Um apelo por mais ajuda para o combate à aids
A 18ª Conferência Internacional sobre a Aids, em Viena, deu razões para otimismo, mas também para pessimismo, segundo o delegado suíço Luciano Ruggia. Ele disse que a Suíça está no caminho certo no combate à doença.
Ao final do encontro na capital austríaca, a presidente da Sociedade Internacional de Aids, Françoise Barré-Sinoussi, fez um apelo aos políticos para que garantam o acesso a tratamento adequado aos soropositivos.
“A comunidade científica é desafiada a desenvolver tratamentos mais simples, baratos e eficientes. A indústria farmacêutica tem de participar mais da luta contra a aids”, disse Barré-Sinoussi.
“Algumas coisas estão melhorando, mas, ao mesmo tempo, outras estão piorando”, disse Luciano Ruggia, representante da Secretaria Federal de Saúde da Suíça na conferência, à swissinfo.ch.
“Portanto, não há uma tendência única hoje. Há uma crescente epidemia no Leste Europeu, mas algum progresso em outros países”, acrescentou.
O aumento da epidemia na Europa Oriental, o mais rápido no mundo, ocorre principalmente entre usuários de drogas injetáveis. Na Ucrânia, por exemplo, 1,6 % da população é portadora de HIV – a taxa mais elevada da Europa.
Aids e direitos humanos
“Há políticas de redução dos riscos no Leste Europeu e na Rússia, mas elas não são implementadas ou aceitas”, explicou Ruggia, que é secretário científico da Comissão Nacional Suíça de Aids.
O desrespeito aos direitos humanos dos portadores de HIV também foi destaque na conferência. Para Ruggia, o acesso ao tratamento deve ser considerado um direito humano básico. Isso é importante também para prevenir a propagação do vírus causador da aids.
Ele acrescentou que a discriminação e estigmatização, como ocorre com homossexuais na Índia e em alguns países africanos, ainda são frequentes e que essas populações, que têm uma crescente taxa de infecção, muitas vezes não têm acesso a tratamento, medidas de prevenção ou testes.
Boas notícias para a Suíça
No lado positivo, disse o especialista, ficou claro que a Suíça – tendo em vista a situação e estratégia em outros países – se encontra “no caminho certo com as políticas já implementadas e que estamos tentando desenvolver”.
Em novembro de 2008, um relatório das Nações Unidas sobre Aids revelou que 50 pessoas na Suíça morreram de complicações relacionadas à infecção pelo HIV. Em 1995, esse número ainda era de 600.
A Suíça fez uma apresentação prévia de sua nova estratégia, que também aborda o aumento das taxas de infecção por doenças sexualmente transmissíveis. A estratégia deverá ser concluída nos próximos meses e aprovada pelo governo em 1° de dezembro.
Gel para mulheres
Um dos avanços mais discutidos na conferência foi o anúncio de que cientistas da África do Sul desenvolveram um gel vaginal contra infecções por HIV, destinado a mulheres cujos parceiros se recusam a usar preservativos
Os pesquisadores disseram que, durante um experimento, o gel, que contém o medicamento antiaids tenofir, baixou em 50% a taxa de infecção entre 889 mulheres, após um ano de uso, e em 39% depois de dois anos e meio.
Giuseppe Pantaleo, chefe da Divisão de Imunologia e Alergia do Hospital Universitário de Lausanne (oeste), que é especialista em vacinas contra a aids, disse à rádio pública suíça que houve avanços importantes na luta contra a aids nos últimos três anos. Isto inclui a circuncisão para os homens, que reduz as taxas de infecção e transmissão.
“Agora, com o gel microbicida, conseguimos reduzir as taxas em 50%, com as vacinas conseguimos reduzi-las em 30 a 40%”, disse o professor, que também participou da reunião que desde o último domingo reuniu 25 mil especialistas, voluntários e soropositivos em Viena.
“Considerando-se todas estas estratégias em conjunto, elas poderão ter realmente um impacto substancial num futuro próximo, provavelmente com uma redução da transmissão de 60 a 70%”, declarou Pantaleo.
Questão do financiamento
No entanto, uma das grandes preocupações da conferência foi a falta de compromisso dos países ricos para garantir o financiamento dos programas internacionais de pesquisa da aids.
Em outubro próximo, os países doadores pretendem decidir quanto doarão ao Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, com sede em Genebra, com o qual a Suíça também contribui.
Seu diretor, Michel Kazatchkine, disse que “realmente teme” que o fundo não receba os US$ 20 bilhões necessários para continuar a batalha contra a aids nos próximos três anos.
“Nós demonstramos a viabilidade. Alguns países já demonstraram que podem ampliar sua ajuda. A questão é vital. Para os líderes mundiais, a decisão do financiamento é política, e uma decisão política é uma escolha”, disse ele.
Isobel Leybold-Johnson, swissinfo.ch
(Adaptação: Geraldo Hoffmann)
Progressos. Avanço positivo, os Estados Unidos acabam de suprimir a interdição de entrada em seu território de soropositivos; a China tomou a mesma decisão, que já tinha abrandado as exigências por ocasião dos Jogos Olímpicos de Pequim e suprimiu todos os controles para a exposição universal de Xangai. A Namíbia e as ilhas Comores também pretendem voltar atrás em suas leis discriminatórias que exigem um teste HIV negativo para obter um visto de entrada no país.
Repressão. 66 países continuam a ter restrições de circulação para portadores do vírus. Outro aspecto dessa marginalização, segundo o programa
Global Criminalization Scan, do Mali a Moçambique, do Azerbaijão à Austrália, do Canadá à Costa do Marfim, um número crescente de países, sobretudo do Sul, adotaram leis que punem severamente a transmissão, consciente ou não do vírus HIV.
O relatório 2010 da ONU/AIDS revela que os jovens de
15 a 24 anos fazem uma revolução em matéria de prevenção : 15 dos 15 países mais duramente atingidos, todos na África subsaariana, reduziram de 25% a taxa de contaminação nessa faixa etária.
80% dos 5 milhões de soropositivosno mundo vivem na África subsaariana. Em 2008, 900 mil jovens foram contaminados, 66% mulheres.
Em oito países – Costa do Marfim, Etiópia, Quênia, Malaui, Namíbia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue – a baixa significativa do HIV foi consequência de
mudanças positivas dos comportamentos sexuais dos jovens como utilização frequente de preservativos e primeira relação sexual mais tardia.
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