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Um perfil de consumidores de pornografia infantil

Resultado de estudo sobre consumo de pornografia infantil é polêmico Keystone

Um estudo realizado em Zurique analisa a relação entre consumo de pornografia infantil e subsequentes atos de violência sexual com contato físico e chega a um resultado surpreendente.

Segundo os autores, o consumo de pornografia infantil por si só parece não representar risco para cometer delitos de violência sexual. Eles advertem, porém, que isso não deve levar a banalizar esse tipo de crime.

A base de estudo foi formada por 231 homens flagrados em 2002 pela polícia suíça, na chamada “Operação Gênesis”, acusados de consumo de material pornográfico ilegal via internet. Foram analisadas também as fichas criminais dessas pessoas em 2008.

A equipe dos pesquisadores Frank Urbaniok, Jérôme Endrass und Astrid Rossegger, do Serviço Psiquiátrico-Psicológico (PPD, na sigla alemão) do estado de Zurique queria saber se esses consumidores de pornografia infantil tenderam a cometer crimes sexuais com contato corporal, como exploração ou abuso sexual, ao longo dos seis anos.

O estudo apontou os seguintes resultados: antes da “Operação Gênesis”, 4,8% (11 pessoas) da amostra estudada tinham sido condenadas por crime sexual e/ou violento; 1% (2 pessoas) por crime sexual com contato físico, envolvendo abuso sexual infantil; 3,3% (8 pessoas) por crime sexual sem contato físico e um por crime não sexual violento.

“Aplicando-se uma definição ampla de reincidência, que inclui investigações em curso, acusações e condenações, 6% (14 pessoas) reincidiram ao longo dos seis anos em crimes sexuais e/ou violentos. Nove pessoas (3,9%) foram investigadas, acusadas ou condenadas por posse de material pornográfico ilegal. Duas pessoas (0,8%) foram investigadas, acusadas ou condenadas por abuso sexual contra crianças”, lê-se no estudo (veja link na coluna à direita).

A conclusão dos autores é a seguinte: “Entre as pessoas do presente estudo, apenas 1% eram conhecidas por terem cometido no passado um crime sexual com contato físico, e apenas 1% foram acusadas (nenhuma condenada) por crime sexual com contato físico nos seis anos subsequentes. O consumo de pornografia infantil por si só na presente amostra parece não representar um fator de risco para cometer delitos sexuais com contato físico – pelo menos não em se tratando dos indivíduos sem prévias condenações por delitos sexuais com contato físico.”

Explicações



“O estudo mostra que consumidores de pornografia infantil não podem ser confundidos com pedófilos que abusam de crianças, como ocorre frequentemente na opinião pública e na mídia”, disse Urbaniok à agência de notícias SDA/ATS. “Trata-se de grupo específico de criminosos”.

Segundo ele, a taxa de crimes sexuais com contato físico anterior a 2002 verificada no grupo de 231 homens analisados é superior à da população suíça. E o susto de uma detenção ou busca domiciliar aparentemente impediu um ou outro de cometer um crime posteriormente.

Se assistir à pornografia infantil tivesse um efeito de peso, segundo Urbaniok, o resultado teria sido bem diferente. Segundo ele, as taxas médias de reincidência de condenados por crimes sexuais são de 10 a 12% e chegam a superar os 50% em determinados grupos de criminosos.

Jérôme Endrass sublinhou que os resultados do estudo não significam que a pornografia infantil seja um crime sem vítimas. “Claro que há vítimas. Consumir pornografia infantil não é apenas um delito relativamente leve, houve um crime muito grave por trás da produção do material”, disse ele à swissinfo.ch.

Segundo Coletti Marti, especialista da Fundação Suíça de Proteção à Infância, “a afirmação de que nem todos os consumidores de pornografia infantil praticam atos sexuais com crianças provavelmente é correta. Mas não é possível avaliar isso com base nos registros criminais, porque no máximo 10% das pessoas denunciadas por atos sexuais com crianças são condenadas” (veja link: “Consumir pornografia infantil é violência sexual”).

Perfil dos criminosos



Os autores admitem que a pesquisa não é representativa para a população suíça, mas revelam que o grupo analisado está “bem integrado na sociedade suíça”, ao contrário do que frequentemente se pensa desse tipo de criminosos.

Segundo a análise sócio-demográfica feita no estudo, na época do crime, a média de idade dos acusados era de 36 anos, 58% eram solteiros, 25% tinham filhos e 94% suíços (apenas 6% estrangeiros, enquanto 31% da população do cantão de Zurique era de imigrantes).

Em 45% de 226 casos, as pessoas trabalhavam em posições que exigiam formação de nível superior. Apenas 5% tinham um emprego de baixa qualificação. Cerca de um terço (32%) trabalhavam na área de computação e engenharia, 26% tinha empregos de “colarinho azul” e 33% trabalhavam na indústria. Quase a metade da amostra usava computador no local de trabalho.

“Em resumo, nossos resultados sugerem que os consumidores de pornografia infantil são provavelmente bem integrados na sociedade suíça, sendo que a maioria dos indivíduos tinha um trabalho que exigia extensa formação e eram cidadãos suíços”, conclui o estudo.

Os pesquisadores também apontam limites do estudo. “A população estudada pode ser considerada tendenciosa, já que os usuários precisavam de um cartão de crédito e de conhecimentos suficientes de uma língua estrangeira (inglês), a fim de ter acesso ao material pornográfico. Isto poderia explicar a elevada proporção com alto nível de formação e indicar que a amostra investigada provavelmente não seja representativa para os consumidores de pornografia ilegal na Suíça.”

Segundo Urbaniok, o estudo indica que a repressão e intervenção praticadas hoje pela Justiça e pela polícia contra a pornografia infantil dá resultados. Foram raros os casos de homens flagrados na “Operação Gênesis” que voltaram a ser condenados por crimes sexuais sem contato físico – por exemplo, por consumo de pornografia infantil ou exibicionismo.

 

Um site da companhia norte-americana “Landslide Productions” distribuía pornografia ilegal pela internet. Quando o portal foi fechado, em 1999, tinha 75 mil clientes em todo o mundo.

Os dados dos usários foram entregues às autoridades judiciárias dos respectivos países, o que levou a operações policiais bem coordenadas.

Buscas feitas pela polícia suíça em 2002, na chamada “Operação Gênesis”, revelaram mais de 400 pessoas suspeitas de terem consumido material pornográfico ilegal através do site da Landslide Productions.

Dessas 400 pessoas, apenas os suspeitos de consumo de pornografia infantil (231) foram incluídos na amostra que serviu de base para a pesquisa feita em Zurique.

Fonte: “The consumption of Internet child pornography and violent and sex offending”, pág. 9

O Serviço de Coordenação da Luta contra a Criminalidade na Internet (Cyco) da Polícia Federal suíça recebeu 6505 denúncias no ano passado. A maioria referia-se ao envio de spams (23,5%), à pornografia infantil (15,8%) e à pornografia de um modo geral na internet (14,1%).

No final de junho deste ano, a polícia do estado de Vaud (oeste da Suíça) desmantelou uma rede internacional de pedofilia. Ela descobriu 2299 endereços IP (número de identificação na internet) de computadores conectados em 78 países.

Imagens pornográficas estavam escondidas numa página legal de internet. Na Suíça, a polícia investigou 32 casos em 12 dos 26 estados (cantões).

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