Estrangeiros de origem helvética deveriam poder trabalhar na Suíça?

Descendentes de suíços na América do Sul sonham em viver no país de seus ancestrais, mas enfrentam barreiras migratórias. O Senado rejeitou um projeto que facilitaria sua entrada, apesar do apelo econômico.
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Só na América do Sul, eles são várias dezenas de milhares. O número global só podemos supor uma vez que é alto o total de descendentes de suíços que, ao longo de gerações, perderam a cidadania do país.
Apesar da distância, muitos mantêm laços com suas raízes. Sonham em recuperar a cidadania suíça ou, pelo menos, viver e trabalhar na Suíça por um tempo. Mas não é apenas a situação financeira que impede esses descendentes de viajar para o país, pois muitos vivem na América do Sul. Frequentemente, o obstáculo começa na autorização de residência. Se desejarem ficar e trabalhar na Suíça por mais tempo, não obtêm visto.
Um projeto de leiLink externo do senador Carlo Sommaruga (Partido Socialista) queria mudar isso. A proposta, apresentada por ele, foi discutida na sessão parlamentar da primavera. Ela pedia a criação de um contingente adicional de autorizações de residência com permissão de trabalho para descendentes de cidadãos suíços que não possuem passaporte suíço nem cidadania de países da União Europeia ou da Associação Europeia de Comércio Livre (AECL).
Economia pode se beneficiar de descendentes
“Nessa comunidade de descendentes de suíços sem passaporte, há vontade de fortalecer a conexão com a Suíça”, declarou Sommaruga. Ele observou isso, entre outros momentos, durante sua viagem no ano passado com uma delegação parlamentar à Argentina e ao Brasil.
O projeto foi discutido no Conselho de Estados (Senado) em 20 de março de 2025 e foi rejeitado por 28 votos a favor, 8 contra e sete abstenções. Portanto, a questão está fora de discussão.
Uma petição assinada por 11.500 descendentes de suíços na América do Sul, que solicitava o acesso facilitado ao passaporte vermelho (escrevemos sobre isso), também evidencia essa demanda.

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Descendentes de emigrantes exigem passaporte suíço
“Porém, no contexto político atual, via poucas chances políticas para essa causa”, admitiu Sommaruga, embora considerar a reivindicação justa. Ele descreveu sua proposta como um caminho alternativo para apoiar os milhares de descendentes.
Em sua proposta, Sommaruga destacava a conexão desses descendentes com a Suíça: “Eles carregam sobrenomes comuns em nossos cantões. Muitos participam de associações que cultivam o vínculo com a Suíça, celebram festas patrióticas como o 1º de Agosto e integram corais que mantêm canções suíças em seu repertório, preservando nossa cultura”. Parte deles ainda mantém o idioma ou o dialeto de seus ancestrais.
“É claro que muitos desses descendentes na Argentina, Uruguai e Chile enfrentam dificuldades econômicas, mas possuem habilidades que poderiam beneficiar a economia suíça”, afirmou o senador em uma entrevista. Eles viriam à Suíça não apenas para trabalhar, mas também para contribuir com seu conhecimento ao mercado local.
Não é apenas questão de igualdade
Pessoas de fora da Europa não têm acesso à livre circulação na Suíça. Existem contingentes regulares para cidadãos da EU e da AECL, além de um contingente especial para o Reino Unido pós-Brexit. Para descendentes de suíços com cidadania de países terceiros, o acesso ao mercado de trabalho só é possível dentro de cotas restritas.

“Essa desigualdade precisaria ser considerada”, disse Sommaruga. *Não se trata apenas de justiça, mas de um benefício econômico prático para a Suíça.”
Ele acreditava que um contingente especial permitiria que esses descendentes contribuíssem mais para a economia suíça, ajudando a reduzir a escassez de mão de obra qualificada.
O senador estava convencido de que, nessa comunidade, “há desde executivos e pesquisadores de ponta até profissionais com diversas especialidades, capazes de suprir demandas atuais e futuras das empresas suíças”. A integração seria facilitada, especialmente para quem mantém vínculos ativos com a terra de seus ancestrais.
Contingente como caminho à reintegração
Mas a criação desse contingente não seria apenas um meio para permitir que esses descendentes permaneçam mais tempo na Suíça e, assim, possam se reintegrar à cidadania? Afinal, quem perdeu a cidadania suíça pode solicitá-la novamente após três anos de residência no país.
Sommaruga não descartou o objetivo. “Essa proposta visava claramente atender a uma necessidade econômica”, declarou. Se a consequência for a recuperação da cidadania, “melhor ainda”.
Governo contra
Em sua resposta ao projeto de lei, o governo reconheceu “a importância dos laços culturais e emocionais com seu país de origem que alguns descendentes de suíços no exterior ainda sentem muitos anos depois”
Essas comunidades desempenham um papel fundamental na rede internacional da Suíça e na preservação das tradições suíças, escreve ele. No entanto, os descendentes de suíços no exterior já têm acesso privilegiado ao mercado de trabalho, pois podem manter a cidadania suíça simplesmente se registrando.
Isso se aplica se eles já a tiverem. No entanto, o governo era contra a introdução de um número máximo adicional em favor das pessoas de ascendência suíça. Os “desafios administrativos consideráveis” que tal cota implicaria resultariam em um grande gasto de tempo e dinheiro – “isso seria contrário ao princípio da eficiência administrativa”.
Sommaruga buscava uma solução pragmática: “Por que não introduzir essa cota por cinco anos e ver como ela funciona?” Ele estava convencido de que a carga administrativa poderia ser reduzida com critérios claros.
Edição: Balz Rigendinger
Adaptação: DvSperling

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