Suíça quebra tabus sexuais na África do Sul
É um trabalho digital pioneiro. Quer se trate de contracepção, menstruação ou infecções sexualmente transmissíveis: o aplicativo Love LandLink externo de Karin Stierli cria uma estrutura para a educação sexual. Uma ideia com potencial global?
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É um trabalho digital pioneiro. Quer se trate de contracepção, menstruação ou infecções sexualmente transmissíveis: o aplicativo Love Land de Karin Stierli cria uma estrutura para a educação sexual. Uma ideia com potencial global?
Nuvens escuras pairam sobre as palmeiras do arquipélago ensolarado. O Fogg, uma criatura magoada e sombria, atormentada pela raiva e pela ignorância, mantém as doze ilhas e seus habitantes prisioneiros. Com seus pequenos fantasmas irritantes, os Fogglets, ele envolve tudo em densa névoa. Seu objetivo: impedir conversas abertas sobre sexualidade e saúde.
Sibulele, de 15 anos, está completamente imersa na luta contra os asquerosos monstros. Suas armas são fichas informativas e um diário no qual ela recolhe informações. “You-Be-You é minha ilha favorita”, diz a estudante, enquanto conduz seu avatar por entre colinas e vales no aventureiro mundo insular. “Aqui aprendi muito sobre mim mesma”. You-Be-You faz parte do arquipélago no aplicativo Love Land e é dedicado a temas como autoconfiança e desenvolvimento pessoal.
Aventuras digitais contra o silêncio
Sibulele frequenta uma escola em Langa, o “township” (comunidade) mais antigoLink externo da Cidade do Cabo. Aqui, um grupo de jovens vivencia em primeira mão uma inovação educacional que visa alterar de forma lúcida suas competências em relação à saúde mental e sexual.
Por trás do aplicativo que cativa os alunos está Karin Stierlin. Ela é a fundadora da Associação TaboobreakerLink externo, com escritórios na Suíça e na África do Sul. A educadora sexual de Zurique quer usar as novas tecnologias para quebrar o silêncio e o desconforto que envolvem a educação sexual em muitos lugares.
Com o Love Land, ela criou uma ferramenta que ensina a jovens de 10 a 18 anos temas como contracepção, menstruação e doenças sexualmente transmissíveis. Stierlin fornece histórias, personagens e tópicos; uma equipe de programadores de jogos da Cidade do Cabo os transforma em aventuras digitais para adolescentes.
“Um dos maiores desafios foi encontrar uma equipe de design de jogos que trouxesse tanto criatividade quanto sensibilidade para o projeto”, explica Stierlin. Só conseguiram na quarta tentativa.
Crianças têm as mesmas perguntas
A ideia para o Love Land nasceu há alguns anos na Suíça. Como educadora sexual na região de Zurique, Stierlin estava incomodada com a falta, em sua opinião, de ferramentas de aprendizagem inovadoras para abordar o tema de maneira adequada para diferentes idades. Por sua própria iniciativa, ela desenvolveu um jogo de tabuleiro com várias ilhas temáticas.
Nenhuma editora de material didático quis implementar a ideia, mas Stierlin não se deixou desencorajar. Ela decidiu então produzir e imprimir por conta própria os jogos de tabuleiro. Uma reportagem de rádio sobre o seu projeto foi subitamente seguida de pedidos de informação por parte de professores de toda a Suíça.
“Uma experiência-chave para mim foi minha viagem à Indonésia”, conta Stierlin. Graças ao financiamento de uma fundação, ela teve a oportunidade de testar o jogo de tabuleiro com adolescentes em um contexto cultural diferente. A constatação? Os jovens indonésios têm exatamente as mesmas preocupações e perguntas que os jovens na Suíça.
Mas o jogo de tabuleiro tem suas desvantagens. Cartas se perdem, a produção é morosa e a atualização demora ainda mais. Além disso, é sempre necessário um professor para orientar o jogo e garantir e criar um ambiente seguro. Por último, mas não menos importante, é difícil difundir mundialmente um jogo de tabuleiro. A resposta de Stierlin a todos estes desafios: uma solução digital. Nascia, assim, a ideia do aplicativo.
