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Parlamento vai ajudar vinhos suíços contra concorrentes estrangeiros

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Pronta para a colheita: um cacho de uvas Chasselas na região de Lavaux, no sudoeste da Suíça. KEYSTONE/KEYSTONE/ VALENTIN FLAURAUD

Nos últimos anos, o mercado de vinhos suíços foi corroído por rivais estrangeiros. Agora, setor conquista apoio político e parlamentares estendem a mão para ajudar a promover rótulos nacionais.

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Em uma época de apertos de cinto e cortes orçamentários, não é fácil conseguir um aumento de verbas e investimento no parlamento suíço. Mas, a influência inebriante das uvas fermentadas suíças garantiu um feito durante a recente sessão de primavera do Senado: em votação, os parlamentares decidiram aumentar o investimento anual destinado à promoção dos vinhos fabricados na Suíça. O valor subiu de CHF 2,8 milhões (US$ 3,2 milhões) para CHF 9 milhões.

A quantia pode parecer modesta considerando que o setor produziu mais de 100 milhões de litros de vinho no ano passado. Os parlamentares, no entanto, argumentaram que os desafios da vinicultura suíça não estão na produção ou na qualidade (que inclusive, após um verão quente e seco, deverá ser “excelente”). A questão principal, segundo os políticos, é fazer com que os consumidores escolham, por exemplo, um Gamaret de Genebra em vez de um Chianti italiano importado.

Os vinhos produzidos na Suíça ainda lideram o mercado doméstico, sendo responsáveis por 37% do consumo em 2022. Mas a maior porcentagem da bebida ainda é importada, principalmente da Itália (24%), França (14%) e Espanha (11%). E esses concorrentes poderosos são vistos como uma ameaça: só a Itália gasta CHF 18 milhões por ano para colocar seus vinhos na Suíça, disse Fabio Regazzi, durante a discussão no Senado. Regazzi é um político originário do cantão do Ticino – um dos pequenos estados federativos da Suíça –, importante polo de produção de vinhos.

Na mesma sessão, outros políticos argumentaram que a falta de proteção e subsídios para a vinicultura suíça de maneira geral – mais baixa em comparação com outros setores, como o de laticínios – significa que o setor não será indevidamente favorecido pelo novo financiamento, como alegou o governo. O dinheiro é uma “mãozinha” para um setor que deverá enfrentar ainda mais pressão quando for finalizado o acordo de livre comércioLink externo com os países do Mercosul, acrescentou Carlo Sommaruga, do Senado de Genebra, outra importante região vinícola.

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Cenário preocupa na Suíça

No entanto, a “crescente concorrência” dos vinhos importados mencionada por Ragazzi  também é relativa. Nos últimos 30 anos, a participação do vinho suíço no mercado interno de fato caiu de 44% para 37%, de acordo com estatísticas do governoLink externo. Mas a queda não foi causada pelo crescimento de concorrentes estrangeiros: no mesmo período, o consumo de vinho importado permaneceu razoavelmente estável.

Existe uma tendência geral de sobriedade crescendo na sociedade, que acaba sendo esquecida quando o debate se restringe à disputa entre produção doméstica versus  importação. Em 1993, os sete milhões de habitantes suíços consumiam 300 milhões de litros de vinho de todas as origens; em 2022, com uma população de quase nove milhões, o consumo caiu para 236 milhões de litros. Os suíços continuam sendo um dos maiores consumidores de vinho do mundo, mas estão reduzindo suas doses – e isso está afetando desproporcionalmente os produtores locais.

Quais razões estão por trás do declínio na vinicultura suíça? O site “Vitisphere” ressalta as dificuldadesLink externo topográficas  enfrentadas pelos vinicultores do pequeno e montanhoso país. Além das difíceis condições de plantio, as flutuações anuais na produção causadas pelo clima (como o fracasso na safra de 2021) também dificultam a competitividade em relação aos produtores rivais de grande porte. O preço do vinho suíço também acaba ficando mais alto, como resultado do tamanho comparativamente menor do setor.

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Não está claro se o aumento no financiamento aprovado no Senado pode mudar todo esse cenário. A organização Swiss Wine Promotion (SWP), que é a beneficiária final dos 9 milhões de francos suíços aprovados no Senado, agora tem como objetivo conseguir uma participação de mercado de pelo menos 40% para os vinhos suíços. Para isso, fará várias campanhas: organização de eventos em regiões vinícolas, especialmente na época da colheita; promoção de marketing direto com varejistas e restaurantes; e valorização de marca, ressaltando as características naturais locais e artesanais dos vinhos suíços. “Uma produção de vinho em escala humana”, como resume a SWP.

