Trump diz que presidente ucraniano está pronto para negociar paz com a Rússia

afp_tickers

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na terça-feira (4) que seu homólogo da Ucrânia, Volodimir Zelensky, comunicou que está preparado para iniciar negociações de paz com a Rússia e concluir um acordo com Washington sobre os minerais do país, apesar da recente discussão entre os dois na Casa Branca.

“Recebi uma importante carta do presidente Zelensky da Ucrânia. A carta diz: Ucrânia está preparada para sentar-se à mesa de negociações o mais rápido possível para alcançar uma paz duradoura. Ninguém quer mais a paz do que os ucranianos”, disse Trump em um discurso no Congresso.

“Ele disse: ‘Minha equipe e eu estamos dispostos a trabalhar sob a firme liderança do presidente Trump para alcançar uma paz duradoura. Realmente valorizamos o quanto os Estados Unidos têm feito para ajudar a Ucrânia a manter sua soberania e independência'”, acrescentou.

Trump fez referência ao tema algumas horas após Zelensky propor uma trégua com a Rússia que interrompa os ataques aéreos e marítimos, além de conversas sobre “uma paz duradoura”.

Zelensky também afirmou estar disposto a firmar um acordo sobre a exploração dos recursos naturais ucranianos pelos Estados Unidos.

Em Moscou, o Kremlin afirmou que avalia de maneira positiva o avanço. 

“Esta abordagem é globalmente positiva, mas há nuances”, declarou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, antes de recordar que Zelensky já assinou um decreto que descarta negociações diretas com seu homólogo russo, Vladimir Putin.

O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, convidou os líderes dos Estados Unidos, Ucrânia e Rússia para a capital do país, Minsk, que seria a sede das negociações de paz.

– “Pausa” na ajuda militar –

A carta de Zelensky foi revelada um dia após Washington anunciar uma pausa na ajuda militar à Ucrânia.

Em seu discurso diário, o presidente ucraniano afirmou que pediu “informações oficiais” sobre a interrupção da ajuda e disse que “Ucrânia e Estados Unidos merecem um diálogo respeitoso e uma posição clara”.

“Minha equipe e eu estamos dispostos a trabalhar sob a liderança do presidente Trump para conseguir uma paz duradoura”, publicou o presidente ucraniano um pouco antes, na rede social X, assegurando que queria “consertar as coisas” após a discussão acalorada de sexta-feira.

“As primeiras etapas poderiam ser a libertação de prisioneiros e uma trégua no céu, [com] proibição de mísseis, drones de longo alcance, bombas contra infraestruturas” civis, sobretudo energéticas, e “uma trégua no mar imediatamente, se a Rússia fizer o mesmo”, indicou o presidente ucraniano.

Também insistiu que a Ucrânia “agradece” aos Estados Unidos por sua ajuda militar, em uma aparente resposta às acusações de ingratidão que Trump e seu vice-presidente JD Vance apresentaram contra ele durante a acalorada discussão de sexta-feira em sua reunião na Casa Branca.

– Mobilização europeia –

Mas com a aparente aproximação de Trump de Moscou, a Ucrânia também está conversando com seus parceiros europeus sobre “as opções” para substituir a crucial ajuda militar dos Estados Unidos, afirmou na terça-feira um assessor da presidência ucraniana, Mikhaylo Podoliak.

No mesmo dia a União Europeia (UE) lançou um plano de rearmamento dos seus membros que poderia mobilizar até 800 bilhões de euros (4,9 trilhões de reais) para a Defesa.

“A Europa enfrenta um perigo claro e imediato de uma magnitude que nenhum de nós jamais conheceu em nossa vida adulta”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em carta aos líderes dos 27 países-membros. O projeto será analisado nesta semana, durante uma reunião de cúpula europeia focada na Ucrânia e na segurança da Europa.

O futuro chefe de governo da Alemanha, Friedrich Merz, anunciou que seu país destinará um pacote adicional de 3 bilhões de euros em ajuda militar à Ucrânia. 

O chefe de Governo britânico, Keir Starmer, manifestou sua vontade de diálogo com os Estados Unidos, seus “parceiros europeus” e Kiev. “Ninguém quer mais a paz do que a Ucrânia”, afirmou uma porta-voz do gabinete de Starmer. 

– ‘Facada nas costas’ –

Os Estados Unidos têm sido o maior doador financeiro e militar da Ucrânia desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro de 2022. Desde então, Washington, sob o comando do democrata Joe Biden, forneceu inúmeros equipamentos potentes e modernos, incluindo sistemas antiaéreos Patriot, para permitir que a Ucrânia se proteja do bombardeio russo.

De acordo com o Departamento de Estado, Washington forneceu 65,9 bilhões de dólares (385 bilhões de reais) em ajuda militar à Ucrânia desde a invasão.

Mas nas poucas semanas desde a chegada de Trump ao poder, a posição de Washington em relação à guerra se inverteu completamente. 

“Estamos fazendo uma pausa e revisando nossa ajuda para termos a garantia de que vai contribuir para uma solução”, afirmou na segunda-feira um funcionário americano que pediu anonimato.

“O presidente deixou claro que está focado na paz. Precisamos que nossos parceiros também se comprometam com esse objetivo”, frisou.

Em uma avenida de Kiev, Sofia, uma ucraniana de 33 anos, mostrou-se indignada com a decisão dos Estados Unidos, que descreveu como uma “facada nas costas”.

“A Rússia não conseguiu tomar Kiev, mas tomou Washington rapidamente”, opinou, por sua vez, Bojena Antoniak, redatora em uma editora ucraniana. 

bur-lb/eml/pt/bds/avl-pc-jvb/mb/dd/rpr-lb/fp/aa