Um ano após ataques, chefes de Poderes e cúpula militar participam de ato para relembrar 8 de janeiro
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) – Os chefe dos Três Poderes, a cúpula das Forças Armadas, governadores e outras autoridades participarão nesta segunda-feira de um ato no Congresso Nacional para marcar o primeiro aniversário dos ataques golpistas perpetrados por bolsonaristas radicais ao Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Intitulado “Democracia Inabalada”, o evento deverá contar com a presença de cerca de 500 convidados, com a previsão de discursos de Lula, do presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e dos presidentes do STF, Luís Roberto Barroso, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que seria um dos oradores, não vai participar por problemas de saúde na família em Alagoas, segundo a assessoria do parlamentar, acrescentando que ele avisou a Lula.
A ministra aposentada do STF Rosa Weber, que presidia a corte na época dos ataques, também vai participar da solenidade. O prédio do STF foi o alvo da maior depredação durante os ataques, após seguidos anos de críticas do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Supremo.
Todos os governadores foram convidados, mas alguns deles — de oposição ou críticos ao governo Lula — não devem comparecer.
O aniversário de um ano dos ataques ocorre em um cenário político bem diferente daquele 8 de janeiro de 2023, o domingo seguinte à posse de Lula para o terceiro mandato presidencial.
Bolsonaro, que estava nos Estados Unidos quando dos atos, responde, entre outras investigações, a inquérito no Supremo sob suspeita de ter sido o mentor intelectual dos atos golpistas — o que ele nega. O ex-presidente também se tornou inelegível por 8 anos após condenação pelo TSE no ano passado.
A cúpula da segurança pública do governo do Distrito Federal foi presa e houve decretação de intervenção federal temporária na área, além do afastamento temporário do governador da capital, Ibaneis Rocha (MDB), por suspeita de leniência com os golpistas. Já de volta ao cargo, o governador está de férias e não vai participar da solenidade.
Cerca de 2 mil pessoas foram presas pelos atos de vandalismo e já houve casos de condenação pelo STF pelos crimes de tentativa de abolição do Estado de Direito. A maioria dos investigados, no momento, está em liberdade.
As investigações sobre executores, financiadores e mentores seguem e são conduzidas pela Polícia Federal. O envolvimento de militares no episódio, inclusive aqueles de alta patente, também está sendo apurado.
ACAMPAMENTOS
Os milhares de pessoas que depredaram os prédios dos Três Poderes estavam acampados desde a vitória de Lula no segundo turno eleitoral nas imediações do quartel-general do Exército em Brasília e, após os atos criminosos, parte voltou para lá.
Os militares chegaram a impedir o cumprimento de ordens de prisão dos invasores que retornaram ao QG e só permitiram a detenção na manhã seguinte. Há a suspeita de que pessoas ligadas a militares teriam fugido do local.
Em entrevista ao jornal O Globo, Alexandre de Moraes — que conduz os inquéritos e processos sobre o caso e que era tido como um dos principais alvo dos atos golpistas — revelou que um dos planos seria enforcá-lo em plena Praça dos Três Poderes.
“O terceiro (plano), de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes. Para sentir o nível de agressividade e ódio dessas pessoas, que não sabem diferenciar a pessoa física da instituição.
Na rede social X, antigo Twitter, Lula disse que o aniversário do 8 de janeiro “marca um ano que a resiliência da democracia brasileira foi severamente testada”.
“Impulsionados por mentiras e desinformação, quebraram janelas, destruíram objetos históricos e obras de arte, enquanto transmitiam seus atos pela internet. Exibiam desprezo pela democracia similar ao dos invasores do Capitólio nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021”, disse.
“Felizmente, a tentativa de golpe fracassou. A sociedade brasileira rechaçou as invasões e, durante o último ano, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Poder Executivo dedicaram esforços para esclarecer os fatos e responsabilizar os invasores”, ressaltou.
Parlamentares de oposição protestaram contra a realização do ato desta segunda-feira. Cerca de 30 senadores já lançaram um manifesto em que acusam Lula de omissão no 8 de janeiro. O deputado Marco Feliciano (PL-SP), expoente entre os evangélicos e um dos principais aliados de Bolsonaro no Congresso, criticou a cerimônia.
“Não será o dia da democracia inabalada, será o dia do escárnio”, protestou ele, para quem “centenas de patriotas inocentes” foram presos indevidamente.
Apesar das queixas da reclamação, uma pesquisa Genial/Quaest divulgada no domingo aponta que 89% dos entrevistados desaprovam as invasões do 8 de janeiro ante a 6% que aprovam — os demais não souberam ou não opinaram. O índice de desaprovação é elevadíssimo, embora em fevereiro, no mês seguinte aos atos violentos, os percentuais favoráveis e contrários eram, respectivamente, 94% e 4%.
Ao todo, em dezembro havia um empate técnico entre os entrevistados que disseram que Bolsonaro teve algum tipo de influência no 8 de janeiro contra os que não concordam: 47% e 43% os percentuais. Em fevereiro do ano passado, era de 51% que falam da influência de Bolsonaro e 38% que discordam. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.