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Sistemas de ensino suíços são segregatórios

Cursos de integração para crianças estrangeiras na Basiléia. Keystone

O estilo da educação e a origem dos pais são decisivos para o futuro dos filhos, aponta um estudo do Fundo Nacional Suíço. Mas também o sistema de ensino pode levar à exclusão social.

Em entrevista à swissinfo, Franz Schultheis, co-autor da pesquisa, fala do “fatalismo educacional” dos portugueses e pede mais estímulos à educação dos filhos dos imigrantes.

A infância e a juventude na Suíça, em grande parte, são caracterizadas por condições de desigualdade, mais até do que em outros países europeus, acrescenta.

O relatório sobre Infância e Juventude na Suíça (NFP 52) do Fundo Nacional Suíço mostra relações até agora pouco estudadas entre as condições do lar, o estilo de educação dos pais e o desenvolvimento de competências que as crianças e os jovens precisam para vencer na vida.

swissinfo: O estudo apenas confirma o fato conhecido de que a discriminação social é repassada às crianças?

Franz Schultheis: Existem discriminações sociais na Suíça – e elas atingem um considerável número de crianças. Isso não é novo, mas nova é a síntese dessas conclusões a partir de dados e números.

O senhor também propõe medidas concretas?

Partindo da discriminação de fato, que é reforçada pela migração, conclui-se que é preciso começar cedo com a educação pré-escolar, e isso a baixíssimos custos para os pais. Com isso, se combate as deficiências de crianças com pais menos privilegiados. Portanto, bons jardins de infância e pré-escolar, se possível, já a partir do 3° ou 4° ano de vida.

Isso é politicamente controverso. O senhor tem outras sugestões explosivas?

Sim, a diminuição da segregação social no sistema de ensino, que desde cedo marginaliza os desfavorecidos.

Muitos querem fomentar principalmente os mais talentosos. Mas os relatórios Pisa (Programa Internacional de Avaliação Comparada) mostram que sistemas de ensino segregatórios não só levam à exclusão precoce, como também influenciam negativamente o desempenho do sistema de ensino como um todo.

Os sistemas com boas notas no Pisa são socialmente menos segregatórios e permitem uma decisão sobre o rumo a ser tomado pelo aluno mais para o final da fase escolar, como acontece na Escandinávia.

Os sistemas de ensino suíços têm efeitos bastante segregatórios. Isso causa uma relativa situação de emergência educacional porque o potencial de muitas crianças não é aproveitado.

Há mais dados sobre as desigualdades nos países vizinhos?

Essas conclusões são confirmadas de forma análoga também para a Alemanha e a França. Os talentosos podem ser um pouco desfavorecidos em sistemas menos segregatórios. Mas o Estado não deveria se preocupar tanto com os filhos das classes privilegiadas quanto com os dos desfavorecidos.

Como é a situação da segunda geração de imigrantes? Há diferenças culturais ou étnicas?

Há até grandes diferenças. Os descendentes de italianos conseguiram se adaptar bem. Entre os outros, a falta de formação dos pais é transmitida para os filhos. Na Suíça francesa, principalmente os portugueses são atingidos; na Suíça alemã, os imigrantes dos Bálcãs. Esses dois grupos estão longe de alcançar o nível de formação dos imigrantes italianos de segunda geração.

A que se deve isso?

Quanto à integração social, nem todas as populações são igualmente bem-vindas. Além disso, há disposições culturais mais favoráveis à integração. Entrevistas qualitativas mostram que, em muitas famílias portuguesas, há um fatalismo educacional. Um desses modelos diz: já basta que nossa filha se torne secretária.

Isso não é uma questão privada?

Não. Se uma criança precisa de fomento e tem capacidades, não se deve deixar essa decisão simplesmente para os pais. Isso seria comparável a uma abolição do sistema de ensino público. Com a igualdade de oportunidades, o sistema de ensino deve levar todas as crianças o mais longe possível.

Mas esse problema já houve com as meninas suíças há 40 anos.

Exatamente. Mas isso mudou radicalmente. Hoje as meninas ultrapassaram os meninos. As meninas conseguiram isso porque houve uma mudança de mentalidade, acompanhada por um fomento ativo nas escolas. O mesmo princípio precisa ser adotado agora em relação às camadas não tão bem posicionadas em termos financeiros e culturais.

Pais que nunca viram um ginásio por dentro têm preconceitos e não podem ajudar seus filhos. Eles precisam de ajuda. Não se deve abandoná-los a si mesmos ou deixá-los à mercê de suas famílias. Isso resulta em muitas desigualdades de oportunidades.

Entrevista swissinfo: Alexander Künzle

O sociólogo Franz Schultheis é discípulo do conhecido sociólogo francês Pierre Bourdieu.

Como Bourdieu, também Schultheis dedica-se há anos à pesquisa das desigualdades sociais.

Schultheis é professor da Universidade de St-Gallen, mas já lecionou também em Genebra, Neuchâtel e Paris.

O relatório sobre „Infância e Juventude na Suíça” conclui o Programa Nacional de Pesquisas (NFP 52).

Na Suíça, 80% das cerca de 1,4 milhão de crianças vivem com os pais; 44% das de 6 anos e 20% dos jovens com 15 anos têm uma educação severa no lar.

Segundo o estudo, promissora é uma educação com muito apoio, pouca pressão e pouco castigo, bem como com uma boa relação emocional entre os pais e a criança. Nesses casos, o desempenho escolar foi melhor e a competência social maior.

Uma educação indiferente ou somente exigente leva muitos jovens a considerar sua vida sem sentido, concluíram os pesquisadores.

No total, 29 projetos de pesquisa interdisciplinar fizeram parte do NFP 52 sobre “Infância, Juventude e Relações entre Gerações”, financiado pelo Fundo Nacional Suíço desde 2000.

O projeto custou 12 milhões de francos.

Impulsos do NFP 52 para a agenda política foram publicados em junho de 2007.

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