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Onde os sentimentos de vergonha encontram tabus culturais
A primeira vez que Stierlin viajou para a África do Sul foi há mais de dez anos, em nome de outra fundação. Atualmente, ela vive na Cidade do Cabo com seu companheiro. Ela aprecia a beleza e a diversidade do país e a cordialidade das pessoas, mas também está consciente dos grandes desafios que o país enfrenta.
Em nenhum outro lugar do mundo a desigualdade entre ricos e pobresLink externo é maior do que na África do Sul. O país tem uma das taxas de criminalidade mais elevadas do mundo. E ocupa um triste primeiro lugar na propagação do HIV.
As perspectivas dos jovens são obscurecidas por uma taxa de desemprego juvenilLink externo de 46,5 por cento. O alto número de gravidezeLink externos na adolescência e a falta de comunicação aberta sobre temas sexuais contribuem para que muitos jovens não consigam desenvolver o seu potencial.
Quando os sentimentos de vergonha se cruzam com os tabus culturais, o assunto é muitas vezes varrido para debaixo do tapete. Muitos adolescentes não têm outra opção senão confiar nas informações das redes sociais.
Espaço protegido
É aqui que entra o aplicativo de Stierlin. Os jovens podem adquirir conhecimentos diretamente, sem depender de fontes duvidosas. São eles próprios que decidem qual ilha temática desejam visitar. Na ilha Goomi Goomi, aprendem como usar corretamente um preservativo, na ilha Caveman, aprendem sobre os órgãos genitais masculinos e na ilha Body Bugs, aprendem como se proteger de doenças sexualmente transmissíveis.
“O que eu mais gosto no Love Land é que posso me informar sem ter de falar com ninguém sobre isso”, diz Sibulele, sem tirar os olhos da tela do seu smartphone. A gamificação, a aplicação de elementos típicos dos jogos em contextos não lúdicos, transforma a aquisição de conhecimento sobre esses temas sensíveis em uma aventura envolvente.
Educação sexual inovadora
Antes de seu lançamento, os alunos da Universidade de Artes de Zurique testaram extensivamente o aplicativo. Seus feedbacks foram incorporados em atualizações correspondentes.
Tal como no município de Langa, o programa de treinamento de instrutores do Love Land está sendo atualmente testado em várias escolas-piloto.
Sob a liderança da Prof. Dra. Cathy Ward, uma equipe de pesquisadores da Universidade da Cidade do Cabo (UCT) testou o aplicativo como parte de um estudo de viabilidade. Para a professora de psicologia, o acesso a uma educação sexual exata, fácil de compreender e abrangente é a chave para evitar gravidezes indesejadas e infecções sexualmente transmissíveis.
Ela está convencida do impacto do aplicativo: “Os jovens com quem testamos o jogo o acharam divertido e envolvente, e com um enorme potencial para melhorar a vida de muitos jovens e pais ao redor do mundo”.
Fundação também financia o projeto
Após o lançamento na África do Sul, o aplicativo também será lançado em outros países: “Afinal de contas, este é um problema global, e igualmente um tema desconfortável na Suíça”. Conteúdo e idiomas podem ser de modo contínuo e facilmente adicionados ao aplicativo. Além do inglês e do africâner, já existe uma versão em francês – a pedido e graças ao financiamento de uma fundação da Costa do Marfim.
Se a ideia suíça, com toque indonésio e charme sul-africano, conseguirá também quebrar tabus em outros locais dependerá sobretudo de recursos financeiros e humanos. Para futuras implementações, como na Suíça, Stierlin está à procura de fundações que financiem a tradução para alemão. Um instituto de pedagogia já manifestou interesse em testar um curso de formação correspondente com o programa de treinamento de instrutores.
Quando lhe perguntam onde vê o futuro do Love Land, Stierlin é ambiciosa: “Se o conceito se mostrar eficaz em alguns anos, seria ótimo se pudesse ser adotado por uma grande organização internacional. Uma organização que tenha os recursos necessários para expandir o projeto”.
Edição: Balz Rigendinger
Adaptação: Karleno Bocarro
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