreender a Quinta Suíça, que tende a se fundir na massa, precisamente porque demonstra uma grande discrição”, acrescenta.
As estatísticas publicadas anualmente pelo DFAE permitem, no entanto, a extrapolação de alguns dados. Em primeiro lugar, observa-se que três quartos dos cidadãos suíços que vivem no exterior estão entre os 18 e 65 anos e são, portanto, potencialmente ativos profissionalmente. A maioria deles também tem dupla nacionalidade.
“Parte da emigração é formada de pessoas que vão para o exterior para iniciar uma nova vida. O fenômeno da migração laboral de curto prazo, no entanto, está crescendo. Em outras palavras, uma pessoa pode ser obrigada a deixar o país várias vezes durante a carreira. É por isso que é muito importante que esses estrangeiros possam manter laços estreitos com a Suíça”, relata Ariane Rustichelli.
A codiretora da OSE ressalta também que em 2013 o número de suíços inscritos nos registros eleitorais aumentou. Eles são agora 155.523 (+4,23%) a se exprimir sobre as questões políticas na Suíça, o que corresponde a um quarto de todos os expatriados com direito a voto.
Em uma conferência realizada em agosto de 2012, especialistas pediram a criação de um instituto e um dicionário que reuniria várias pesquisas sobre a história da emigração suíça. O objetivo é ter uma visão global da história da Suíça e interconexões entre imigração e emigração.
A Universidade de Basileia lançou um projeto de pesquisa sobre a imigração suíça contemporânea. Financiada pelo Fundo Nacional de Pesquisa Científica, o estudo deverá ser finalizado durante o verão de 2016.
O Museu dos Suíços do Estrangeiro pretende criar uma plataforma para reunir informações mais precisas sobre o perfil dos expatriados: Quem são? Por que saem? Por quanto tempo? Em que áreas trabalham? Quais são seus sonhos e desafios?
Bom para o currículo
As pessoas que vão para o exterior por motivos profissionais são geralmente mandadas pela empresa em que trabalham. Nos últimos anos, no entanto, um número crescente de suíços partiu por conta própria em busca de emprego, observa Alain Salamin, fundador da empresa de consultoria em recursos humanos AS-HR Consulting e professor da Escola Superior de Comércio (HEC) de Lausanne. Uma evolução que se deve ao surgimento de sites especializados em recrutamento internacional.
“Para quem deseja fazer carreira, uma experiência no exterior se tornou uma parte essencial do curriculum vitae. Em geral, as empresas estão enfrentando desafios cada vez mais internacionais. Elas devem contar com um pessoal com a mente aberta e capaz de entender o que está acontecendo em outros países. Isto é especialmente importante para um país como a Suíça, cujos negócios são orientados principalmente para os mercados externos”, diz Alain Salamin.
Segundo o especialista, a entrada em vigor da livre circulação de pessoas facilitou a emigração suíça para países da União Europeia, “mas é verdade que os trabalhadores suíços com um bom nível de formação não encontram nenhuma dificuldade na obtenção de um visto de estadia, mesmo nos países mais distantes, que também precisam de mão de obra e talentos.”
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A sombra do 9 de fevereiro
Para a OSE, não há dúvida de que os suíços do estrangeiro gozam diretamente dos benefícios da livre circulação de pessoas. “Graças aos acordos bilaterais, eles podem procurar emprego na UE, se estabelecer ou reconhecer seus diplomas”, diz Ariane Rustichelli. Um questionamento do princípio da livre circulação de pessoas pode ter um impacto negativo sobre a Quinta Suíça (a Suíça do estrangeiro), alerta a OSE em um comunicado.
Os principais envolvidos também não escondem sua preocupação, especialmente através da plataforma SwissCommunity, criada na internet pela OSE na véspera da votação sobre a iniciativa “Contra a imigração em massa” do partido do povo suíço (SVP, na sigla em alemão).
“Antes dos acordos bilaterais, era preciso pedir e renovar a autorização de residência. E sem os acordos bilaterais, o que vai acontecer na área da saúde? No momento, os suíços que vivem na Europa são tratados como cidadãos de países membros da UE, mas sem estes acordos, seremos considerados estrangeiros? E os estudantes, eles continuarão tendo acesso ao programa Erasmus? Alguém tem uma resposta?”, pergunta um seguidor da plataforma.
“Não podemos saber quais são as consequências práticas em caso de aceitação da iniciativa do SVP”, responde Ariane Rustichelli, “mas há um risco de que o princípio da igualdade de tratamento entre suíços e europeus seja questionado”. Apesar disso, a OSE decidiu não dar instruções de voto para a votação do dia 9 de fevereiro.
Adaptação: Fernando Hirschy
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