A arte de Maeva Rubli pela sobrevivência dos corais no Mar Vermelho
Embora sejam particularmente resistentes ao aquecimento global, os corais do Mar Vermelho enfrentam outras ameaças, principalmente a poluição. Para conscientizar o público sobre sua importância, uma iniciativa suíça organizou uma exposição em Aqaba, na Jordânia. A ilustradora suíça Maeva Rubli faz parte dos artistas escolhidos para participar do projeto “Voices of the Reef".
“A molécula de água reflete como os seres humanos fazem de tudo para recriar o que eles mesmos insistem em destruir”.
A molécula de água em questão é uma das protagonistas de uma história iniciada há milhares de anos e que continua a se desenvolver até hoje, abrangendo ciência, diplomacia e arte.
Mas comecemos do início.
A citação acima foi tirada de um livro para jovens e adultos. Mas esse livro não é exatamente um livro, é uma história ilustrada que você pode percorrer. Ela está em exibição desde 31 de outubro na Fortaleza de Aqaba, na Jordânia.
A história foi imaginada pela ilustradora e autora suíça Maeva Rubli, que trabalha na Basileia. A swissinfo.ch conversou com a autora pouco antes de ela partir para Aqaba, cidade para onde voltou a fim de aperfeiçoar seu trabalho e participar da abertura da exposição “Voices of the Reef”, além de realizar oficinas de arte para estudantes da Escola Internacional e da Universidade de Tecnologia de Aqaba.
Os corais são os outros protagonistas da história e é para eles que a exposição – organizada pelo Museu Nacional de Belas Artes da Jordânia – foi criada, por iniciativa do Centro Transnacional do Mar VermelhoLink externo (TRSC) do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne (EPFL), com o apoio da Embaixada da Suíça.
A resistência dos corais
Há anos, o TRSC vem desenvolvendo um projeto ambicioso que visa reunir governos e cientistas de países ao redor do Mar Vermelho para estudar, compreender e salvar os corais da região.
Há cerca de doze anos, descobriu-se que os recifes de coral nessas águas eram particularmente resistentes ao aumento das temperaturas, que é responsável pelo branqueamento e pela morte dos corais em outros mares. De acordo com certas pesquisas, até o final do século, os corais do Mar Vermelho serão os únicos sobreviventes.
Acredita-se que isso se deve ao fato de esses corais terem se espalhado pela região há milhares de anos, durante períodos muito quentes. Por isso, eles teriam mantido essa resistência específica em seus genes.
Embora as altas temperaturas não sejam um problema para eles, o mesmo não pode ser dito de ameaças como a poluição ou simples danos físicos. Além de pesquisas científicas e esforços diplomáticos, sobre os quais a swissinfo já escreveu, a arte é agora outra ferramenta que está sendo utilizada para salvar os corais. Espera-se aumentar a conscientização do público sobre sua importância ecológica (os recifes de coral são a base de um ecossistema que sustenta inúmeros seres vivos), mas também sobre sua importância econômica, já que a beleza dos recifes é um fator importante para a indústria do turismo.
Maeva Rubli e outros dez artistas jordanianos participaram de uma “residência imersiva” – em todos os sentidos da palavra – em maio passado em Aqaba. Trabalhando ao lado de cientistas locais, o grupo mergulhou para observar de perto esses ecossistemas. Em seguida, os artistas receberam carta branca para preparar um trabalho para a exposição.
Como uma gota d’água
“Passei muito tempo fazendo perguntas, coletando respostas e reunindo tudo em um caderno. E conversei não apenas com cientistas, mas também com todos os tipos de pessoas que pude encontrar. Outras vezes, eu simplesmente observava, por um longo tempo, em silêncio”, explica Maeva Rubli.
A ideia inicial era criar uma reportagem visual sobre o trabalho do TRSC, utilizando a mesma metodologia científica, mas a experiência motivou Rubli a se expressar de uma maneira mais poética, dando forma às emoções que sentiu durante a residência: “Estar em um país ao qual não pertenço, sentindo-me uma estranha, tentando encontrar elos em todas essas grandes contradições, ecológicas e econômicas”.
Tudo isso a fez pensar numa gota d’água no mar, no ar, no chão. Ela se sente insignificante, mas pode conhecer, conversar e fazer perguntas a todos. “Eu me senti assim. Estava no meio de algo que eu não controlava, mas que podia simplesmente atravessar. Então, tentei transformar isso no meu projeto”.
A jornada da gota d’água (que na obra finalizada se tornou uma molécula) começa onde termina, passando pela cidade, por uma garrafa, por um recife de coral, obviamente, e até mesmo pelo olho de um homem idoso, colocando sempre a mesma pergunta:
“Quem é você?”, pergunta a molécula.
“Minha família vive à beira-mar há muito tempo.
Meu pai era pescador, mas a pesca não é mais lucrativa.
Então, eu guio os turistas pelos recifes de coral.
Os corais são nossa riqueza, nos sustentam.
Hoje, tudo mudou.
Sinto-me um estranho na minha cidade.
E não reconheço mais o mar.
Mas ainda tenho esperança de que, cuidando de nossa cidade e do mar, possamos restabelecer o elo que um dia nos uniu.”
Enquanto o idoso suspira, a molécula escorre por sua bochecha.
A exposição “Voices of the Reef” [Vozes do Recife, em tradução livre] foi inaugurada em 31 de outubro e ficará em cartaz até 12 de dezembro de 2024 na Fortaleza de Aqaba, na Jordânia. Em abril de 2025, ela será transferida para a capital, Amã, e um segundo grupo de artistas participará da residência imersiva para montar uma segunda exposição. E assim por diante, enquanto houver corais para proteger.
(Adaptação: Clarice Dominguez)
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