Lilo Baur, intuição criativa e fervor tenaz
A atriz e diretora suíça Lilo Baur recebeu o Grande Prêmio Suíço de Artes Cênicas no final de outubro. Conversamos com a artista, que é aclamada internacionalmente e cuja adolescência ambiciosa lança luz sobre seu atual sucesso.
O mundo de Lilo Baur é vasto. Ele abrange da Suíça, onde ela nasceu, até a Inglaterra, os Estados Unidos, o Japão, a Grécia, a Itália e a França, onde vive atualmente. São países que ela adora, onde já apresentou inúmeros espetáculos e foi professora de teatro.
Sua ambição é igualmente grande: surgiu pela primeira vez quando Baur, na época com 16 anos, descobriu o ator Mark Wetter, que estava apresentando um espetáculo solo de comédia nos palcos de Zurique.
“Fui vê-lo depois do espetáculo e perguntei onde ele havia aprendido seu ofício. Ele me respondeu que havia estudado na escola Jacques Lecoq, em Paris”, lembra Baur.
Foi assim que Lilo Baur começou a seguir seus sonhos. Ela desejava ir para a renomada escola, que já formou excelentes atores e diretores, muitos famosos até hoje. Mas ela ainda era muito jovem. Precisava convencer seus pais de que não era preciso ter um diploma universitário e que era possível ter uma carreira nos palcos.
“Não gosto da palavra ‘glória’”
Cinquenta anos depois, a atriz e diretora de teatro e ópera é considerada uma das melhores artistas dos palcos europeus, tendo seguido os passos de seus colegas suíços Milo Rau e Stefan Kaegi, por quem tem grande admiração.
Em reconhecimento ao seu talento e reputação internacional, o Departamento Federal de Cultura da Suíça lhe concedeu o Grande Prêmio Suíço de Artes CênicasLink externo, também chamado de prêmio Anneau Hans Reinhart, em 31 de outubro, em Zug.
Quando lhe perguntam se esse prêmio representa sua glória, ela sorri: “Não gosto da palavra ‘glória’, ela me faz pensar em Napoleão e suas conquistas”. O prêmio é uma surpresa e vem acompanhado por uma enxurrada de lembranças que levam Lilo Baur de volta à sua adolescência em Aargau.
“Lembro-me de estar diante de meus pais em nossa casa, defendendo meus planos para o futuro. Eles resistiram, eu me agarrei aos meus sonhos, e então minhas mãos ficaram livres”.
O amor ao dinheiro
Sua mãe era dona de um ateliê de costura e seu pai era contador, prefeito do vilarejo de Sarmenstorf (Aargau) e muito envolvido na vida comunitária. “Ele administrava os negócios com um grande senso de justiça. Um verdadeiro patriota! Teve um domingo em que ele chegou em casa com a camisa cheia de sangue. Havia tido uma briga e ele interveio entre os dois homens para acalmá-los”, conta ela.
A Suíça mudou muito desde então, e o engajamento pessoal não é mais tão intenso. Lilo Baur acredita que hoje o fervor decorre do amor ao dinheiro. “Há uma grande riqueza cultural neste país, o que é muito apreciável, mas também há outra riqueza, uma que pode ser contada em francos. E isso me surpreende toda vez que volto à Suíça, a Lausanne e Genebra em particular, onde o fascínio pelo dinheiro parece ser uma força motriz da vida”, declara ela.
Não é surpreendente, portanto, que ela tenha usado o personagem de um banqueiro de Genebra em sua peça O Avarento. Lilo Baur adaptou a famosa obra de Molière para os nossos tempos, encenando-a em 2022 no teatro Comédie-Française em Paris. Sobre a peça, ela nos conta: “O avarento esconde sua riqueza num baú, assim como hoje em dia o dinheiro é trancado naqueles mausoléus que são os cofres dos bancos”.
A Comédie-Française está trazendo de volta “O Avarento” nesta temporada, além de ter convidado Baur para dirigir uma peça de Agatha Christie, “A Ratoeira”. Esta será sua sétima produção para a prestigiada instituição parisiense.
Outros palcos igualmente importantes também já convidaram a artista suíça. Entre eles, o Teatro Metropolitano de Tóquio, onde em 2019 ela atuou em “One Green Bottle” [“Uma garrafa verde”, em tradução livre], uma peça do dramaturgo japonês Hideki Noda, posteriormente apresentada no Teatro La MaMa, em Nova York. Em 2023, ela escreveu uma adaptação de “Um Dia Muito Especial”, inspirada no filme de Ettore Scola, para o Théâtre de Carouge, em Genebra.
Uma imaginação rica
Sua imaginação abundante e direção brilhante são responsáveis pela grande reputação de Lilo Baur, cujos espetáculos falam principalmente de amor, família e relações sociais.
Além de sua própria intuição criativa, ela também deve parte de seu sucesso à escola Jacques Lecoq, que lhe permitiu ampliar seus contatos e estabelecer parcerias artísticas.
Muitos de seus antigos colegas de classe pediram que ela os acompanhasse em seus trabalhos como diretores. Foi assim que ela foi parar em Londres, Atenas e Roma, bem como no Festival de Edimburgo e no Festival de Avignon, eventos culturais internacionais que lhe deram ainda mais visibilidade.
Lilo Baur nos conta que hoje, graças ao Grande Prêmio que recebeu, ela está vendo sua carreira se desenrolar como se fosse uma história de cinema. Mas, nesse caso, não se trata de uma ficção.
Concedido pelo Departamento Federal de Cultura em cooperação com a Sociedade Suíça de Teatro, o Grande Prêmio/Anneau Hans Reinhart tem o valor de CHF 100.000.
Os outros prêmios valem CHF 40.000 cada.
Os prêmios deste ano foram concedidos a nove artistas e companhias de dança e teatro de diferentes regiões linguísticas do país: Anne Delahaye, Petra Fischer, Ursina Greuel, Ueli Hirzel, Marchepied Cie, Old Masters, Ivy Monteiro, Philippe Olza e Adina Secretan.
Edição: Pauline Turuban/fh
(Adaptação: Clarice Dominguez)
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