Como a Suíça combate eventos climáticos extremos
A Suíça vem se esforçando para criar proteções contra inundações desde 2005, quando a "enchente do século" alagou partes do país, deixando sete mortos e danos da ordem de três bilhões de francos.
Você acha esse tema interessante e gostaria de receber uma seleção do nosso melhor conteúdo diretamente no seu endereço e-mail? Assine nosso boletim informativo clicando AQUI.
Bilhões de francos foram investidos desde então no reforço das proteções contra enchentes. Mais recursos estão sendo investidos em soluções, incluindo uma promessa de um bilhão de francos para proteger o Vale do Reno entre a Suíça e a Áustria nas próximas três décadas.
Entretanto, ficou mais uma vez evidente que tais medidas não foram eficazes para evitar uma morte e danos em grande escala nos últimos dias.
As proteções contra inundações na Suíça estão à altura das necessidades? Considerando apenas os escombros que ficaram no sul do país nos últimos dias, a resposta é claramente um “não”.
Zermatt, a popular cidade turística, ficou isolada pelas inundações, enquanto chuvas fortes causaram um deslizamento de terra no Vale Misox, nos Grisões, deixando pelo menos uma pessoa morta e destruindo parte de uma rodovia.
As operações de seis usinas hidrelétricas no sudeste da Suíça também ficaram comprometidas em função das condições climáticas severas.
Apesar dos problemas recentes, Andreas Zischg, hidrólogo da Universidade de Berna, insiste que “as proteções contra enchentes são de fato adequadas”.
“Entretanto, nos últimos anos, notamos que elas estão chegando constantemente no limite”, afirmou o especialista ao jornal NZZ am Sonntag.
Então, por que tantos danos?
Especialistas afirmam que, embora as proteções contra inundações possam minimizar o risco de danos, a natureza sempre dará provas de ser uma força mais poderosa e imprevisível do que muros de concreto, canais ou modelos de previsão meteorológica.
“Sabíamos que o lado sul dos Alpes seria afetado, mas é sempre difícil prever exatamente quais regiões serão atingidas por tempestades”, afirmou o meteorologista Simon Eschle à emissora pública suíça SRF.
O hidrólogo Frédéric Jordan declarou à RTS que o momento das últimas enchentes surpreendeu. “Nos últimos 100 anos, inundações pesadas ocorreram normalmente entre agosto e outubro”, afirma.
As regiões próximas dos Alpes são particularmente vulneráveis, visto que a precipitação desce as montanhas com muita força, levando detritos, como troncos, ao longo do caminho.
Além disso, as chuvas persistentes das últimas semanas já haviam saturado o solo, fazendo com que ele não consiga mais absorver a água das chuvas.
“Os rios pequenos representam o maior risco para a vida e a integridade física das pessoas, porque reagem mais rapidamente [a chuvas fortes] e o nível da água pode subir muito subitamente”, explica Zischg.
Culpa é das mudanças climáticas?
A recente inundação na Suíça está “muito provavelmente” ligada ao aumento das temperaturas, diz Jordan.
“Não podemos dizer com certeza se os acontecimentos atuais sofrem influência das mudanças climáticas”, diz Zischg. “Mas os modelos climáticos levam em conta que mais água pode ser armazenada pela atmosfera enquanto ela se aquece e que, portanto, é possível que haja uma precipitação mais intensa”, completa.
“Quando há um número maior de chuvas fortes, devemos também esperar mais inundações”, acrescenta o hidrólogo.
Isso é respaldado por um alto número de dados científicos globais, incluindo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que aponta como a mudança climática afeta o ciclo hidrológico – a circulação contínua de água entre a Terra, os oceanos e a atmosfera.
Mas o aquecimento do ar é apenas parte do problema, declarou o engenheiro civil Christian Eichler em março.
Mostrar mais
Inundações nas cidades se tornam uma questão prioritária para a Suíça
Segundo ele, o crescimento populacional exige mais edificações, cidades maiores e uma rede de transporte mais extensa, cobrindo o solo que absorve a chuva.
“A agricultura mais intensiva, o aumento da mecanização e o maquinário mais pesado estão tornando os solos mais compactos e reduzindo o importante efeito ‘esponja’ das chamadas superfícies permeáveis”, acrescentou Eichler.
O que pode ser feito para eliminar esse problema?
Cientistas reivindicam que os sistemas de prevenção de enchentes acompanhem com maior rapidez as mudanças de situação.
“O sistema atual, que evoluiu nos últimos 30 anos, baseia-se em mapas de uso da terra e riscos potenciais, alguns deles elaborados há 20 ou 30 anos”, observa Jordan. Daquela época para cá, a paisagem mudou, tendo havido o desaparecimento de algumas pequenas comunidades e a expansão de outras.
Zischg quer que os mapas de risco de inundação envolvam com maior atenção os rios menores, como os que recentemente transbordaram nos cantões de Valais e dos Grisões.
Pesquisadores de universidades suíças também estão trabalhando em modelos de computador, como o Mobilar Lab for Natural Risks, da Universidade de Berna, para entender melhor os fenômenos naturais e aqueles artificialmente construídos, que causam danos rápidos e de alta intensidade, como os observados no sul da Suíça nos últimos dias.
“Pela primeira vez, os danos potenciais causados por enchentes podem ser identificados visualmente em toda a Suíça – até no nível dos bairros”, explicou Zischg em março.
“Essas informações podem ser usadas por equipes locais de comando civil, companhias de seguros, empresas de logística e outros, para ajudar na comunicação de riscos, no treinamento e no planejamento em nível operacional”, concluiu o especialista.
Edição: Marc Leutenegger/ts
Adpatação: Soraia Vilela
Mostrar mais
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.