No entanto, a meta não é simples como, por exemplo, fazer com que as pessoas bebam mais vinhos – o que inclusive seria difícil de vender do ponto de vista da saúde pública – ressaltou Marianne Maret, parlamentar do Senado que vem do cantão do Valais, outro estado suíço com uma importante região vinícola. Segundo ela, o objetivo é transferir para os vinhos suíços parte da demanda já existente, beneficiando a economia local e o meio ambiente. Menos vinhos da região francesa do Vale do Loire, e mais vinhos da região suíça do Baixo Valais, defende.

Na contramão da tendência suíça, os produtores de vinho do Brasil vêm crescendo e ganhando maior relevância no mercado internacional. Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), os vinhos e espumantes brasileiros estão ganhando maior entrada junto a consumidores domésticos e estrangeiros. O Brasil, que se tornou o maior produtor de espumantes da América Latina, vem sendo mais reconhecido no exterior com vinhos de qualidade aprovados pela crítica e por concursos internacionais, aponta a agência. Entre 2022 e 2023, o Brasil teve recorde nas vendas externas desses produtos, segundo a Apex.

O crescimento na relevância dos vinhos nacionais no Brasil foi também acompanhado por uma diminuição em dados gerais de importação do produto, no país. O ano de 2022 terminou com redução de 6,2% no volume de vinhos importados e retração de 4,2% em valor no país, segundo dados da Ideal Consulting. No entanto, houve um crescimento nas importações de vinhos portugueses pelo Brasil, em 2023.

Dados da ViniPortugal indicam que em 2023 o país europeu aumentou suas exportações de vinhos para o país latino-americano. Em paralelo, as vendas diminuíram para outros países como EUA e Canadá. Portugal fechou o ano de 2023 alcançando crescimento em suas exportações graças ao aumento verificado em outros mercados, como o brasileiro, segundo apontou o presidente da ViniPortugal.

Já a França, segundo maior produtor global de vinhos, tem sofrido com a queda no consumo causada pela crescente tendência de sobriedade, em situação similar à que ocorre na Suíça. No ano passado, o governo francês e a União Europeia direcionaram 200 milhões de euros para apoiar os produtores de vinho do país que estavam com problemas para lidar com a queda nos preços e a diminuição da procura.

Em 2023, o consumo de vinhos caiu cerca de 7% na Itália, 10% na Espanha, 15% na França, 22% na Alemanha e 34% em Portugal – segundo dados da UE. As exportações de vinho do bloco europeu também foram 8,5% inferiores às do ano passado, entre os primeiros meses do ano anterior.

Clarissa Levy

Produto de consumo nacional

Para os leitores fora da Suíça, que provavelmente nunca viram uma garrafa de Valais Fendant em seu supermercado local, também não está claro se o aumento do financiamento mudará alguma coisa. O vinho suíço é geralmente consumido apenas na Suíça e as exportações representam apenas 1% da produção. “Os suíços preferem guardar seu vinho para beberem em casa”, aponta a MySwitzerland, organização que cuida do turismo Link externono país.

Questionada se planeja tentar expandir o consumo externo nesse momento, a SWP declarou que já direciona 10% de seu orçamento para promover vendas internacionais. No entanto, apenas “produtos com alto valor agregado” ou “marcas registradas fortes” são lançados no exterior, onde o vinho suíço continua a ser visto como o “tesouro escondido” do país alpino.

Para Chandra Kurt, especialista em vinhos que mora em Zurique – e é “embaixadora” do vinho nacional nos escritórios suíços em todo o mundo – seria um avanço aumentar as exportações como uma forma de compartilhar a “diversidade e a qualidade” das garrafas suíças, que “deveriam estar na carta de vinhos de restaurantes em todo o mundo”. Mas como “o consumo no país ainda é forte e nós produzimos mais ou menos metade do que bebemos, qualquer incursão no exterior será limitada”, diz ela.

Em última análise, diz Kurt, o vinho suíço “sempre será de nicho e um tipo de vinho de boutique com disponibilidade limitada, mas com o apelo de ter sido produzido em um ambiente alpino e saudável”.

O Parlamento também aprovou em março uma “reserva climática” para o setor vitivinícola suíço, com o objetivo de conceder mais flexibilidade nas cotas anuais de produção. A ideia é que os vinicultores possam ocasionalmente aumentar sua produção para estarem preparados para os anos em que alterações no clima afetem as colheitas e esgotem os estoques. Em entrevista ao jornal Le Temps, o presidente da associação de vinicultores do cantão de Valais disse que a reserva climática também poderia ajudar o setor a aumentar sua participação no mercado: “Em anos de colheita ruim, os consumidores não bebem menos vinho”, disse Yvan Aymon. “Em vez disso, eles recorrem a alternativas estrangeiras”.

Edição: Reto Gysi von Wartburg/fh
(Adaptação: Clarissa Levy)

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