“Queria me envolver e realizar algo grandioso”
Monika Ribar abriu mão de “muitas coisas” para construir sua carreira. Embora se oponha às cotas para mulheres em órgãos de gestão, ela acredita que as mentalidades ainda precisam mudar para promover a paridade no mundo do trabalho.
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Poucas mulheres na Suíça fizeram uma carreira comparável à de Monika Ribar, a atual presidente do conselho de administração da Companhia Ferroviária Suíça ( SBBLink externo, na sigla em alemão). E isso é ainda mais verdadeiro porque ela subiu por seus próprios méritos, galgando uma série de degraus operacionais, sem pertencer a uma grande família proprietária ou estar envolvida no mundo dos negócios. Entrevista com esta mulher excepcional nos escritórios da SBB em Zurique.
swissinfo.ch: A senhora está satisfeita com a paridade entre homens e mulheres no seio da SBB?
Monika Ribar: A situação atual não é ruim e tem melhorado, mas eu nunca posso estar completamente satisfeita, pois é uma tarefa interminável. No que diz respeito ao conselho de administração, já temos quatro mulheres entre nove membros; por outro lado, na diretoria, temos apenas duas mulheres entre nove membros. Mas o essencial é que nunca consideramos indispensável recrutar uma mulher se ela não possuísse todas as competências exigidas.
swissinfo.ch: E quanto ao conjunto das suas colaboradoras e colaboradores, essa melhoria se reflete nos números?
M.R.: Certamente. Em 2008, tínhamos 13,9% de mulheres, contra 19% atuais, apesar do fato de que uma boa parte de nossos trabalhos são muito físicos, mais adequados aos homens. No que diz respeito aos cargos de chefia, passamos de 7,6% de mulheres para 16% durante o mesmo período.
Nascida em 1959, Monika Ribar é formada em Economia e Gestão Empresarial pela Universidade de St. Gallen.
Após um início de carreira nas empresas Fides Group (atualmente KPMG Suíça) e BASF Group, Monika Ribar ingressou na Panalpina em 1991. No grupo de logística de Basileia, ela ocupou vários cargos de liderança, inclusive o de diretora de informações (CIO) e diretora de finanças (Group CFO), e foi diretora-executiva entre 2006 e 2013.
Tornou-se administradora profissional em 2014, e preside o conselho de administração da SBB desde 2016. Ela também é administradora da Sika e integrou os conselhos de administração da Chain IQ Group AG, Logitech, Swiss International Airlines, Julius Bär, Rexel e Lufthansa.
swissinfo.ch: E quanto à leiLink externo que incentiva as empresas listadas a terem pelo menos 30% (respectivamente 20%) de mulheres em seu conselho administrativo (respectivamente em sua direção)?
M.R.: Não sou a favor das cotas femininas nem, de modo mais geral, da ideia de resolver tudo com leis. Para mim, o mais importante é que as empresas estejam convencidas do valor agregado das mulheres. Nos conselhos de administração, por exemplo, as mulheres podem realmente trazer um tom novo. Eu incentivo, aliás, as empresas a terem pelo menos duas administradoras, pois isso lhes dá uma certa segurança e as encoraja a se expressarem mais.
swissinfo.ch: A princípio, essa lei era vista como um simples incentivo, mas tornou-se quase obrigatória devido à pressão dos investidores ou até mesmo dos clientes.
M.R.: É precisamente por essa razão que sou contra a legislação excessiva, porque a pressão do mercado geralmente tem muito mais impacto sobre as empresas, sejam elas listadas ou não.
swissinfo.ch: Nas grandes empresas sediadas na Suíça, a maioria das administradoras são estrangeiras. Isso é uma vantagem ou um problema?
M.R.: É uma vantagem em termos de diversidade, mas lamentável para a economia suíça. A esse respeito, observo que havia apenas um administrador suíço no Credit Suisse, além do presidente. A composição de um conselho administrativo é importante; para uma empresa suíça como a SBB, é fundamental ter uma forte proporção de membros suíços. Mas também gostaria de enfatizar um ponto positivo: as mulheres suíças que atualmente são membros de comitês de gestão se tornarão automaticamente candidatas a cargos de administradoras.
swissinfo.ch: Alguns estudos acadêmicos indicam que um percentual elevado de mulheres em cargos de liderança está associado a um desempenho superior. Qual é a sua opinião sobre isso?
M.R.: Com base na minha experiência, equipes mistas são mais capazes de tomar boas decisões, o que conduz a melhores resultados. A vantagem da diversidade nas equipes de liderança é que ela força cada um a confrontar suas ideias com as dos outros.
swissinfo.ch: A diversidade se limita à paridade de gênero?
