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Hotel Belvédère é uma viagem no tempo

Hotel e ônibus
Há 125 anos os turistas já dormiam no Hotel Belvédère. swissinfo.ch

A geleira do Rhone no cantão do Valais é uma das maravilhas da natureza. Mesmo depois de recuar 2,3 quilômetros, ela continua atraindo turistas do mundo inteiro.

E para os nostálgicos, um hotel localizado ao lado dela oferece um gostinho de passado: Hotel Belvédère, onde o hóspede ainda pode utilizar penicos nos quartos.

A Suíça é chamada de castelo de águas. Não é por pouco. Um dos rios mais importantes rios europeus nasce nas suas montanhas, mais exatamente entre o Tieralplistock (3.383 metros) e o Gärstenhörnern (3.189 m.) no oeste e o Galenstock (3.586 metros) no leste, todas no cantão do Valais.

Espremida entre as rochas, está a geleira do Rhone. Da sua ponta escorre um filete que dá nascimento ao rio com o mesmo nome. Ele recebe água de outros afluentes, atravessa a Suíça e a França para desembocar no Mediterrâneo, depois de percorrer 812 quilômetros.

Os turistas que se espremem na plataforma de observação estão impressionados. Uma geleira alpina é muito mais do que um bloco de gelo. A massa que escorre lentamente montanha abaixo tem uma bela cor azul, formada pela absorção e reflexão da luz. Várias fissuras mostram que ela está em permanente movimentação. Impressionante é também descobrir que desde 1856 ela recuou 2,3 quilômetros, uma das conseqüências mais graves do aquecimento global do planeta.

Vinho da geleira

Um dos programas turísticos mais interessantes para quem visita a geleira do Rhone é entrar nas suas grutas. Desde 1894 elas são cuidadosamente cavadas no gelo. A cada ano o trabalho precisa ser repetido, devido a movimentação da geleira. A temperatura interior fica constantemente na média de 0 graus centígrados, podendo chegar a cinco quando entra um pouco de ar quente do verão.

Dentro de uma das grutas encontramos Philipp e Rosamarie Carlen, proprietários do único hotel que está diretamente ao lado da geleira, o Belvédère, uma bela construção localizada a 2.030 metros acima do nível do mar, com uma vista de tirar a respiração para todo o vale.

Ele nos serve o famoso “Gletscherwein”, o vinho das geleiras. Essa bebida doce como um licor é produzida com uvas colhidas já bem maduras no final do outono. Ela fermenta em barricas de carvalho, que são levadas posteriormente para as grutas na geleira do Rhone, onde passam o inverno inteiro amadurecendo.

A prova do vinho é feito dentro da geleira. Cercado pelas paredes de gelo azul, até os copos estão com temperaturas abaixo de zero. Os turistas se impressionam inclusive quando Philipp conta sobre o registro da bebida no Livro Guinness de Recordes. O diploma, entregue em junho de 1999, atesta que o “Gletscherwein” é armazenado numa adega à mais de dois mil metros de altitude, a temperaturas constantes entre 0 e 4 graus negativos.

Hotel como nos tempos da vovó

Depois da bela experiência do vinho licoroso, a grande pedida é fazer uma visita ao Hotel Belvédère, um tipo de estabelecimento que só poderia existir na Suíça.

Quarto de hotel
Alguns dos quartos não têm água corrente. swissinfo.ch

Mais lembrando um abrigo de alpinistas, o prédio foi construído em 1882 pela família Carlen, uma conhecida dinastia de hoteleiros no cantão do Valais. Essa época era o auge da chamada “Belle Époque”, quando os ingleses começaram a invadir a Suíça à procura de ar puro e cenários majestosos dos Alpes.

Apesar da boa localização, o Belvédère terminou sendo vendido pelos seus proprietários no final dos anos 70 ao governo cantonal, depois que este anunciou a construção de uma represa nas proximidades. O projeto acabou não saindo do papel, e o hotel ficou dez anos fechado, com as portas e janelas cobertos de placas de madeira e todo o mobiliário e utensílios cobertos por panos.

Aproximadamente em 1990, Philipp e Rosamarie Carlen, uma família de viticultores da região, decidiram comprar o Belvédère. Apesar de algumas pequenas reformas, o hotel praticamente não mudou desde o século XIX. Muitos dos quartos não têm água corrente. Nas mesas estão os tradicionais penicos e bacias. “Temos banheiros e chuveiros nos corredores, porém muitos hóspedes gostam de se sentir como no passado, e utilizam esses utensílios. Alguns deixam até mesmo de tomar banho para se lavar com a bacia de água”, conta bem-humorada Rosamarie.

O Belvédère oferece apenas 50 leitos e funciona apenas entre a metade de junho e o final de outubro, quando começa o inverno e todo o vale é fechado para a circulação de veículos. “Então nós e os funcionários precisamos trabalhar até dez dias para preparar o hotel para a hibernação, ou seja, temos de tirar a água dos canos, cobrir as portas e janelas com tábuas de madeira fixadas com pregos e desligar a energia”, explica Phillipp. 

A precaução explica-se pelo tempo instável no vale. Em 1999 o furacão “Lothar” causou grande estrago nas construções da região. “O restaurante ficou cheio de neve e só descobrimos isso na primavera”.

Apesar dos riscos climáticos, os turistas adoram o hotel. Celebridades como o primeiro-ministro inglês Winston Churchill e a rainha inglesa Victoria teriam se hospedado no local. 

O único alerta feito pelos proprietários é também relativo ao tempo: – “Recomendamos aos hóspedes que tragam pijamas grossos, gorros de lã e luvas para usar no verão. Não temos aquecimento nos quartos e, as vezes, o tempo esfria de uma maneira impressionante e temos impressão de estar no inverno”. Bem-vindo à geleira do Rhone.

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