Designer suíça mostra a beleza da tipografia
A suíça Nina Stoessinger é designer de tipos e professora em Nova York. Onde será que ela encontra inspiração para criar novas fontes? Como é sua vida no Brooklyn? Veja a entrevista.
SWI swissinfo.ch: Você cria novos tipos de fontes, e um de seus projetos está concorrendo para se tornar a nova fonte padrão da Microsoft. O que te inspirou a entrar no mundo da tipografia?
Nina Stoessinger: Minha trajetória para a tipografia foi cheia de desvios. Durante muito tempo, eu não sabia que essa profissão existia. Na verdade, eu queria ser jornalista. Sempre me interessei por textos. Meu pai é ator de teatro e minha mãe é escritora, editora e jornalista. Textos e livros sempre foram importantes para a minha família quando eu era criança.
Em dado momento, percebi o quanto gostava de design, então fui estudar design de multimídia na Alemanha. No meu primeiro semestre lá, tivemos uma introdução à proporção de letras maiúsculas romanas e as desenhamos no papel. E eu simplesmente me apaixonei. Fiquei fascinada pela ideia de que essa é a interface entre forma, linguagem e narrativa. Foi isso que me conquistou.
Como você chegou aonde está agora?
Eu fiz um curso de pós-graduação em design de tipos na Universidade de Artes de Zurique. Alguns anos depois, fechei o meu estúdio de design por um ano e obtive meu mestrado em design de tipos na Royal Academy of Art em Haia, um dos poucos lugares no mundo onde se pode obter uma titulação nessa área. Descobri que a tipografia era uma área bem complicada de se entrar. Trabalho agora em tempo integral na Frere-Jones Type [uma empresa de tipografia em Nova York] há cinco anos.
Como foi se mudar para Nova York e começar uma nova vida?
Eu sempre quis viver em Nova York. É a minha cidade favorita no mundo. Mas me mudar para cá foi mais difícil do que eu imaginava. Eu já havia visitado a cidade e tinha amigos aqui. Eu tinha um trabalho esperando por mim. Então achei que sabia no que estava me metendo. Mas a experiência de realmente viver aqui, com um ritmo de vida tão acelerado, em uma cidade tão grande, é muito mais intensa do que minha vida na Suíça.
Dito isso, quando você vive numa cidade grande como Nova York, é dentro da sua vizinhança que você se relaciona. Você conhece as outras pessoas, vocês se cumprimentam e conversam umas com as outras. Eu sempre vou às mesmas lojas e bares. Você constrói seu próprio ecossistema e, especialmente aqui no Brooklyn, você não se sente sufocado. Ir do Brooklyn para Manhattan, aí sim parece uma verdadeira viagem a Nova York! Eu amo a cidade, especialmente agora que ela está animada de novo.
A cidade também é uma inspiração para o seu trabalho?
Com certeza. Aqui, há letras por toda a parte!
Eu passo muito tempo apenas olhando todos os cartazes, os grafites e todas as diferentes fontes que cruzam o meu caminho. É muito interessante para mim que aqui exista uma variedade tão grande de fontes e sinalizações polidas, “feitas profissionalmente”. E, por outro lado, há também algumas coisas que são muito cruas… uma espécie de prolongamento da tradição das letras à mão. E, é claro, há lugares inesperados que também são muito inspiradores, como caminhões de lixo e caminhões-tanque.
Mas acho que esse é o tipo de coisa que acontece simplesmente por se mudar para um lugar novo, tudo parece diferente. Agora, quando volto à Suíça, percebo coisas que nunca tinha notado antes, só porque estava muito envolvida nelas.
Existe um “dia típico” na vida de um designer de tipos?
Depende de em que fase da criação de uma nova fonte nós estamos. No momento, estou esboçando algumas tipografias novas e isso significa que passo o tempo desenhando. Quando se desenha uma fonte, é basicamente um vai e vem entre desenhar as letras individualmente e testá-las – imprimi-las para ver como ficam num contexto e ver se realmente funcionam. A outra parte do meu trabalho é mais técnica, e consiste em produzir as fontes em diferentes formatos para que nossos clientes as utilizem.
Também leciono um curso de design de tipos na Escola de Arte de Yale. Alterno os semestres com Tobias Frere-Jones, nosso diretor de criação. Ele dá esse curso, que sempre está lotado, há bastante tempo. É muito gratificante transmitir meu conhecimento para pessoas interessadas – especialmente porque foi muito difícil para mim descobrir como era essa profissão.
Quando você cria um novo design, como o diferencia de todas as outras fontes que já existem?
Se você está criando uma fonte para leitura contínua, o desafio é garantir que ela não se destaque muito. Caso contrário, ela acaba distraindo os leitores. E isso é bem difícil. Acho que é uma das razões pelas quais muitas dessas fontes de texto (serifas) frequentemente parecem tão similares para o olhar destreinado.
Por outro lado, quando se está fazendo algo para um título ou um cartaz, como é apenas uma pequena quantidade de texto em um tamanho maior, você pode ser muito mais criativo.
A historiadora Beatrice Warde cunhou a frase “as fontes são as roupas que as palavras usam”. Meus alunos muitas vezes se preocupam com suas fontes serem tediosas e se perguntam como colocar personalidade nelas. Mas a verdade é que isso vai acontecer de qualquer forma porque você é você, você tem suas próprias inspirações, que não o deixam e que você traz para o seu trabalho.
E quando uma nova família tipográfica está pronta, como se encontra um nome?
Há uma série de critérios que usamos para encontrar um novo nome.
Uma coisa que tentamos fazer é escolher um nome que fique bom na própria fonte. Então, o ideal é que você tenha uma palavra que destaque algumas das letras importantes que mostram o design, por exemplo, um “G” maiúsculo.
No que diz respeito à inspiração, muitas vezes tento pensar no que um certo design me lembra. Por exemplo, se fosse um objeto, do que ele seria feito? Algumas fontes parecem ser feitas de madeira velha ou de metal, e isso pode ser um ponto de partida para um nome.
No caso da Seaford, a fonte que fizemos para a Microsoft, o processo foi mais simples porque eles tinham instruções para o título do trabalho: usar o nome de algum lugar do Noroeste Pacífico. Assim, fizemos uma longa lista com todos os nomes de lugares e depois a filtramos com base no comprimento e na sonoridade das palavras. No final, escolhemos o nome Seaford porque soava genérico, mas também soava bem, era fácil de lembrar e de pronunciar.
Quando você saberá se a Seaford será escolhida como a nova fonte padrão para o Windows?
Provavelmente em 2022, mas no momento é difícil de se dizer. Atualmente eles estão coletando feedback dos usuários, já que as fontes já estão disponíveis no Microsoft Office. Nós também recebemos feedback, por isso fizemos algumas adições e mudanças.
Você tem alguma fonte favorita?
Há uma piada entre os designers de tipos que é: se você perguntar alguma coisa a um de nós, a resposta será “depende”. E nesse caso, a resposta correta seria dizer que não tenho uma fonte favorita, porque depende de para quê eu estaria recomendando.
Mas há algumas fontes que se destacam para mim, porque são grandes feitos de artesanato e design. Uma delas é uma fonte muito antiga, inventada por Nicholas Jenson em 1470, não muito depois que [Johannes] Gutenberg inventou a prensa móvel, que nos parece muito antiga. Nicholas Jenson criou a primeira fonte romana. E seja em termos de proporção ou equilíbrio de formas, essa fonte ainda parece totalmente válida até hoje, meio milênio depois, o que é uma grande façanha.
Adaptação: Clarice Dominguez
Adaptação: Clarice Dominguez
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.