Violência juvenil assume dimensões assustadoras
O governo suíço prepara uma ampla campanha de prevenção à violência juvenil. Peritos discordam sobre a dimensão do problema, mas algumas projeções são assustadoras.
Um programa nacional que será detalhado até 2010 pretende melhorar a coordenação das ações preventivas entre os governos federal, estaduais e municipais e a iniciativa privada.
O Conselho Federal (Executivo suíço) aprovou nesta segunda-feira (25/5) o relatório “Juventude e violência – prevenção efetiva nas áreas da família, escola, espaço social e mídia”.
O documento faz uma análise da situação e aponta possibilidades de ação. No plano federal são indicadas quatro medidas possíveis: aprimorar as estatísticas sobre o fenômeno; lançar um programa de prevenção e combate à violência juvenil; fortalecer a proteção das crianças e dos jovens contra a mídia; modificar a base jurídica para permitir a ação do governo federal nessa área.
A dificuldade para enfrentar o problema já começa pelas estatísticas. “Embora os peritos discordem sobre a dimensão e o efeito da violência juvenil, está comprovado que os atos de violência só podem ser atribuídos a uma ínfima minoria de jovens”, afirma o governo em um comunicado.
“Os atos de violência, no entanto, têm efeitos graves sobre as vítimas, os autores e toda a sociedade, motivo pelo qual medidas contra a violência são importantes.”
O programa nacional de prevenção e combate à violência juvenil terá como base expertises feitas por encomenda do Parlamento pelos pesquisadores Manuel Eisner, do Instituto de Criminologia da Universidade de Cambridge (Inglaterra), Olivier Steiner, da Universidade de Ciências Aplicadas do Noroeste da Suíça, e Rahel Locher, da Universidade de Berna.
Projeções e alarmantes
A partir de duas enquetes feitas em 2009 com perguntas comparáveis, esses especialistas fazem duas projeções de “experiências de vítimas de violência” entre jovens de 12 a 17 anos na Suíça: anualmente 40 a 55 mil são assaltados e cerca de 30 mil sofrem lesões corporais, sendo obrigados a ir ao médico.
Perguntas diferentes dos dois estudos levaram os peritos a outras três projeções, segundo as quais, anualmente ocorrem entre os jovens 100 mil lesões corporais sem uso de arma, 35 mil casos de violência sexual e cerca de 290 mil casos em que colegas de escola são constrangidos ou intimidados (bullying).
Segundo as estatísticas oficiais, o número de lesões corporais decorrentes da violência juvenil quintuplicou nos últimos 20 anos; o número de ameaças, assédios e chantagens se multiplicou por dez. Alguns peritos atribuem esse aumento à crescente conscientização sobre o problema e ao aumento das denúncias, bem como ao esclarecimento de um maior número de casos.
O governo não se contenta com projeções e suposições e promete melhorar as estatísticas, inclusive com pesquisas de campo para tentar quantificar atos violentos que normalmente não aparecem nos números oficiais de criminalidade.
Campos de ação
O Conselho Federal vê possibilidades de ação na família e na infância, na escola e na formação profissional, no espaço público e na oferta dos meios de comunicação.
Segundo Olivier Steiner, 28% dos jovens suíços entre 12 e 16 anos usam jogos eletrônicos no próprio quarto. Quase a metade desse grupo dispõe de computador e 35% podem acessar a internet.
O especialista adverte que existe o perigo de crianças brincarem com jogos de matar ou acessar conteúdos pornográficos principalmente quando os pais não se interessam pelo consumo de mídia dos filhos, quando esse uso se torna vício e leva ao isolamento.
Atacar fatores de risco
Segundo o estudo de Eisner, Ribeaud e Locher, “a Suíça precisa de uma melhor prevenção à violência baseada em evidências. Praticamente não existem no país estudos sobre o efeito dessa prevenção. As medidas atuais adotadas pela Suíça devem ser uma mistura de medidas com efeitos, outras sem efeitos e outras ainda prejudiciais”.
Eisner disse à agência de notícias SDA que “a prevenção precisa ter certa qualidade”, que poderia ser garantida por uma certificação das medidas, como já é feita em parte em outros países.
Ele sugeriu medidas preventivas que ataquem os principais fatores de risco, como tratamento de comportamento problemático, fomento à participação e integração, combate ao alcoolismo e ao consumo de drogas.
Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com agências
Projeções sobre a violência entre jovens de 12 a 17 anos na Suíça feitas pelos pesquisados Manuel Eisner, Olivier Steiner e Rahel Locher com base em dois estudos de 2009:
– 40 – 55 sofrem assaltos
– Cerca de 30 mil lesões corporais seguidas de consulta médica
– Cerca de 100 mil lesões corporais sem armas
– Cerca de 35 mil casos de violência sexual
– Cerca de 290 mil casos de bullying, “constrangimneto ou intimidação por colegas na escola”
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