M.R.: Não, ela abrange todas as dimensões da diversidade humana, incluindo experiências profissionais e internacionais, bem como, no contexto da SBB, as regiões linguísticas de origem. Além disso, é essencial que alguns membros de um conselho de administração dominem perfeitamente os detalhes operacionais; ao mesmo tempo, é igualmente importante que outros membros, menos familiarizados com esses detalhes, não hesitem em fazer perguntas inesperadas.
swissinfo.ch: De acordo com o “Global Gender Gap Report 2024Link externo” do Fórum Econômico Mundial (WEF), serão necessários 134 anos para alcançar a paridade de gênero ao ritmo atual de progresso. Por que essa lentidão?
M.R.: Isso não me surpreende. Em 80% dos países, as mulheres fundamentalmente não são consideradas iguais aos homens. Em alguns casos, elas nem sequer têm acesso à educação ou não podem escolher seus maridos. Tudo isso se deve mais a comportamentos sociais do que à legislação. Nos Estados Unidos, por exemplo, a proibição do aborto ainda é um tema de discussão.
swissinfo.ch: Segundo o mesmo relatório do WEF, a Suíça ocupa a 20ª posição entre 146 países. O que a senhora acha dessa classificação?
M.R.: A Suíça começou de uma posição muito baixa. Foi somente em 1971 que as mulheres conquistaram o direito ao voto. Até 1988, as mulheres casadas não tinham sequer o direito de trabalhar sem o consentimento do marido. O trabalho das mulheres era mal-visto e, em parte, ainda é, porque a sociedade ainda está formatada para que os homens trabalhem e as mulheres fiquem em casa. Felizmente, a Suíça realizou progressos significativos, embora lentos, especialmente em termos de mentalidade.
“As empresas precisam aprender a levar mais em conta as pessoas que interrompem a carreira”
swissinfo.ch: Ainda segundo este relatório do WEF, uma fraqueza-chave da Suíça (99ª posição) é a renda estimada do trabalho (“estimated earned income”). Como a senhora explica isso?
M.R.: Não há nada de surpreendente nisso, uma vez que, na Suíça, muitas mulheres trabalham em tempo parcial ou nem trabalham. Ou então elas trabalham, mas por remunerações baixas ou inexistentes. No final, a riqueza da Suíça permite que muitas mulheres casadas não sejam obrigadas a contribuir para a renda familiar, ao contrário do que é uma necessidade vital em muitos outros países.
swissinfo.ch: O que a senhora recomendaria para melhorar a paridade entre homens e mulheres e a diversidade?
M.R.: Penso principalmente em mudanças sociais. Por exemplo, as empresas precisam aprender a valorizar melhor as pessoas cujo currículo inclui interrupções de carreira, geralmente devido a licenças de maternidade ou paternidade de três a seis anos. Além disso, embora eu seja liberal, sou a favor de auxílios estatais, principalmente para compensar o custo e a falta de creches. A implementação da tributação individual também é um outro imperativo.
No que diz respeito à SBB, nossos colegas podem trabalhar em casa ou em meio período. Também oferecemos cursos destinados a mulheres ou homens sobre a retomada da atividade após uma interrupção de carreira. Todas essas iniciativas nos renderam várias distinções como empregador.
swissinfo.ch: As mulheres que seguem carreira muitas vezes são ativas em organizações profissionais exclusivas para mulheres. Isso é uma boa ideia?
M.R.: Para construir uma carreira, o networking é essencial. No entanto, esse networking não precisa necessariamente ocorrer dentro de organizações exclusivamente femininas, como o Círculo Suíço de AdministradorasLink externo ou o The BoardroomLink externo.
Além disso, o networking dentro da própria empresa é fundamental; durante minha carreira executiva, me dediquei intensamente a isso, o que me permitiu fazer com que minha personalidade fosse conhecida. Cheguei até a frequentar um clube com meus colegas masculinos.
Durante essas atividades de networking interno, eu era quase sempre a única mulher: acho uma pena que minhas colegas precisassem ir imediatamente para casa a fim de cuidar dos filhos, sem ter a oportunidade de tomar um drinque com outros funcionários.
swissinfo.ch: Que outros conselhos a senhora daria às jovens mulheres que querem seguir carreira?
M.R.: A maioria dos meus conselhos não é específica de gênero. O mais importante é fazer aquilo que se faz com prazer, porque se faz melhor e esse é o melhor caminho para construir uma carreira. Também é necessário ter uma confiança saudável em si mesma e, sobretudo, uma forte determinação. Por fim, é importante ser autêntica, curiosa e não hesitar ou ter vergonha em se aproximar das pessoas.
Nunca planejei me tornar diretor-executivo da Panalpina ou presidente da SBB, mas eu queria muito me envolver e realizar algo grandioso. Para isso, estava disposta a renunciar a muitas coisas. Por exemplo, durante minha carreira executiva, simplesmente não tive a oportunidade de almoçar ou ir ao cinema com meu marido durante a semana.
Não decidi não ter filhos, mas isso acabou acontecendo assim. A maternidade, aliás, nunca me fez falta, e estou convencida de que nunca teria conseguido a carreira que tive se tivesse tido filhos. Mesmo hoje, isso ainda seria extremamente difícil.
Edição: Samuel Jaberg
Adaptação: Karleno Bocarro
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